Valdemar Habitzreuter
É interessante as várias
formas de filosofias de vida e religiões que surgiram e se estabeleceram ao
longo da História da humanidade, hoje conhecidas e estudadas graças aos
registros escritos, e para muitos vividas. Todas revelam que, de alguma forma
ou outra, o ser humano se preocupava de como agir na vida para usufruí-la com
sentido e sentir-se feliz.
Não é por menos que essa
preocupação só é inerente ao ser humano pelo simples fato de possuir
inteligência. É esta que joga o homem/mulher num dilema existencial
perguntando-se: o que faço da vida? Qual o propósito da vida? Por que, afinal,
existo? Questões que repercutem desde sempre e seus ecos perdem-se num grande
silêncio. Nem ao menos o homem sabe absolutamente o que é a vida, sua origem e,
muito menos, o que fazer dela ou por quê vivê-la desta ou daquela forma.
Tudo culpa da inteligência,
pois. Ou melhor dizendo, a evolução criadora engendrou um ser vivo com
capacidade de raciocínio, e eis que esse ser amedrontou-se com essa faculdade
de pensar, pois a vida apresentou-se lhe com espanto, enigmas e desafios a
enfrentar. Os outros seres vivos irracionais não têm essa preocupação, não
estão nem aí para a vida, basta-lhes vivê-la...
Pobre criatura inteligente!
Não teria sido melhor se a evolução da vida tivesse prosseguido em sua marcha
criadora sem o aparecimento da inteligência no macaco? Bom, é uma pergunta
imbecil feita por alguém que tem inteligência. Nunca saberíamos o que seria do
planeta terra, é claro, já que não estaríamos aqui para presenciar refletindo
sobre isso. Mas, imaginemo-nos isto: um mundo sem criaturas inteligentes... Seria
o quê? Uma maravilha?... Um caos?... Natureza, com certeza, não estaria
sofrendo o aviltamento ora perpetrado por nós seres inteligentes.
A verdade é que a inteligência
trouxe ao homem pavor. A inteligência lhe trouxe a questão da morte, por
exemplo. Os seres vivos morrem, observou o homem. Isto é apavorante. Isto o
homem não quer para si. Isto para ele não tem sentido, é ignóbil. E procura uma
solução. Está aí toda a problemática desse ser inteligente: ele quer ser
imortal. E o que fazer para isso? Nada a fazer, para muitos, a não ser elaborar
formas de vida de como vivê-la bem e feliz aqui e agora...
Assim, surgiram muitas formas
de filosofias de vida e uma delas é o cinismo. É uma palavra de origem grega
que faz referência à natureza canina. Sim, se observarmos a vida dos cães sem
dono, soltos por aí pelas ruas, verificamos que perambulam por todos os cantos
sem se importunar com seu bem-estar físico ou ter um lugar fixo onde ficar,
contanto que achem alguma comida para sobreviver. Mas sabem ser valentes, ágeis
e, por vezes, mordazes quando são afugentados e importunados. A Natureza se
encarrega de proteger esta vida de cão.
Assim se portavam os cínicos
(considerados cães) na antiguidade, aproximadamente no sec. III A. C. Sua
filosofia de vida baseava-se no anticonformismo social, político e religioso.
Seu único objetivo era ser leal à Natureza, confiando em sua proteção e meios
para viver. Praticavam o ascetismo e viviam apenas com o necessário,
desprezando o supérfluo e adotando uma autêntica vida natural, desprezando as
convenções sociais, que consideravam hipocrisia.
Diógenes, como é reportado na
História, é o símbolo dessa filosofia cínica. Tinha um tonel como abrigo e
vivia em praças públicas de Atenas, pregando austeridade e exortava a todos da
ilusão de se levar uma vida nababesca, de se apegar às coisas materiais, e que
os desejos pelas necessidades supérfluas os levava à situação de escravos e,
dessa forma, envolviam-se em amarras e não conseguiam vislumbrar a verdadeira
liberdade que conduz à felicidade. Só a ‘vida de cão’ em conformidade com a
Natureza é liberdade e, consequentemente traz uma vida feliz. É neste sentido
que Diógenes procurava com sua lanterna o verdadeiro homem nas ruas de Atenas,
seguidor de sua verdadeira natureza humana integrada ao todo da Natureza
universal.
Mas, por outro lado, vê-se o
fenômeno da religião. O homem não se conformava com o seu fim com a morte e
insistia em querer ser imortal e procurava uma solução para isso. Eis que,
então, aventa a seguinte estratégia: Posso muito bem, pela inteligência,
elaborar a ideia de um ser incorpóreo imortal, fora deste mundo passageiro.
Sim, pensou ele, um tal ser, que não é afetado pelo tempo e espaço, só pode ser
imortal. É isso, exclamou com júbilo, é uma ideia poderosa que pode ser minha
tábua de salvação, pensou ele. Dito e feito: agarrou-se a essa ideia como real
(Platão?) e, assim, criou seu deus ou super-ser imortal que o protegerá e
iluminará nesta vida para viver na esperança de uma vida imortal e ser um dia
acolhido neste mundo atemporal e fora de dimensões espaciais de seu deus – um
paraíso de vida eterna reservado para os seres inteligentes.
Esta ideia aliviou o homem a
não temer tão agudamente a morte e os perigos da vida. Tinha doravante um Ser
protetor e garantidor de sua imortalidade. Mas para isso estabeleceu normas de
conduta de vida para agradar ao seu deus e, assim, realmente, merecer a
imortalidade feliz junto a ele. Assim surgiram as diversas religiões. O homem
inquieto e temeroso quer paz e tranquilidade nesta vida e que continue após a
morte.
Não resta dúvida que a
inteligência humana revolucionou o modus vivendi da humanidade...
Então: Vida de cão ou
religião?... O que me diz, caro Rochinha de opiniões rochosas?...
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 9-7-2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-