Pinho Cardão
Face ao débil crescimento económico,
insistem alguns na necessidade urgente de mais investimento público,
socorrendo-se de Keynes para dar suporte teórico à ideia.
Há precisamente 80 anos, na
sua Teoria Geral do Emprego, Juro e Moeda, Keynes justificava
a intervenção do Estado para moderar e contrariar os ciclos económicos.
Estava-se na Inglaterra na época subsequente à Grande Depressão, a despesa
pública andava pelos 9% do PIB, o défice não tinha significado e a dívida
pública diminuta, as economias eram protecionistas e estavam muito longe de
sofrer o impacto da globalização. Foi neste quadro que Keynes elaborou a sua
teoria, preconizando o uso de políticas monetárias (redução da taxa de juro) e
políticas fiscais, fomentadoras do investimento em infraestruturas.Todavia,
reconhecia restrições a uma aplicação global da sua teoria, pressupondo a
inelasticidade dos impostos e a dívida a partir de certo limite.
Deste modo, e seguindo o seu
pensamento, Keynes por certo reprovaria em que se utilizasse mais despesa
pública em circunstâncias de défices elevados, carga fiscal e dívida pública
nos seus limites extremos, como acontece em Portugal. Aí, os efeitos seriam
perpetuar o ciclo negativo, em vez de o amortecer ou contrariar. O caso
português, de aplicação, pelo governo de Sócrates, de políticas keynesianas
fora de tempo e de modo, é bem ilustrativo.
Que queiram repetir a dose,
mais que asneira, é ignorância crassa, delírio ou, no limite, crime
anti-económico.
Keynes foi um homem vivido,
passando por muitos ofícios, negócios e missões, ao contrário de uns tantos
keynesianeiros de hoje, saloios de biblioteca ou boys partidários que
diariamente o invocam em vão.
Título e Texto: Pinho Cardão, 4R – Quarta República, 12-9-2016
NdE: John Maynard Keynes morreu em abril de 1946, há SETENTA anos!
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