Percorrer a blogosfera dita de
esquerda é um exercício em frustração idêntico ao desfolhar dos jornais
portugueses. Verifica-se uma prevalência da palavra “alternativa”, como se
esta, escrita em suficiente número, constituísse uma proposta em si própria. Ao
lado da “alternativa” convive o insulto, como se caixas de comentários de
jornais online se constituíssem em blogs organizados, substituindo um saudável
maldizer crítico pela verborreia de superioridade, a que dispensa explicar
“alternativas” em prol da redução ao absurdo do “animal feroz”, cujo discurso
é, em si mesmo, a narrativa. Digamos que as semelhanças com a violência
doméstica são apenas embaraçosas. Talvez a “alternativa” seja, para estas
pessoas – a quem chamarei pessoas e não “gentinha” – o próprio insulto. Tudo
bem, tem várias vantagens: é gratuito, não aumenta despesa, contraria a
narrativa da ditadura e demonstra que a percepção de liberdade dos “verdadeiros
democratas” é incompatível com a liberdade dos outros.
Pessoalmente, vejo com bons olhos
a “alternativa” política no insulto: demonstra maior aptidão para a valorização
do vernáculo em detrimento da disciplina aritmética, documenta o demérito do
eduquês e reafirma a convicção que as máquinas de calcular são dispensáveis no
domínio da matemática transcendental.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias,
09-05-2013
Adenda: é desfolhar e não folhear porque é impossível folhear um
jornal sem arrancar as folhas.
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