José António Rodrigues Carmo
PPC não tem boa imprensa. Em
Portugal, valha a verdade, só têm boa imprensa as personalidades ditas "de
esquerda".
Não é difícil perceber porquê.
A hegemonia cultural que se
instalou no país após o 25 de Abril, de forma sistemática instilou nas pessoas
conceitos de "bem" e "mal", "certo" e
"errado", "justo" e "injusto", notavelmente
maniqueístas e totalmente enviesados. Simplificando, "ser de
esquerda" tornou-se sinónimo de ser-se boa pessoa, ter preocupações com os
outros.
Toda a gente "bem"
se diz "de esquerda". E esta gente "bem" instalou-se
massivamente na academia, nos media, na educação, em todos os locais
estratégicos em que a opinião publicada influencia e determina a opinião
pública.
Em Portugal ninguém diz, em
entrevistas intimistas, que é de direita.É como dizer que se tem uma doença
contagiosa, "ser de direita" é algo feio, é um furúnculo na nalga,
não se mostra isso às pessoas.
Não é pois de admirar que quem
é conotado à direita seja sistematicamente vilipendiado, insultado, gozado,
anulado, menorizado, etc.
Vejam-se os Presidentes da
República. Soares, apesar de ter feito da Presidência uma corte de apaniguados,
gastando rios de dinheiro em regabofes por esse mundo fora, apesar de ter
minado sistematicamente os governos que não eram da sua linha, apesar da
desonestidade e mediocridade intelectual, sempre foi tratado, na opinião
publicada, como um bonacheirão bondoso e alegre, boa pessoa, compincha.
Jorge Sampaio, que levou a
cabo um Golpe de Estado institucional, demitindo um governo com maioria
absoluta no Parlamento, que nos trouxe o governo alucinado de Sócrates,é visto
como boa pessoa, sensato, compenetrado, etc.
Cavaco, por seu lado, que fez
tudo para conseguir consensos, que se manteve fiel aos limites constitucionais,
que foi sóbrio, que se relacionou de forma honesta com todos os governos,
incluindo o de Sócrates, é, desde o início, alvo dos insultos e chacotas de
toda a imprensa. O homem fala e leva. Cala, e leva. Faz, leva. Não faz, leva. O
PCP organiza até manifes sistemáticas, com os seus piquetes, em qualquer lado a
que o homem vai. E lá estão sempre os 10 ou 20 patrulheiros, com os mesmos
cartazes e as mesmas palavras de ordem, a berrar para as televisões que, nos
telejornais, passam em parangonas, o "sentir popular".
PPC?
É vítima da mesma hegemonia e
não há bicho careta que não lhe atire ovos e tomates.
E contudo, é um comunicador
notável, uma abissal diferença do anterior primeiro-ministro.
PPC não é hostil, não
manifesta irritação, não agride o interlocutor, responde ao que lhe perguntam,
articula bem as palavras e é convincente, amigável até.
Parece boa pessoa e eu penso
que é mesmo boa pessoa. Já o António Costa, não parece ter essas qualidades.
Não quero dizer que não as tem, não o conheço, mas a imagem que me deixa é a de
uma pessoa chocarreira, intelectualmente desonesta, calculista.
Mas, helas, tem boa imprensa e
por isso goza de uma muito maior liberdade de acção do que PPC que, coitado,
mal abre a boca, acontece-lhe o mesmo que o Cavaco: leva!
Um exemplo? Há dias disse, en passant, quando a jornalista lhe
perguntou o que tinha feito na Cimeira da UE, que tinha sugerido uma ideia que,
por acaso, acabou por ser decisiva para se chegar a acordo com a Grécia.
Chamaram-lhe tudo: mentiroso,
vaidoso, ridículo, etc.
Ontem o The Guardian, um
jornal bem esquerdista, confirmou exactamente o que PPC disse.
![]() |
Rua da Milharada, Massamá, foto: Jim Pereira |
Outro exemplo?
A vida de PPC. O facto de
viver em Massamá e de não ter um guarda-roupa Armani, em vez de o recomendar,
como aconteceria com uma personalidade "de esquerda", tornou-se
motivo de chacota.
A doença da sua mulher, em vez
de suscitar respeito e comedimento, como aconteceu por exemplo com Maria
Barroso, deu origem a sarcasmos e crueldades.
Em resumo, PPC é, na minha
opinião, um modelo de excelência em comunicação e imagem, e só isso explica que
continue à tona, num oceano mediático totalmente hostil e recheado de
crocodilos.
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