segunda-feira, 2 de julho de 2012

Politização do "preconceito"

Valfrido Chaves

Todos têm juízos formados sobre dados da realidade e nos decidimos com base nessas concepções formadas anteriormente. Se a Psicologia me diz que todo ladrão mente e que quase todo mentiroso furta, eu não acredito no ladrão e me cuido contra o mentiroso, do mesmo modo que aquela conclusão da Psicologia é feita com base em observações anteriores. Ou seja, é um conceito formado antecipadamente, com base em informações verificadas.As expressões “preconceito”, “preconceituoso”, entretanto, tem como significado definir um afastamento da realidade, uma deturpação agressiva contra pessoas, grupos ou mesmo idéias, partidos ou religiões. Seria uma generalização injusta, agressiva, destrutiva e sem base na realidade e que tem como resultado a desqualificação daquele objeto do preconceito. Sabe-se que pessoas, grupos mais fechados e diferenciados são mais facilmente vítimas de preconceitos, ou seja, dos preconceituosos. Mas não há preconceito sem preconceituoso e, afinal, quem é ele? Novamente a Psicologia nos acode para dizer: seria alguém que não gosta de aspectos que tem dentro de si e usa, para se aliviar, do mecanismo de ver, depositar no outro o que, nele mesmo é indesejável, incômodo. Se o cara tem sentimentos de inferioridade, ele sempre acha alguém para definir como inferior. Hitler, por exemplo, um pintor fracassado, vítima de abusos na infância, descobriu “raças inferiores” e responsáveis pelas desgraças da Alemanha. Mas como ninguém é perfeito, geralmente quem menos se enxerga é mais useiro e vezeiro do preconceito. Imperfeitos, por melhores que sejamos, volta e meia somos preconceituosos.
Neste ponto, leitor, quero me referir ao uso político que hoje se faz da palavra “preconceito”, geralmente quando faltam argumentos àquele que, com essa palavra amaldiçoada, tenta paralisar o outro e encobrir a própria falta de argumentação. Escreveu, não leu, tome “é preconceito”. Acabamos de ver, em SP, um “exemplo exemplar”: Haddad, candidato a prefeito da maior cidade brasileira, um caldeirão de etnias e culturas, diz que as administrações do PT foram objeto de “preconceito”, razão pela qual não se mantiveram no poder. Veja, leitor, o que há por trás dessa afirmação: primeiro, a maioria dos paulistanos seria preconceituosa; segundo: o juízo crítico que alguém faz contra o PT é preconceituoso, portanto, infundado, injusto; terceiro: o juízo crítico do petista sobre quem quer que seja, paulistano ou não, não é preconceito. “É juízo crítico”. Veja leitor, como pessoas ou grupos se vêem e se colocam acima da crítica, acima do bem e do mal, verdadeiros deuses, simplesmente usando como instrumento uma palavra mágica: preconceito. Assim, uns necessitam ser preconceituosos. Outros necessitam sentirem-se deuses. Dá uma boa trela, esses dois.
Neste ponto, leitor, assumo meu preconceito: não gosto de deuses que pedem voto a um mortal comum e imperfeito como este escriba.
Título e Texto: Valfrido M. Chaves, Psicanalista

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