O STF pode decidir o que quiser. Mas nada vai apagar o fato de que Lula comandou o governo mais corrupto que o Brasil já teve desde 1500
J. R. Guzzo
O Estado de S. Paulo num
editorial recente, resume com notável exatidão tudo o que é realmente preciso
dizer sobre o golpe judicial que anulou, de uma vez só, as quatro ações penais
envolvendo o ex-presidente Lula, inclusive a sua condenação em três instâncias
pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro: “A ficha moral de Lula é
suja”. O STF pode até zerar o prontuário criminal que proíbe a candidatura de
Lula à Presidência da República. Mas “para todos os efeitos – morais e
políticos”, diz o Estadão, o chefe do PT “terá seu nome indelevelmente
vinculado a múltiplos escândalos de corrupção, que nenhuma chicana será capaz
de apagar”. Como achar outra coisa? Não há como.
De fato, a extravagante
decisão do ministro Edson Fachin [foto], algo jamais registrado nos 130 anos de
história republicana do STF, não inocentou Lula de coisa nenhuma; ele diz, é
claro, que reconheceram a sua “inocência”, mas isso é só mais uma bobagem sem
nenhum contato com a realidade. Tudo o que Fachin disse, numa descoberta que
levou cinco anos para fazer, é que Lula não deveria ter sido julgado em
Curitiba e sim em Brasília. O que interessa, segundo o ministro, não é se houve
crime, mas onde o crime foi praticado – se foi aqui vale, se foi ali não vale.
“É como se o juiz resolvesse marcar no final do segundo tempo um pênalti
supostamente cometido no primeiro”, diz o editorial.
O STF pode decidir o que quiser — pode declarar que Lula é o presidente vitalício do Brasil, ou mandar a Polícia Federal prender o triângulo escaleno. Mas nada vai apagar o fato de que Lula comandou o governo mais corrupto que o Brasil já teve desde 1500. Foi o governo em que reinou o empreiteiro Marcelo Odebrecht, réu confesso de crimes que o tornaram um dos maiores corruptores do planeta. Foi o governo do ex-ministro Antonio Palocci, que, além de confessar tudo, delatou até os Doze Apóstolos. Foi o governo em que brilhou o ex-governador e aliado íntimo Sérgio Cabral, condenado a mais de 300 anos de cadeia por ladroagem – e por aí vamos.
Lula diz, o tempo todo, que é
uma “vítima pessoal” de Sérgio Moro. É um disparate. Ele foi julgado e
condenado por nove juízes independentes uns dos outros, em três instâncias
diferentes, num processo que não tem mais para onde ir. Todos disseram que as
provas dos crimes são suficientes; não há mais o que provar. A ficha continua
suja.
Restrições em São Paulo
Os cidadãos de São Paulo estão proibidos de praticar seus cultos
religiosos. As crianças não podem ir à escola. É proibido estar na rua depois
das oito horas da noite. É obrigatório trabalhar em casa, com um computador,
para quem exerce a sua profissão em escritórios. É proibido andar num parque
público e ir à praia. É obrigatório alimentar-se por sistemas de entrega em
domicílio, ou retirar sua comida à porta de quem a serve – e isso só durante o
dia, porque à noite não pode nada. É proibido entrar numa loja para comprar um
fio elétrico, uma panela ou uma peça de roupa – e por aí vai, até onde o Estado
consegue proibir e obrigar.
As autoridades fracassaram no combate à pandemia: depois de tudo o
que fizeram durante um ano inteiro, nunca houve tantas infecções e mortes como
agora.
Sua resposta está sendo o mais devastador ataque aos direitos
individuais, às liberdades públicas e ao império da lei que o Brasil já
conheceu em toda a sua história – incluindo os piores períodos de ditadura
explícita. Com a aprovação e a cumplicidade integrais do sistema judiciário, os
comitês de médicos-burocratas que hoje governam o País em nome das autoridades
legais só têm estímulo para agredirem cada vez mais a democracia.
Título e Texto: J. R.
Guzzo, Estado de S. Paulo, 14-3-2021, via revista Oeste
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