Tanto o nazismo como o marxismo
compartilharam o desejo de remodelar toda a humanidade de cima para baixo
Rodrigo Constantino
Pode existir um partido nazista numa democracia? E um partido comunista? Essas questões estão na ordem do dia e cabe uma reflexão mais profunda aqui, para fugir do “debate” tribal das redes sociais. O primeiro ponto a ser abordado é o argumento libertário de que não pode haver qualquer restrição à liberdade de expressão, logo, essa ideologia prega o direito de grupos se organizarem para defender as maiores atrocidades e bizarrices.
Quem defende essa posição não
está necessariamente endossando cada uma dessas bizarrices, claro, mas, sim, o
direito de néscios pregarem estultices, por mais ofensivas que sejam. É um
posicionamento que encontra algum espaço na trajetória do liberalismo mais
radical, por excesso de medo da censura e do controle. Esses libertários
entendem que essa postura vai permitir todo tipo de ideia abjeta no debate
público, mas o receio que sentem de abrir exceções e, com isso, delegarem ao
Estado o poder de definir o que é ou não permitido supera a preocupação com a
circulação dessas ideias nefastas.
Além disso, alguns argumentam
que é melhor deixar as ideias nefastas circularem livremente para combatê-las,
em vez de mantê-las à sombra com o charme do tabu proibido. Ou seja, traga toda
podridão à luz que assim será mais fácil expor a podridão e rebater as
ideologias totalitárias. É um ponto de vista a ser colocado, sem dúvida, apesar
de eu não concordar muito com ele. E vale notar que, nos Estados Unidos, existe
um partido nazista. Como existe um partido comunista também.
Acredito, porém, que numa
democracia alguma restrição será necessária, apesar de compreender o risco
desse precedente. Basta ver como tem até jornalista querendo equiparar nazismo
à crítica de vacinas contra a covid-19, para justificar, com essa comparação
esdrúxula, a censura aos comentários “anticientíficos”. Essa turma nem sequer
percebe que seus métodos é que se assemelham ao controle exercido por nazistas
em nome da “purificação” da sociedade e da saúde coletiva, com a qual os
seguidores de Hitler eram obcecados.
Não é compatível com uma democracia civilizada, porém, a presença de partidos que abertamente defendem extermínio, totalitarismo, medidas claramente antidemocráticas que tratam indivíduos como meios sacrificáveis. E aqui entra a segunda questão: se é para vetar nacional-socialistas, então é para vetar comunistas também? A confusão desses dias nas redes sociais suscitou esse debate, e muitos à esquerda expuseram sua incoerência. Para eles, o nazismo deve ter proibido, mas nada dizem sobre o comunismo. Isso não faz sentido. A semelhança entre ambas as ideologias genocidas é evidente historicamente falando.
“Que significa ainda a
propriedade e que significam as rendas? Para que precisamos nós socializar os
bancos e as fábricas? Nós socializamos os homens.” Quem teria dito isso? Adolf
Hitler, citado por Hermann Rauschning, em 1939. Ensinada desde os tempos de
Lênin, muitos socialistas usam a tática de acusar os opositores daquilo que
eles mesmos são ou fazem. Tudo que for contrário ao socialismo vira assim
“nazismo”, ainda que o nacional-socialismo tenha inúmeras semelhanças com o
próprio socialismo.
Tanto o nazismo como o
marxismo compartilharam o desejo de remodelar toda a humanidade de cima para
baixo. Marx defendia a “alteração dos homens em grande escala” como necessária.
Hitler pregou “a vontade de recriar a humanidade”. Qualquer pesquisa séria irá
concluir que nazistas e socialistas não eram, na prática e no ideal
coletivista, tão diferentes assim. Não obstante, para os socialistas, aquele
que não for socialista é automaticamente um “nazista”, como se ambos fossem
grandes opostos.
Assim, além de banalizar o que
foi o terror nazista, os liberais, que sempre condenaram tanto uma forma de
coletivismo como a outra, e foram alvos de perseguição dos dois regimes, acabam
sendo rotulados de “nazistas” pelos socialistas, incapazes de argumentar além
dos tolos rótulos de “extrema-esquerda” e “extrema-direita” (lembrando que,
para a imprensa esquerdista, nem existe extrema-esquerda, expressão ausente nos
jornais).
Os
liberais, entrave para ambas as ideologias coletivistas, acabam num campo de
concentração de Auschwitz ou num Gulag da Sibéria
Tal postura insensata coloca,
na cabeça dos socialistas, uma “direitista” como Margaret Thatcher mais próxima
ideologicamente de um Hitler que este de Stalin, ainda que Thatcher tenha
lutado para defender as liberdades individuais e reduzir o poder do Estado,
enquanto Hitler e Stalin foram na linha oposta. O fim da propriedade
privada de facto foi um objetivo perseguido tanto pelo nazismo
como pelo socialismo, que depositaram no Estado o poder total. O liberalismo,
em sua defesa pela liberdade individual cujo pilar básico é o direito de
propriedade privada, é radicalmente oposto tanto ao nazismo como ao socialismo,
que em muitos aspectos parecem irmãos de sangue.
A conexão ideológica entre
socialismo marxista e nacional-socialismo não é fruto de fantasia, e Hitler
mesmo leu Marx atentamente quando vivia em Munique, tendo enaltecido depois sua
influência no nazismo. Para os nazistas, os grupos eram as raças; para os
marxistas, eram as classes. Para os nazistas, o conflito era o darwinismo
social; para os marxistas, a luta de classes. Para os nazistas, os vitoriosos
predestinados eram os arianos; para os marxistas, o proletariado.
Além da justificativa direta para
o conflito, a ideologia de luta entre grupos desencadeia uma tendência perversa
a dividir as pessoas em parte do grupo e excluídos, tratando estes como menos
que humanos. O extermínio dessa “escória” passa a ser desejável, seja para o
paraíso dos proletários seja da “raça” superior. Os liberais, entrave para
ambas as ideologias coletivistas, acabam num campo de concentração de Auschwitz
ou num Gulag da Sibéria, fazendo pouca diferença na prática.
A acusação de que a Alemanha
nazista era uma forma de capitalismo não se sustenta com um mínimo de reflexão.
O “argumento” usado para tal acusação é que os meios de produção estavam em
mãos privadas na Alemanha. Mas, como o economista austríaco Mises demonstrou,
isso era verdade somente nas aparências. A propriedade era privada de
jure, mas era totalmente estatal de facto, da mesma forma que
na União Soviética. O governo não só nomeava dirigentes de empresas como
decidia o que seria produzido, em qual quantidade, por qual método e para quem
seria vendido, assim como os preços exercidos.
Para quem tem um mínimo de
conhecimento sobre os pilares de uma sociedade capitalista liberal, não é
difícil entender que o nazismo é o oposto desse modelo. Para os nazistas, assim
como para os socialistas, é o “bem comum” que importa, transformando indivíduos
de carne e osso em simples meios sacrificáveis para tal objetivo. Existem, na
verdade, vários outros pontos que podemos listar para mostrar que o nazismo e o
socialismo são muito parecidos, e não opostos como tantos acreditam. O fato de
comunistas terem entrado em guerra com nazistas nada diz que invalide tal tese,
posto que comunistas brigaram sempre entre si também, e irmãos brigam uns com
outros, ainda mais por poder.
Apesar de o liberalismo se
opor com veemência a ambos os regimes, os socialistas adoram repetir, como
autômatos, que liberais são parecidos com nazistas, apenas porque associam
erradamente nazismo a capitalismo ou “direita”. Se ao menos soubessem como é o
próprio socialismo que tanto se assemelha ao nazismo!
Em suma, se há limites numa
democracia, e creio que deva haver, então é preciso tratar nazismo e comunismo
da mesma forma, vetando ambas as ideologias da formação partidária oficial.
Entendo a sensibilidade do tema aos judeus, povo perseguido desde sempre. Vivemos
em tempo de cancelamento e asfixia da liberdade de expressão, mas deixo uma
reflexão: se você fizesse parte da minoria mais perseguida da história, e que
recentemente passou por um extermínio, ficaria mais revoltado com qualquer
suposta alusão ao regime responsável por tal extermínio. Cachorro mordido por
cobra tem medo de linguiça.
Só que isso vale para as vítimas do comunismo também. Eu estive no Museu do Holocausto em Israel e chorei. São cenas muito fortes. Mas, se as imagens do Holodomor [foto] fossem mais divulgadas, será que não haveria a mesma comoção coletiva? O comunismo é tão nefasto quanto o nazismo! E nenhum dos dois deve ter espaço numa democracia.
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, revista
Oeste, nº 99, 11-2-2022
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Comentário na foto acima:
ResponderExcluir- Com esse bigodinho de puta da zona sem mãe, você me lembra o Lula ladrão nos tempos em que ele trabalhava disfarçado de metalúrgico, na região do ABCD, em São Bernardo...
- Não vou te responder em consideração ao meu amigo Rodrigo Constantino... depois ele não fala mais de minha pessoa na Revista Oeste.
Carina Bratt
Ca
da Lagoa, no Rio de Janeiro