quarta-feira, 15 de julho de 2015

Passos Coelho

José António Rodrigues Carmo

PPC não tem boa imprensa. Em Portugal, valha a verdade, só têm boa imprensa as personalidades ditas "de esquerda".
Não é difícil perceber porquê.

A hegemonia cultural que se instalou no país após o 25 de Abril, de forma sistemática instilou nas pessoas conceitos de "bem" e "mal", "certo" e "errado", "justo" e "injusto", notavelmente maniqueístas e totalmente enviesados. Simplificando, "ser de esquerda" tornou-se sinónimo de ser-se boa pessoa, ter preocupações com os outros.

Toda a gente "bem" se diz "de esquerda". E esta gente "bem" instalou-se massivamente na academia, nos media, na educação, em todos os locais estratégicos em que a opinião publicada influencia e determina a opinião pública.

Em Portugal ninguém diz, em entrevistas intimistas, que é de direita.É como dizer que se tem uma doença contagiosa, "ser de direita" é algo feio, é um furúnculo na nalga, não se mostra isso às pessoas.
Não é pois de admirar que quem é conotado à direita seja sistematicamente vilipendiado, insultado, gozado, anulado, menorizado, etc.

Vejam-se os Presidentes da República. Soares, apesar de ter feito da Presidência uma corte de apaniguados, gastando rios de dinheiro em regabofes por esse mundo fora, apesar de ter minado sistematicamente os governos que não eram da sua linha, apesar da desonestidade e mediocridade intelectual, sempre foi tratado, na opinião publicada, como um bonacheirão bondoso e alegre, boa pessoa, compincha.

Jorge Sampaio, que levou a cabo um Golpe de Estado institucional, demitindo um governo com maioria absoluta no Parlamento, que nos trouxe o governo alucinado de Sócrates,é visto como boa pessoa, sensato, compenetrado, etc.

Cavaco, por seu lado, que fez tudo para conseguir consensos, que se manteve fiel aos limites constitucionais, que foi sóbrio, que se relacionou de forma honesta com todos os governos, incluindo o de Sócrates, é, desde o início, alvo dos insultos e chacotas de toda a imprensa. O homem fala e leva. Cala, e leva. Faz, leva. Não faz, leva. O PCP organiza até manifes sistemáticas, com os seus piquetes, em qualquer lado a que o homem vai. E lá estão sempre os 10 ou 20 patrulheiros, com os mesmos cartazes e as mesmas palavras de ordem, a berrar para as televisões que, nos telejornais, passam em parangonas, o "sentir popular".

PPC?
É vítima da mesma hegemonia e não há bicho careta que não lhe atire ovos e tomates.
E contudo, é um comunicador notável, uma abissal diferença do anterior primeiro-ministro.

PPC não é hostil, não manifesta irritação, não agride o interlocutor, responde ao que lhe perguntam, articula bem as palavras e é convincente, amigável até.

Parece boa pessoa e eu penso que é mesmo boa pessoa. Já o António Costa, não parece ter essas qualidades. Não quero dizer que não as tem, não o conheço, mas a imagem que me deixa é a de uma pessoa chocarreira, intelectualmente desonesta, calculista.

Mas, helas, tem boa imprensa e por isso goza de uma muito maior liberdade de acção do que PPC que, coitado, mal abre a boca, acontece-lhe o mesmo que o Cavaco: leva!

Um exemplo? Há dias disse, en passant, quando a jornalista lhe perguntou o que tinha feito na Cimeira da UE, que tinha sugerido uma ideia que, por acaso, acabou por ser decisiva para se chegar a acordo com a Grécia.
Chamaram-lhe tudo: mentiroso, vaidoso, ridículo, etc.
Ontem o The Guardian, um jornal bem esquerdista, confirmou exactamente o que PPC disse.

Rua da Milharada, Massamá, foto: Jim Pereira

Outro exemplo?
A vida de PPC. O facto de viver em Massamá e de não ter um guarda-roupa Armani, em vez de o recomendar, como aconteceria com uma personalidade "de esquerda", tornou-se motivo de chacota.

A doença da sua mulher, em vez de suscitar respeito e comedimento, como aconteceu por exemplo com Maria Barroso, deu origem a sarcasmos e crueldades.

Em resumo, PPC é, na minha opinião, um modelo de excelência em comunicação e imagem, e só isso explica que continue à tona, num oceano mediático totalmente hostil e recheado de crocodilos.
Título e Texto: José António Rodrigues Carmo, 15-7-2015

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