Padre David Francisquini
O colapso da fé que assola o mundo atual é sem dúvida o pior dos males que grassam na sociedade contemporânea. O reflexo desse flagelo não está apenas nas almas, mas nos ambientes, nos costumes e nas instituições. As pessoas sem fé vivem como se Deus não existisse, à procura desenfreada do gozo da vida, do amor irrestrito ao presente, do desprezo pelo passado e por todos os valores morais e religiosos.
Ao excluir Deus de suas
vidas, ipso facto, o homem faz da existência uma chanchada, um
carnaval, uma piada, além de outras futilidades que o fazem pular, rir, gritar,
cantar. Hoje ele tenta preencher o vazio de Deus, além do trabalho, com
automóvel, lazer, celular, vídeos de entretenimento e outros joguinhos do
gênero…
Convenhamos, tudo isso parece
moldado para fazer esquecer quão grave é a vida, diante das responsabilidades
que por sua própria natureza ela nos impõe. Quantas cabeças rolaram ao longo
dos séculos, seguidas de promessas de um mundo melhor, onde os homens seriam
autossuficientes com o auxílio da ciência e da técnica.
Estas redimiriam o homem do
trabalho, das fadigas, das doenças, resolveriam todos os seus problemas,
eliminariam a sua dor, a pobreza, a ignorância, a insegurança, enfim tudo
aquilo que chamamos de efeitos do pecado original. Cfr. Plinio Corrêa de
Oliveira in Revolução e Contrarrevolução.
Mas como os homens gostam de
ser enganados! Na medida em que eles foram abandonando a religião, os
confessionários foram desaparecendo das igrejas — o mais das vezes, ó dor,
removidos por mãos sagradas — e os consultórios psiquiátricos se multiplicando.
Por quê?! Será que as pessoas se sentiram ou se sentem frustradas pelas
promessas enganosas, e que a vida neste vale de lágrimas se lhes vai tornando
inexplicável?!
“Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar” (1 Pedro 8). Essa é a advertência do Evangelho sobre o pai da mentira. A história, em muitas de suas páginas, registrou essas ciladas com nome de renascimento, de cultura, de revolução, de guerra… a ponto de hoje mais que nunca se pode afirmar que Satanás é o príncipe deste mundo.
As armas infernais são tão
velhas como o demônio. Basta que seus agentes se apresentem faceiros com um
ramo de louro, um metal brilhante ou um prato de lentilhas para abalar a
vigilância tão apreciada por Nosso Senhor e cair no seu encanto. Mas o
desencanto vem a galope com as aflições de espírito, transformando as pessoas
em joguete, em escravo preso às suas garras… Logo elas, que venderam a alma na
ilusão de ser livres!
Não se pode por outro lado
negar que diante do esforço revolucionário e luciferino para levar os homens à
apostasia venha surgindo uma sadia reação, sem dúvida uma ação da graça, que
toca o fundo dos corações. As missas tradicionais, por exemplo, vão se
multiplicando com muitos dos bons hábitos e costumes de outrora.
Posta esta introdução,
passemos aos fatos. A pequena assistência espiritual prestada por sacerdotes
aos enfermos, de modo especial aos atacados pela COVID, vem se tornando mais
crítica em razão de uma campanha para cercear o atendimento de pessoas nos hospitais,
UPAs e demais serviços ambulatoriais. O pretexto é preservar a saúde coletiva.
Afinal, não apenas da
assistência médica ampla e eficaz necessita o paciente, mas também, e de algum
modo sobretudo, da assistência espiritual, uma vez que nossos corpos são
mortais, mas não a alma, cumprindo-nos por isso preservá-la de se perder
eternamente.
É perplexitante nesse sentido
considerar que a CNBB cuida quase tão-só de questões sociais e políticas,
enquanto os católicos precisam recorrer a advogados para que padres tenham o
devido acesso ao leito de pessoas enfermas para salvaguardar seus direitos
previstos diante de Deus, direitos esses garantidos pela legislação federal.
Aqueles que por missão divina
deveriam ser a voz que clama, o sal que salga, a luz que ilumina, quedam
silenciosos e omissos, quando não coniventes com a perseguição que sofrem os
fiéis abandonados nos hospitais e lugares correlatos sem o apoio moral e
religioso. Uma omissão de clamar aos céus!
Nada mais malfazejo para as
almas que necessitam de pão, dar-lhes pedra; que necessitam de um peixe,
dar-lhes um escorpião, para utilizar as palavras do divino Salvador nesse caso
de tanta incúria no atendimento espiritual de ovelhas que clamam pelos
pastores.
Deveriam ser eles os primeiros
a demonstrar desvelo em lutar com todos os meios lícitos a fim de que as portas
do reconforto fossem franqueadas a almas órfãs, e muitas vezes já no umbral da
morte. Seguramente a hora mais difícil da vida, o momento em que as pessoas
mais precisam de apoio espiritual e encorajamento.
Este silêncio e omissão,
sobretudo num momento como esse, só tem um nome: deslealdade para com a missão
da Igreja, da glória de Deus e da salvação das almas.
Voltarei em breve ao tema.
Título e Texto: Padre David
Francisquini, Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso
Moreira (RJ), ABIM,
11-2-2022
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