Nada é tão falso como o teatro das conferências mundiais que culpam o país por todos os males na questão climática
J. R. Guzzo
O Brasil tem uma folha corrida ruim em matéria de tratamento do meio ambiente, desmatamento e outros itens da agenda ecológica? Tem. Mas a verdade, nunca dita — principalmente aqui mesmo, no próprio Brasil — é que ruim, mesmo, é o prontuário do mundo desenvolvido em cada uma dessas questões. Europa, Estados Unidos e outros lugares de primeira classe são maravilhosos, hoje, para dar aulas altamente edificantes de boa conduta ambiental ao Brasil (e de fazerem ameaças cada vez mais agressivas para serem ouvidos, e ouvidos já), mas foram horríveis com as suas próprias naturezas. Conclusão: não são exemplo de nada, para ninguém.
Desgraçado do Brasil, aliás,
se fosse seguir o mundo desenvolvido em matéria de preservação ambiental — a
Amazônia estaria reduzida ao tamanho do Passeio Público de Curitiba, e o resto
da superfície do país seria um deserto de asfalto, autoestradas e outros
portentos da infraestrutura. O país tem muito o que fazer, é claro; também é
muito urgente que faça. Mas nada é tão falso como o teatro montado nessas
conferências mundiais onde se celebra a correção ecológica, fala-se em carbono
zero e se joga no Brasil a culpa por tudo o que existe de errado com a natureza
do “planeta”. O Brasil não é o problema. É, ao contrário, onde se pode estudar,
aprender e encaminhar soluções.
Nenhum país do mundo preservou tanto as suas florestas quanto o Brasil. Em nenhum país do mundo os proprietários rurais são obrigados por lei a manterem intocadas, e reservadas à natureza, 20% de suas propriedades, sem nenhuma compensação por isso. Nenhum país desenvolve tanto a sua produção de alimentos sem tocar em áreas de floresta. Nenhum país do mundo tem quase 15% do seu território ocupado por reservas indígenas — o cenário de sonho dos ecologistas que vivem em países onde não existe índio.
Os verdadeiros problemas
ambientais do Brasil não são, como querem a militância e a ignorância
ambientais do Primeiro Mundo, o resultado do progresso e da prosperidade
econômica — são, exatamente ao contrário, o fruto direto do atraso e da
pobreza. Problema ambiental de verdade, no Brasil, é 50% da população viver sem
sistema de esgotos, em consequência da ganância dos donos das empresas estatais
e da religião do “poder público”. Ou, então, a ilegalidade e o crime puro e
simples — os grandes responsáveis pelo desmatamento, as queimadas e a mineração
ilegais.
O mundo dos ricos, depois de
ter alcançado um grau de desenvolvimento que lhes fornece PIBs per capita de
80.000 dólares por ano, quer que o Brasil cancele o seu desenvolvimento
econômico para resolver os problemas mundiais do meio ambiente. Quer isso,
aliás, de todos os países subdesenvolvidos. Está mais do que na hora, portanto,
de se concentrar nas soluções reais, nas preocupações ambientais legítimas da
comunidade internacional e no debate honesto das questões ecológicas.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
Gazeta do Povo, via revista OESTE,
2-11-2021, 9h02
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