segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Os anos "Sem Nome"

José Manuel
Na década de 70, apareceu aqui no país, mais precisamente no Rio de Janeiro, uma empresa familiar que fabricava um sorvete de ótima qualidade.

Tinha um nome como marca, que remetia sonoro-visualmente a uma grande indústria que detinha o monopólio desse produto alimentar.

Tanto fez essa grande indústria que conseguiu judicialmente, que a micro se desfizesse da marca com que tinha nascido. Como resposta, a micro-empresa se relançou com a marca  "Sem Nome".



É claro que foi um sucesso de vendas pois atingiu não só aquele público que gostava dos seus produtos, como também a sensibilidade e a admiração dos consumidores, porque afinal a luta era desigual de um gigante contra um inseto.

Portanto, a grande marca, praticamente deu um estrondoso "tiro no pé" ao tomar aquela atitude.

Mal sabia essa microempresa, que ao rebatizar a sua marca estava vaticinando o que viria a ocorrer nas futuras quatro décadas de anonimatos disfuncionais.

Depois os italianos chegaram, compraram a grande e faliram a pequena, ficamos Sem Nome e Sem Sorvete. Agora, ficamos novamente Sem Nome e Sem Suco, pois a brasileiríssima Maguary, foi comprada pela Britânica Britvic.


E assim vamos ficando Sem Nome e Sem Nada, rolando ladeira abaixo em crescimento negativo de menos 1,2%. Só no mês de julho, no Rio de Janeiro, 1 280 lojas comerciais ficaram Sem Nome, fechando as suas portas.

Na última semana, as agências de qualificação de risco Standard & Poors, e a Moody's rebaixaram a nota brasileira de estável, para negativa, ou seja, ficamos agora, definitivamente, com o nome sujo e Sem Nome na praça.

O país continua com bravatas governamentais a fabricar o nada. Todos os dias são bravatas e mais bravatas que obviamente não tem mais respaldo nenhum da população, pois quem não tem nome a zelar, quem não se respeita, quem não dá exemplo, se eclipsa e, portanto Sem Nome.

Por exemplo, o Executivo não se entende com o Legislativo, que por sua vez não se entende com o primeiro, e os dois não se entendem com o Judiciário. Isso tem nome?

Não, pois uma política que vive em confronto consigo mesmo, desrespeitando as próprias instituições, é praticamente um lugar Sem Nome. Um país onde milhares de cidadãos se vestem de vermelho, agitam bandeiras vermelhas, desconhecendo o seu pavilhão nacional, acaba virando um país Sem Nome, Sem Caráter, Sem Cultura, Sem Tradições, Sem Teto, Sem Justiça, Sem Terra, Sem Escolas, Sem Hospitais, Sem Empregos, Sem Cidadania, Sem Tudo.

Que nome, por exemplo, daríamos a um país em que o Judiciário emite um mandado judicial de pagamento de alimentos aos idosos do Aerus, o Executivo cria uma firula despropositada para postergar ao máximo esse pagamento a pessoas idosas, e joga para o Legislativo, que não está nem aí, pois a disputa política que praticam é e será sempre mais forte do que a fome de cidadãos, mesmo que esses cidadãos Sem Dinheiro e Sem Saúde estejam com mandados judiciais.

Será que vai ser necessário novamente que idosos, façam greves de fome, durmam no chão de aeroportos ou do Congresso com os seus canudos judiciais e parcas esmolas de um ou de outro parlamentar honesto e simpatizante da nossa causa? Será que o país quer mesmo mostrar isso outra vez ao mundo? Se quiser, nós fazemos tudo de novo.

Não tem nome para isso, ou será que não seria por exemplo o país do Nunca Neverland o país do Engodo Lureland, o país da Fantasia Fantasyland, o país da Brincadeira Playland, enfim uma grande e pretensa Disneylandia fracassada, pois nas brincadeiras não há futuro por aqui, porque até para brincar o povo corre para Miami.

São nove anos vivendo em uma situação Sem Nome, em que a justiça é jogada no limbo acintosamente. E infelizmente, ainda por cima, uma parcela dos participantes do Aerus, atores também frustrados nessa pantomima governamental acham que atitudes como recorrer a tribunais internacionais como estamos fazendo agora, vai acarretar perdas disso ou daquilo.

Isso parece mais um espetáculo de picadeiro em um circo falido, mas sempre frequentado porque as entradas são de graça, e os artistas apesar de vestir as mesmas fantasias, de ter os mesmos narizes, também nada mais são do mesmo, Sem Nome.

Como no exemplo da grande industria de sorvete, um estrondoso "tiro no pé" será com toda a certeza se não nos nos mexermos enquanto pudermos e enquanto é tempo.




Título e Texto: José Manuel, com nome e matrícula, apesar do nariz, 10-8-2015 
Autorizada a publicação desde que seja na íntegra e observada a sua propriedade intelectual.

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Um comentário:

  1. Não conheço muito bem a História dessa marca de Sorvete, mas fui copeiro em uma de suas filiais. porém Lembro de uma frase do Proprietário Luiz Fernando. que dizia. Não to Rico mas vou ficar, se não ficar é uma injustiça...

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