Está acontecendo na vida pública brasileira de hoje um esforço sem precedentes para exterminar a Lava Jato até sua última molécula
J. R. Guzzo
Deixe de lado, por um minuto, as enganações habituais do noticiário político, coisas como a “CPI da Covid”, o “orçamento secreto”, etc., etc. e pense no que a Gazeta do Povo está dizendo em voz alta e para todo o mundo: “Eles querem que você esqueça a luta anticorrupção”. É isso, mais do que qualquer outra coisa, que está realmente acontecendo na vida pública brasileira de hoje: um esforço sem precedentes, por parte do universo político, das elites, da mídia, das classes intelectuais e do sistema judiciário, em consórcio com o procurador-geral da República, para exterminar até sua última molécula a Operação Lava Jato.
Morta a Lava Jato já está:
nenhum ladrão do erário público deste país precisa mais se preocupar com a
possibilidade de ser investigado, processado penalmente e acabar na cadeia. A
maior e mais bem sucedida operação anticorrupção jamais montada no Brasil foi
fisicamente eliminada pela PGR, sucessivas decisões do Supremo Tribunal
Federal e esforços de políticos, de militantes em favor das “instituições”
e da Ordem dos Advogados do Brasil. Trata-se, agora, de enterrar tudo na cova
mais funda do cemitério. Não basta, para o grande condomínio nacional dos
larápios, apenas anular a lei e liberar geral a roubalheira. Eles também querem
eliminar da memória nacional qualquer lembrança de que houve, um dia, uma
operação séria de combate à corrupção no Brasil.
Pior que tudo, a bandidagem que suga desesperadamente os recursos da máquina estatal, sobretudo nos últimos 30 anos, quer dar um cavalo de pau na história. Sua luta de hoje, na verdade, é vender ao público pagante a fábula de que os ladrões do Tesouro são vítimas de uma imensa injustiça, e que os culpados são os funcionários do Estado que os processarem e mandaram para o xadrez.
É contra isso, precisamente,
que se levanta a voz da Gazeta do Povo na sua campanha — um
conjunto de ações que engloba a publicação de conteúdo editorial, apelos para a
adesão dos leitores, distribuição de “kits” anticorrupção e outras ideias. Nada
tem mais importância que isso no momento vivido hoje em dia pela política
brasileira — momento em que se promove uma farsa maciça, agressiva e mal-intencionada
para falsificar as realidades, desfazer punições e transformar em juízes os que
ontem estavam na penitenciária, ou nas suas portas. Por exemplo: o atual
justiceiro-carcereiro da CPI, o senador alagoano Renan Calheiros. Transformado
em polícia, ele — e mais uma manada de companheiros — há anos vêm fugindo da
cadeia através do uso das “imunidades parlamentares”; hoje são os heróis das
manchetes.
A campanha menciona a relação
entre a Lava Jato e o “suicídio moral do Supremo”. Fala no STF como instrumento
de vingança dos corruptos.
É isso, exatamente, que os
ladrões estão fazendo hoje: perseguem quem quis fazê-los cumprir a lei. “O STF
reescreve o passado, livra Lula e enterra o combate à corrupção”, diz um outro
enunciado do movimento. É descrito, também, o “perene esforço por um Brasil
corrupto” que marca tão a fundo a atual política brasileira, em seu empenho
visceral para manter vivas a corrupção, a lavagem de dinheiro, o caixa dois, a
impunidade, o roubo selvagem a Petrobras e a outras estatais, as remessas de
centenas de milhões de dólares para o exterior, o império das empreiteiras de
obras públicas e por aí afora.
É realmente extraordinário,
talvez acima de tudo, que a Gazeta do Povo seja o único jornal
diário do Brasil — para não falar de rádio e TV — que faz um trabalho desse
tipo. Entende-se que na Suíça, por exemplo, a imprensa não fale de corrupção.
Não há corrupção na Suíça. Mas no Brasil? Tenham a santa paciência.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
Gazeta do Povo, revista Oeste, 13-5-2021
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