sábado, 7 de julho de 2012

Verdades e Mistérios

Valfrido Chaves
A luz do sol era mais clara e o tempo passeava “à espora leve”, por campinas onde o verde era mais verde. As veredas do futuro mediam léguas, enquanto as do passado estavam logo ali, “distância de um tiro de garrucha”! Mais que tudo, o mal e o bem não se misturavam. Ou se era do “bem”, ou “do mal”. Acreditávamos. Como era doce a inocência dos 18 anos, no início dos ásperos anos sessenta!
Eram férias, conhecia o Rio. Hospedava-me com parentes, em Botafogo, uma casa de vila, a terceira de cinco. A primeira delas sediava um templo, não sei que denominação religiosa. Uma tarde, chegando da rua, adentrava na vila e passava pela janela cerrada dessa casa primeira, quando o inusitado fez-me deter, curioso e mal-educado. Ouvia uma respiração ofegante, forte e, logo a seguir, uma cadeira empurrada caiu ao chão, seguido do som de um corpo, também caindo. Morbidamente, tenso, a tudo ouvia, atento.


Uma voz, rouca e irada, que parecia vir do chão, com clareza passou a enunciar: “... Eu venho para atrapalhar! Onde tem alguém fazendo alguma coisa, realizando, construindo, eu atrapalho! Eu não deixo ninguém realizar nada... Não consegui realizar o que eu queria, agora eu atrapalho, estorvo!”  A seguir, ouviu-se outra voz em tom firme, admoestador, mas suave e que dizia: “Você sofre fazendo isso, não descansa, sofre e faz os outros sofrerem! Você deve voltar para o seu lugar, de onde veio, para ter paz”. Assustado, o medo venceu minha curiosidade e abandonei meu indiscreto posto de escuta.
De acordo com as categorias conceituais que então superficialmente conhecia e aceitava, entendi que ali estava alguém “tomado por um encosto ou espirito a vagar”, o qual era então doutrinado conforme convinha, para que abandonasse sua triste, deletéria e paralisante sina. A verdade, verdade verdadeira, se alguém sabe por onde ela divaga ou campeia...  Parabéns, pois este escriba não o sabe.
Hoje, até entendo de outra forma, através da visão e conceitos psicanalíticos, supostamente racionais. Admito assim que, ali, naquela circunstância, estava uma pessoa dominada por sentimentos invejosos, tendo por triste destino paralisar e constranger aqueles a quem via empenhados em ações construtivas e auto-realizadoras que a mesma a si não se permitia. Através de uma técnica, que alguém poderia chamar de hipnose ou transe, o baú inconsciente do “atrapalhão” se abriu e “a entidade” reprimida então se expressou abertamente, à luz de nossos sentidos e perplexidade. Isso é o que entendo e que tenho hoje como verdade.
Mas a verdade, verdade verdadeira, por donde andará? Que descaminhos tomaram, em que cordilheiras, taperas e veredas se amoitaram minhas apaziguadoras certezas?  
Éramos felizes e não sabíamos, nos nebulosos anos 60!
Título e Texto: Valfrido M. Chaves, 07-07-2012

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