sexta-feira, 10 de julho de 2015

A escolha é sua: Vida de cão como filosofia de vida... ou Religião para uma vida eterna...

Valdemar Habitzreuter
É interessante as várias formas de filosofias de vida e religiões que surgiram e se estabeleceram ao longo da História da humanidade, hoje conhecidas e estudadas graças aos registros escritos, e para muitos vividas. Todas revelam que, de alguma forma ou outra, o ser humano se preocupava de como agir na vida para usufruí-la com sentido e sentir-se feliz.



Não é por menos que essa preocupação só é inerente ao ser humano pelo simples fato de possuir inteligência. É esta que joga o homem/mulher num dilema existencial perguntando-se: o que faço da vida? Qual o propósito da vida? Por que, afinal, existo? Questões que repercutem desde sempre e seus ecos perdem-se num grande silêncio. Nem ao menos o homem sabe absolutamente o que é a vida, sua origem e, muito menos, o que fazer dela ou por quê vivê-la desta ou daquela forma.

Tudo culpa da inteligência, pois. Ou melhor dizendo, a evolução criadora engendrou um ser vivo com capacidade de raciocínio, e eis que esse ser amedrontou-se com essa faculdade de pensar, pois a vida apresentou-se lhe com espanto, enigmas e desafios a enfrentar. Os outros seres vivos irracionais não têm essa preocupação, não estão nem aí para a vida, basta-lhes vivê-la...

Pobre criatura inteligente! Não teria sido melhor se a evolução da vida tivesse prosseguido em sua marcha criadora sem o aparecimento da inteligência no macaco? Bom, é uma pergunta imbecil feita por alguém que tem inteligência. Nunca saberíamos o que seria do planeta terra, é claro, já que não estaríamos aqui para presenciar refletindo sobre isso. Mas, imaginemo-nos isto: um mundo sem criaturas inteligentes... Seria o quê? Uma maravilha?... Um caos?... Natureza, com certeza, não estaria sofrendo o aviltamento ora perpetrado por nós seres inteligentes.

A verdade é que a inteligência trouxe ao homem pavor. A inteligência lhe trouxe a questão da morte, por exemplo. Os seres vivos morrem, observou o homem. Isto é apavorante. Isto o homem não quer para si. Isto para ele não tem sentido, é ignóbil. E procura uma solução. Está aí toda a problemática desse ser inteligente: ele quer ser imortal. E o que fazer para isso? Nada a fazer, para muitos, a não ser elaborar formas de vida de como vivê-la bem e feliz aqui e agora...

Assim, surgiram muitas formas de filosofias de vida e uma delas é o cinismo. É uma palavra de origem grega que faz referência à natureza canina. Sim, se observarmos a vida dos cães sem dono, soltos por aí pelas ruas, verificamos que perambulam por todos os cantos sem se importunar com seu bem-estar físico ou ter um lugar fixo onde ficar, contanto que achem alguma comida para sobreviver. Mas sabem ser valentes, ágeis e, por vezes, mordazes quando são afugentados e importunados. A Natureza se encarrega de proteger esta vida de cão.

Assim se portavam os cínicos (considerados cães) na antiguidade, aproximadamente no sec. III A. C. Sua filosofia de vida baseava-se no anticonformismo social, político e religioso. Seu único objetivo era ser leal à Natureza, confiando em sua proteção e meios para viver. Praticavam o ascetismo e viviam apenas com o necessário, desprezando o supérfluo e adotando uma autêntica vida natural, desprezando as convenções sociais, que consideravam hipocrisia.

Diógenes, como é reportado na História, é o símbolo dessa filosofia cínica. Tinha um tonel como abrigo e vivia em praças públicas de Atenas, pregando austeridade e exortava a todos da ilusão de se levar uma vida nababesca, de se apegar às coisas materiais, e que os desejos pelas necessidades supérfluas os levava à situação de escravos e, dessa forma, envolviam-se em amarras e não conseguiam vislumbrar a verdadeira liberdade que conduz à felicidade. Só a ‘vida de cão’ em conformidade com a Natureza é liberdade e, consequentemente traz uma vida feliz. É neste sentido que Diógenes procurava com sua lanterna o verdadeiro homem nas ruas de Atenas, seguidor de sua verdadeira natureza humana integrada ao todo da Natureza universal.

Mas, por outro lado, vê-se o fenômeno da religião. O homem não se conformava com o seu fim com a morte e insistia em querer ser imortal e procurava uma solução para isso. Eis que, então, aventa a seguinte estratégia: Posso muito bem, pela inteligência, elaborar a ideia de um ser incorpóreo imortal, fora deste mundo passageiro. Sim, pensou ele, um tal ser, que não é afetado pelo tempo e espaço, só pode ser imortal. É isso, exclamou com júbilo, é uma ideia poderosa que pode ser minha tábua de salvação, pensou ele. Dito e feito: agarrou-se a essa ideia como real (Platão?) e, assim, criou seu deus ou super-ser imortal que o protegerá e iluminará nesta vida para viver na esperança de uma vida imortal e ser um dia acolhido neste mundo atemporal e fora de dimensões espaciais de seu deus – um paraíso de vida eterna reservado para os seres inteligentes. 

Esta ideia aliviou o homem a não temer tão agudamente a morte e os perigos da vida. Tinha doravante um Ser protetor e garantidor de sua imortalidade. Mas para isso estabeleceu normas de conduta de vida para agradar ao seu deus e, assim, realmente, merecer a imortalidade feliz junto a ele. Assim surgiram as diversas religiões. O homem inquieto e temeroso quer paz e tranquilidade nesta vida e que continue após a morte.

Não resta dúvida que a inteligência humana revolucionou o modus vivendi da humanidade...

Então: Vida de cão ou religião?... O que me diz, caro Rochinha de opiniões rochosas?... 
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 9-7-2015

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