quinta-feira, 23 de junho de 2022

[Daqui e Dali] A velhice de um padre

Humberto Pinho da Silva

Conheci o Padre Faria quando participava na missa da Igreja de Santo Ildefonso, no Porto.

Era sacerdote afável e idoso. Queixava-se, algumas vezes, nas homilias, da sua doença: as pernas não lhe permitiam estar muito tempo sem as descansar.

Um dia, despediu-se dos paroquianos e dos fiéis habituais da sua Igreja. Deixou parte da biblioteca, espalhada sobre bancos da sacristia, para quem quisesse.

Entre os livros expostos, encontrei alguns autografados pelos autores, com dedicatórias elogiosas.

Padre Faria quando era novo, foi excelente pregador e bastante solicitado para festas religiosas.

Foi substituído por ótimo sacerdote, culto e dinâmico, que muito beneficiou a igreja, realizando obras urgentes.

Decorrido meses, falando com paroquiano, fiquei a conhecer o triste destino do sacerdote.

Devido à idade já não tinha muitos parentes próximos. Acomodou-se, como pôde, na sua terra natal, mantendo a dignidade como sacerdote.

Mas quantos, chegando à velhice, não encontram o repouso e o sossego que merecem?

Se há padres que vivem folgadamente, outros passam-na em dificuldade, e nada conseguem amealhar para o fim da vida.

Nas Igrejas Evangélicas, pelo menos algumas, o pastor recebe ordenado compensador, por vezes, bastante elevado, o que é motivo de escândalo. Serão pastores de vocação ou profissão?

– Que tosqueiam os fiéis, como dizia o bom Frei Bartolomeu dos Mártires.

Conheci pastor que, diziam – seriam as más-línguas? - que recebia, em Portugal, todos os meses, mais que o Presidente da República!

Conheci também um, que sendo professor de Educação Física, renunciou ao vencimento que tinha direito como pastor.

Mas, entre sacerdotes católicos?

É tema que pouco gostam de abordar, mas parece-me muito (bem) de ser lembrado.

Título e Texto: Humberto Pinho da Silva, junho de 2022

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Um comentário:

  1. Me lembrei de "A velhice do padre eterno, de Guerra Junqueiro.
    Carina Bratt
    Ca
    do Rio de Janeiro

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