Haroldo Barboza
Conforme “convenção”
popularizada pelo saudoso Ricardo Boechat, o “estado” (qualquer entidade que
nos toma impostos e nos devolve péssimos serviços) é o nosso maior inimigo.
Regularmente observamos
nosso dinheiro patrocinando cargos sem sentido, compras sem
licitações, faturas três vezes acima do mercado e em troca, informações e
serviços em nível perto do “péssimo”. Tal cenário ocorre em função da
impunidade que possui trânsito livre dentro de nossa
sociedade, sustentada por legisladores e juristas que em mais de
60% das vezes, estão envolvidos nos desmandos que a imprensa “livre” não
consegue deixar de noticiar.
São centenas de situações
que acontecem diariamente em cada cidade, e só tomamos conhecimento de 15% que por
deixarem altos rastros, chegam ao nosso conhecimento.
Os desvios de verbas sem
cerimônia, certamente causam a elevada queda dos serviços que
cada cidadão necessita. Desde o porteiro que está correndo atrás de sua
aposentadoria há seis meses (a cada visita ao posto de atendimento, descobre
que “falta” um carimbo para que o processo não “emperre”). Na maior canalhice,
o funcionário propõe ao desprotegido uma “gorjeta” para que tudo se resolva em dez
dias úteis.
O mesmo se dá com o
empresário (que vai criar umas cem vagas de trabalho) cuja loja só
depende de um alvará para ser aberta (as demais cinquenta “exigências”
burocráticas já foram superadas). Se este corajoso cidadão
não “molhar a mão” do carimbador, a loja vai demorar mais quatro
meses para ser aberta.
Para ilustrar esta
retórica, bastam quatro exemplos de conhecimento de 90% da população carioca
(ouve rádio mais do que áudios do WA).
1 - Falta de energia em Macapá. Como pode uma empresa não ter um plano B (e um C) para contornar uma pane que pode acontecer três meses antes da data prevista para a manutenção regular? Milhares de consumidores NÃO serão ressarcidos pelos alimentos perdidos. E os poucos pacientes que conseguirem, perderão quinze viagens aos postos indicados para receberem seus valores dentro de... nove meses!
2 - CEDAE (RJ). Tratamento das águas originais (janeiro de 2020), comprometido a tal ponto que fezes são encontradas em nossas torneiras que despejam água marrom em nossas pias. Nove meses depois, falta do líquido em mais da metade dos bairros da capital. Mas os postos piratas de lavagem de carros, jorram líquido pelo asfalto.
No prédio onde moro, temos
quinze apartamentos e duas bombas de água para
revezamento. Como pode uma cidade com mais de seis milhões
de eleitores possuir três bombas e duas estarem com defeito? A grana para adquirir mais três bombas foi parar na conta de qual
“ortoridade”?
3 - DETRAN
(RJ). Um cidadão em dia com o DUDA, ao tentar
agendar uma visita (via internet) a um dos quatro postos mais próximos de
sua casa, encontra as próximas duas semanas “lotadas”. Com “sorte”,
encontra uma vaga a 45 km de distância! Com certeza, se
contactar um dos “despachantes” indicados por algum atendente, por
R$ 50,00 arruma vaga dois dias depois.
Um outro cidadão, feliz por ter encontrado uma vaga em três dias, perto de casa, ao chegar ao posto o encontra
fechado por “greve” dos terceirizados que não recebem salários há três
meses.
A greve não foi decidida
na noite anterior. Deve ter sido programada uma semana antes. E o
cidadão não recebe nem um SMS dois dias antes?
4 - Recebimento
de causa ganha. Uma advogada ganhou uma causa e seu cliente vai
receber o valor estipulado na sentença. Desta forma ele pagará pelo serviço que
a advogada lhe prestou. No dia definido (após dois meses de espera), o dinheiro
não chega à conta do beneficiado. Ela faz contato com a vara cível para buscar
o motivo da falha. Após cinco dias de demora, ela descobre que um funcionário
da vara cometeu um leve “deslize” (deve estar ganhando pouco e não se empenha
no trabalho). Solucionado o imbróglio, ela é informada que dentro de dois meses
o dinheiro
deverá estar disponível. Ué, se o erro não foi dela, por que o processo de
pagamento voltou para o final da fila?!
Querem mais dezenas de
exemplos?
Não vou gastar cinquenta
folhas aqui para exibi-los. Se você tiver trinta minutos livres por dia, em seis
semanas de pesquisas, vai acumular mais de uma centena de barbaridades
deste (e piores) porte, em qualquer cidade do país.
Tudo sob o passivo olhar
contemplativo do povo que está altamente preocupado com a data em
que as escolas de samba poderão desfilar em 2021, com a ala de bateristas
saudando o covid-19.
As escolas fechadas dos
filhos, serão examinadas uma semana depois do anúncio da agremiação
vencedora deste desfile “suntuoso”.
Título e Texto: Haroldo
Barboza, 8-12-2020
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A fantasma não foi queimada
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