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Ex-presidentes Fernando
Collor, Jânio Quadros e João Goulart. Foto: Montagem Revista
Oeste/Shutterstock/Wikimedia Commons |
Augusto Nunes
m trecho da Constituição
informa que só podem candidatar-se à Presidência da República brasileiros com
mais de 35 anos de idade. É pouco, adverte a saga dos três quarentões que
desocuparam o Palácio do Planalto muito antes do prazo combinado. Jânio Quadros
tinha 44 quando decidiu usar o atalho da renúncia para voltar à planície e logo
depois regressar ao ponto de partida; a esperteza não deu certo. João Goulart
tinha 42 quando foi obrigado a deixar o emprego e o país. Fernando Collor tinha
40 quando preferiu pedir demissão a aguardar a inevitável decretação do impeachment.
Os três protagonizaram
molecagens que governantes cinquentões certamente evitariam. Jânio, por
exemplo, fantasiou-se de moralista radical ao banir do território nacional
briga de galo, biquíni e lança-perfume. Jango mandou às favas a hierarquia
militar ao apoiar ostensivamente uma greve de marinheiros. Collor deu de mandar
mensagens em código com inscrições nas camisetas que realçavam o peitoral
bombado. Mas a trinca talvez escapasse da amputação do mandato se não tivesse
cometido o pecado capital do qual presidentes mais vividos fogem como o diabo
da cruz: confrontados com a crescente má vontade do Legislativo, os três
optaram pelo enfrentamento.
A “maldição dos 40” mistura inexperiência, soberba e incompetência. No dia da vitória, a euforia impediu que Jânio, Jango e Collor enxergassem o sinal vermelho aceso no Congresso: o presidente eleito não tinha o apoio da maioria dos deputados e senadores. Deveria, portanto, usar as semanas que precedem a posse para negociar espaços no ministério e no segundo escalão com partidos sensíveis a cargos e verbas. Confiantes no poder de sedução de um presidente em começo de mandato, os integrantes da trinca, que nunca haviam dado maior importância a partidos, acharam perda de tempo buscar acordos que expandissem a base parlamentar governista.
Lançado candidato pela União Democrática Nacional, Jânio venceu a eleição de 1960 graças à força do janismo — movimento muito maior que a UDN e todas as outras siglas pelas quais passou na trajetória que o levou, em 12 anos, da Câmara de Vereadores de São Paulo ao Palácio do Planalto. Cercado de velhos amigos, afastou-se dos parceiros de palanque e fez do ministério uma extensão do universo político paulista. Todas as legendas se uniram para impedi-lo de governar o país.
Jango foi fiel ao PTB, sigla
dominante nos bisonhos ministérios que nomeou. No dia da queda, mesmo
parlamentares petebistas já estavam fora do barco. Governador de Alagoas,
Collor começou o ano sonhando com a candidatura a vice-presidente na chapa do
PSDB, liderada por Mário Covas. Animado com o desempenho nas pesquisas
eleitorais, deixou a tribo dos tucanos para fundar uma esquisitice batizada de
Partido da Reconstrução Nacional. O PRN seria tão efêmero quanto a Era Collor.
O impetuoso caçador de marajás só pediu socorro a grandes partidos quando o
naufrágio se tornara irreversível. Seus aliados no Congresso já cabiam numa
van.
Quase 20 depois do despejo de
Collor, Dilma Rousseff provaria que a maldição dos 40 pode atingir uma
sexagenária com idade mental consideravelmente inferior à registrada na
certidão de nascimento. Entre o início de 2011 e o fim de 2014, a primeira
mulher a presidir o país não disse coisa com coisa. Fora outros assombros,
saudou a mandioca, dobrou metas que não haviam sido fixadas, até enxergou um
cachorro oculto por trás de toda criança — mas não só completou o primeiro
mandato como conseguiu ser reeleita.
A mudança dos ventos ocorreu
já na largada de Dilma 2. Antes que 2015 terminasse, a única faxineira do mundo
que não vive sem lixo por perto foi obrigada a varrer do ministério sete
corruptos juramentados. Mas a hora da agonia só chegou em 2016. Afetada por
manobras desastradas e jogadas infantis da chefe do Executivo, sua “base
parlamentar” tornou-se tão vigorosa quanto um chilique de Randolfe Rodrigues.
Com o povo nas ruas e o Congresso longe do governo, a substituição de Dilma
pelo vice Michel Temer ficou tão previsível quanto a mudança das estações.
Enquanto “atos de protesto contra o golpe” juntavam algumas dúzias de teimosos sem cura, cresciam dramaticamente multidões cuja reivindicação se condensava em duas palavras, uma vírgula e um ponto de exclamação: “Fora, Dilma!”. O impeachment foi aprovado por 367 parlamentares. Apenas 137 se opuseram ao despejo, 7 se abstiveram e 2 nem apareceram no plenário. Dilma foi defendida na tribuna por deputados do PT com o entusiasmo de orador de velório. “O Congresso sempre faz o que o povo quer, porque o instinto de sobrevivência do político é muito mais agudo que o do eleitor”, repetia o deputado gaúcho Ibsen Pinheiro, então presidente da Câmara, aos jornalistas que lhe perguntavam qual seria o desfecho do processo de impeachment contra Fernando Collor. “Todo parlamentar sabe que, quando isso acontece, contrariar o povo é suicídio.”
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São Paulo – Manifestação na
Avenida Paulista, região central da capital, contra a corrupção e pela saída da
presidenta Dilma Rousseff. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil |
Entre as acusações endereçadas
a Cunha, que presidiu a Câmara durante o processo de impeachment de
Dilma Rousseff, jamais figurou a de amadorismo político. Em tom seguro, ele
afirma que Lula não usou a engorda do primeiro escalão, de 23 para 37
ministérios, para consolidar os laços entre os participantes da multifacetada
aliança que o elegeu. “Foi a pior composição de todas as gestões do PT”,
acredita. Segundo Cunha, o partido do presidente ficou com 21
ministérios. Computados os seis distribuídos entre siglas reduzidas a
puxadinhos do PT, chega-se a 27. Feitas as contas, a soma das bancadas desses e
outros partidos contemplados com fatias do bolo “é incapaz de garantir uma
maioria sustentável no Congresso”.
“O PT sempre quis servos, não
aliados”, diz. “Alguém acha que um Ministério da Pesca vai segurar uma bancada
de 42 deputados do PSD? Esse ministério, a exemplo do que se viu no mandato de
Dilma 2, será refeito mais rápido que se imagina.” Cunha também avisa que
humilhações podem abrir feridas que não cicatrizam. “O caso de Simone Tebet foi
um exemplo. Humilhada pelos vetos a que ela ocupasse posições que o PT entendia
imprescindíveis para eles, acabou no Ministério do Planejamento. Sem qualquer
importância na gestão da economia, que ficou a cargo do Ministério da Fazenda.”
Depois de reiterar que a
performance dos responsáveis pela economia determinará o destino do governo
Lula, Cunha exala desconfiança ao prever o desempenho de Haddad. E completa o
ligeiro checkup com uma frase pouco animadora para o PT: “Lula
3 está ficando parecido com Dilma 2”.
Título e Texto: Augusto
Nunes, Revista Oeste, nº 146, 6-1-2022
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