Valfrido Chaves
Todos têm juízos formados
sobre dados da realidade e nos decidimos com base nessas concepções formadas
anteriormente. Se a Psicologia me diz que todo ladrão mente e que quase todo
mentiroso furta, eu não acredito no ladrão e me cuido contra o mentiroso, do
mesmo modo que aquela conclusão da Psicologia é feita com base em observações
anteriores. Ou seja, é um conceito formado antecipadamente, com base em
informações verificadas.As expressões “preconceito”, “preconceituoso”,
entretanto, tem como significado definir um afastamento da realidade, uma
deturpação agressiva contra pessoas, grupos ou mesmo idéias, partidos ou
religiões. Seria uma generalização injusta, agressiva, destrutiva e sem base na
realidade e que tem como resultado a desqualificação daquele objeto do
preconceito. Sabe-se que pessoas, grupos mais fechados e diferenciados são mais
facilmente vítimas de preconceitos, ou seja, dos preconceituosos. Mas não há
preconceito sem preconceituoso e, afinal, quem é ele? Novamente a Psicologia
nos acode para dizer: seria alguém que não gosta de aspectos que tem dentro de
si e usa, para se aliviar, do mecanismo de ver, depositar no outro o que, nele
mesmo é indesejável, incômodo. Se o cara tem sentimentos de inferioridade, ele
sempre acha alguém para definir como inferior. Hitler, por exemplo, um pintor
fracassado, vítima de abusos na infância, descobriu “raças inferiores” e
responsáveis pelas desgraças da Alemanha. Mas como ninguém é perfeito,
geralmente quem menos se enxerga é mais useiro e vezeiro do preconceito.
Imperfeitos, por melhores que sejamos, volta e meia somos preconceituosos.
Neste ponto, leitor, quero me
referir ao uso político que hoje se faz da palavra “preconceito”, geralmente
quando faltam argumentos àquele que, com essa palavra amaldiçoada, tenta
paralisar o outro e encobrir a própria falta de argumentação. Escreveu, não
leu, tome “é preconceito”. Acabamos de ver, em SP, um “exemplo exemplar”:
Haddad, candidato a prefeito da maior cidade brasileira, um caldeirão de etnias
e culturas, diz que as administrações do PT foram objeto de “preconceito”,
razão pela qual não se mantiveram no poder. Veja, leitor, o que há por trás
dessa afirmação: primeiro, a maioria dos paulistanos seria preconceituosa;
segundo: o juízo crítico que alguém faz contra o PT é preconceituoso, portanto,
infundado, injusto; terceiro: o juízo crítico do petista sobre quem quer que
seja, paulistano ou não, não é preconceito. “É juízo crítico”. Veja leitor,
como pessoas ou grupos se vêem e se colocam acima da crítica, acima do bem e do
mal, verdadeiros deuses, simplesmente usando como instrumento uma palavra
mágica: preconceito. Assim, uns necessitam ser preconceituosos. Outros
necessitam sentirem-se deuses. Dá uma boa trela, esses dois.
Neste ponto, leitor, assumo
meu preconceito: não gosto de deuses que pedem voto a um mortal comum e
imperfeito como este escriba.
Título e Texto: Valfrido M. Chaves, Psicanalista
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