sábado, 8 de janeiro de 2022

[Versos de través] Balada do Rio Douro

Pedro Homem de Mello

Que diz além, além entre montanhas,  
O rio Doiro à tarde, quando passa?
Não há canções mais fundas, mais estranhas,
Que as desse rio estreito de água baça!...

Que diz ao vê-lo o rosto da cidade?
Ó ruas torturadas e compridas,
Que diz ao vê-lo o rosto da cidade
Onde as veias são ruas com mil vidas?...

Em seus olhos de pedra tão escuros
Que diz ao vê-lo a Sé, quase sombria?
E a tão negra muralha à luz do dia?
E as ameias partidas sobre os muros?

Vergam-se os arcos gastos da Ribeira...
Que triste e rouca a voz dos mercadores!...
Chegam barcos exaustos da fronteira
De velas velhas, já multicolores...

Sinos, caixões, mendigos, regimentos,
Mancham de luto o vulto da cidade..
Que diz o rio além? Por que não há-de
Trazer ao burgo novos pensamentos?

Que diz o rio além? Ávido, um grito
Surge, por trás das aparências calmas...
E o rio passa torturado, aflito,
Sulcando sempre o seu perfil nas almas!...

Pedro Homem de Mello

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