Maria Teixeira Alves

Para os líderes gregos, uns
rapazes que estão inebriados com os holofotes do mundo, esta situação dá-lhes a
força negocial que o dinheiro, que não têm, não lhes dá. Por isso desafiam
permanentemente os líderes do Eurogrupo. Quando tudo está à beira do colapso,
Tsipras ainda atiça mais os gregos contra as medidas de austeridade e apela ao
voto do Não no referendo de domingo. Para mostrar quem manda ali. Os gregos
querem ficar no euro, mas se não lhes fazem a vontade votam em referendo contra
a Europa.
Pedro Passos Coelho
confidenciou um dia que se fosse Alexis Tsipras estaria preocupadíssimo, porque
não há dinheiro nos bancos, nem nos cofres do Estado grego para pagar salários
da função pública, para pagar pensões, para já não falar em pagar aos credores.
O problema é que com quase 200% da dívida pública sobre o PIB, a Grécia não
consegue pagar, não consegue produzir (não exporta quase nada) e precisa de
dinheiro. Portanto o que a Grécia quer é ser subsidiada pelos credores
europeus, mas continuar com a sua irreverência, para não perder o charme.
Mas consta, que ao contrário
dos credores ricos, e dos credores que têm cofres cheios, o primeiro-ministro
grego não está preocupado. Todos estão preocupados com a Grécia menos Tsipras e
Varoufakis. Quando hoje Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças da Alemanha,
revelou que tinha pena do povo grego era disso que falava, dessa irreverência
irresponsável dos seus governantes. Evidentemente que todos esperam um novo
perdão de dívida à Grécia. Mas o problema é que a Grécia quer que lhe emprestem
mais, mas para voltar a não pagar. De hair-cut em hair-cut até ao infinito. A
Grécia nunca mais será autónoma financeiramente. Nunca mais voltará aos
mercados, acreditem.
Mas o mais engraçado de tudo
isto é ver que paradoxalmente a Grécia tem um dom raro: que é o de cativar a
simpatia e a caridade. O mistério da emocionalidade. Não que a emocionalidade
não seja provocada por interesses egoístas, que é, mas a Grécia tem o dom que
algumas pessoas têm e outras não conseguem ter, que é o de inspirar a caridade,
de inspirar a simpatia, de inspirar o amor. Não tem nada a ver com a razão.
Muitas vezes quem tem razão não inspira o amor e não o consegue cativar. Mesmo
que esteja certo e faça tudo bem.
As emoções (que nem sempre
nascem de nobres actos) são um mistério insondável.
Todos querem ajudar a Grécia.
Então assistimos a um fenómeno curioso: pessoas em todo o mundo estão a mandar
dinheiro para a Grécia. Mesmo que nos seus próprios países se revoltem cada vez
que os seus governos lhes peçam dinheiro (em impostos e taxas) para ajudar o
país a pagar as suas próprias dívidas aos seus credores. Mas a Grécia tem este
dom, que não se explica. Qualquer líder se transforma num Che Guevara, e todos
se apaixonam pela Grécia, que é um país pouco cumpridor e cheio de manhas. Até
os credores cedem ao charme dos gregos. Não há país que tenha recebido tanta
tolerância dos credores europeus como a Grécia, tanta benevolência. E perante
tudo isto não pagam e querem mais dinheiro. Por seu turno os parceiros
europeus, que é quem menos se devia preocupar, tentam a todo o custo manter a
Grécia no euro. Vá lá a gente perceber isto.
Portugal não tem essa sorte.
Ninguém se apaixona por Portugal e a caridade não nos bate à porta, A Irlanda
não tem essa sorte. Não cativa o amor que os Gregos cativam.
Noutros pontos do globo, a
Islândia não cativou simpatias do mundo quando foi à falência.
Mas os gregos sim, todos
querem tirar os gregos do sufoco que os próprios criaram, eles sabem disso e
tiram disso vantagem.
Lucky Bastards!
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