Vital Moreira
Na democracia à Syriza
brinca-se aos referendos e com os cidadãos como simples instrumento de
manipulação política.
1. Em mais uma das suas
tiradas demagógicas, o conspícuo ex-ministro das finanças grego veio declarar
que, se o governo Syriza tivesse tido êxito na sua estratégia, a Grécia teria
dado uma lição a outros países da zona euro como Portugal, Espanha, etc.
O problema é que a estratégia
política do Syriza era desde o início uma receita para o desastre, como se
provou nas últimas semanas, e falhou porque até agora nenhum país descobriu
como viver indefinidamente à custa do défice e do endividamento, ou seja, à
custa alheia, especialmente quanto à demagogia política se soma a incompetência
económica.
O Governo Syriza paralisou as
reformas que começavam a dar frutos e reverteu algumas delas. A economia entrou
de novo em recessão. O investimento estrangeiro fugiu, as receitas públicas
retrocederam e as contas reentraram em défice. Milhares de milhões de euros
fugiram dos bancos; entrou-se em emergência financeira com controlo de capitais
e limitação de levantamentos. E, por último, a Grécia falhou um pagamento do
FMI, o que nunca tinha sucedido com um país europeu.
Com isto tudo as necessidades
de financiamento e de assistência financeira externa do país aumentaram
substancialmente.
Há seis meses, o Syriza
prometia o fim da austeridade e a bem-aventurança económica. Agora, mais pobre,
a Grécia é obrigada a pedir um terceiro resgate, ficando
"intervencionada" por mais três anos e sujeita a mais austeridade
orçamental.
Sim, com o Syriza a Grécia
acabou por dar uma lição edificante aos demais países da zona euro. Mas a lição
é justamente o contrário da pretendida, ou seja, a de que a na moeda única há
regras a cumprir e que não se pode ter mais orçamento do que a economia
permite.
2. Além dos enormes custos
económicos e financeiros, a desastrada aventura Syriza também teve também
pesados custos políticos para a Grécia.
Um deles foi o descrédito da
democracia. Poucos dias depois de rotundo "não" no referendo
precipitadamente convocado, o Governo grego já estava a propor aos credores
condições idênticas às rejeitadas, acabando por negociar um acordo ainda mais
duro. O "não" do referendo foi transformado rapidamente num
"sim", sem que o governo tivesse sentido necessidade de se demitir ou
ao menos de renovar a sua legitimidade parlamentar. Na democracia à Syriza
brinca-se aos referendos e com os cidadãos como simples instrumento de
manipulação política.
Mas o preço maior é a perda de
confiança e de credibilidade externa da Grécia, que vai demorar muito tempo a
recuperar.
Só a irresponsabilidade
política e a falta de seriedade negocial do governo Syriza é que podem
justificar que os credores tenham exigido a aprovação prévia de legislação em
Atenas para só depois fechar o acordo, bem como a constituição de um fundo
independente de ativos de privatizações para, entre outras coisas,
recapitalizar os bancos gregos. Nenhum outro país sujeito a assistência
financeira teve de se submeter a estas comprometedoras garantias preventivas.
Esta é a segunda lição a tirar
da Grécia: o esquerdismo político paga-se muito caro. Na oposição o radicalismo
de esquerda só pode ser um protesto ruidoso; no governo pode ser um pesadelo.
Título e Texto: Vital Moreira, Deputado Socialista ao
Parlamento Europeu, Diário Económico, 16-7-2015
Grifos: JP
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