Carina Bratt
DE VEZ EM QUANDO é bom a gente Pedir um Tempo para a nossa vida corrida e baqueada, desarmonizada e empobrecida e nos trancarmos dentro de casa sem ninguém ao lado para dar palpites. E para que tal atitude? Para que o Momento (o Nosso Momento) alcance o objetivo almejado, ou seja, aquele Instante em que pretendemos atingir o Ápice do Final Desejado.
Para que esse Momento Desejado e
Propício seja ainda mais Sutil e Perfeito, Tênue e Impalpável, não devemos esquecer
de coisinhas básicas, como desligar o aparelho celular, o telefone fixo, a
televisão, o rádio, bem ainda desplugar o computador do ‘home office’.
Necessário deixar de lado também a campainha da porta da rua e, claro, o
interfone.
Sem esses atropelos confusos, sem essas
afobações se entrechocando entre si, conseguiremos uma espécie de Retiro, de
Asilo, de Isolamento Externo, onde nada que venha do mundinho conhecido possa
nos alvoroçar ou nos perturbar. A partir daí, é, e será, com a nossa vontade plena
em evidência e, a todo vapor à frente, dando as cartas, que realizaremos os
nossos Intentos mais Queridos e Cobiçados.
Somente o Silêncio absoluto e o Mutismo
pétreo, agindo de mãos dadas, em cada cantinho, em cada desvão, permitirão que
a Ociosidade e a Quietação reinem no ambiente. Nessa onda benfazeja e fruitiva
de eufonia acordeosa, de aprazimento melodioso, nosso ‘Escondidinho’ se
achegará e se sentirá à vontade.
Com ele, abriremos o corpo, por dentro,
escancararemos cada Refúgio para revermos problemas que não foram resolvidos,
questiúnculas que ficaram a ver navios, sem a devida solução, obstruídas pelas
correrias das mesmices mais desbaratinadas.
O cotidiano, bem sabemos, nos mata aos
poucos, nos aniquila e nos traz a pecha da infelicidade.
A infelicidade, conhecida com outros
nomes horrendos, como contratempo, fatalidade e infortúnio, atrelada a diversos
outros personagens de rostos carrancudos, servem apenas para nos deixarem para
baixo, ou na contramão de Tudo de Bom que sonhamos e ambicionamos. Grosso modo,
se faz mister fugirmos, por algum tempo, das garras da desdita ou das tiranias
dos escalabros.
Essas barreiras de coisas funestas nos transformam as horas boas do dia em óbices martirizantes. Com isso, os esmeros e os requintes sonhados não se criam, não se alinham, logo não frutificam, não vingam. Se as minhas amigas leitoras pararem alguns minutos para porém em ordem as coisas do dia a dia, do minuto a minuto, perceberão que pequenos entraves nos arrebatam o deleitoso do sublime, manchando, de cores negras, as maviosidades do sossego.
De igual forma, nos roubam a
tranquilidade, nos afanam, sem piedade, e se apropriam da Esperança, nos furtam
e nos usurpam a Paz de Espírito. Esses infortúnios todos são, na verdade,
pequenos e quase imperceptíveis flagelos, inimigos e adversários que procuram
nos levar, aos arrastos, aos tapas e safanões, para às raias comuns do
desespero.
Daí, a Mantença do Tempo só para nós,
sem as interferenciações do universo frívolo e perfunctório, do diário
esquizofrênico, logo ali, do lado, de fora, aguardando, no corredor com o
elevador à espera. A Nossa Vontade, atarracada a Nossa Apetência, a nossa
Determinação entrarão em cena.
E nos obsequiarão, com as coisas boas
da vida, nos presentearão com a Mansidão do Altíssimo; com a Dádiva de
Porvindouros ainda não fecundados. Nos transformaremos, a bem disso, em Ventres
Livres e Esplendidos para acolhermos a Alma em festa e o melhor de tudo, o
Amor.
O Amor... ah, o Amor!... esse
pobrezinho indefeso que estava desequilibrado e quase destruído pelos aguilhões
da falência múltiplas dos órgãos, estirado numa cama de UTI, sem o fôlego
consolador de uma nova respiração criará Vida Nova. Vida Plena.
Se levarmos, amigas, acreditem, se
levarmos esses Momentos de Plenitude à sério, os amargos, os avinagrados, os
cruciantes e ásperos que nos tiram o sono, a vontade de viver e de seguir
adiante, creiam, fugirão, e, via normal, voltaremos ao Habitual, ao Anfêmero.
Retornaremos, pois, Renovadas, o corpo inteiro lavado, com as Graças e as
Bençãos do Pai Maior.
Igualmente, nos sentiremos Restauradas,
Aquilatadas, Refeitas e com aquela Vontade de Seguirmos Adiante, com Força
Total. Daí, amigas, a atitude ardente e robusta de nos trancarmos dentro do
nosso Cantinho de Descanso e Sossego... repetindo, para vocês não se olvidem:
sem as ingerências, sem as intermediações, e, logicamente, o mais importante:
sem as chamadas irritantes do celular, sem as ligações chatas do telefone fixo,
enfim, de qualquer enxudreiro que não nos permita pular fora, dar um tapa no
visual, e beneficiarmos literalmente a Alma.
O Silêncio absoluto, o Mutismo agindo
de mãos dadas, em cada cantinho, em cada desvão, permitirão que a Ociosidade e
a Quietação reinem no ambiente. Voltaremos para o nosso chão de agora, para o
burburinho, para os afazeres do catemerino com o ‘Escondidinho’, o Amago, o
‘Eu’, o Coração, o Peito e a Vida, sobretudo a Vida, aptas para cursarmos em
frente, sem que nada, nem ninguém, nos impeça o deslanchar para sermos donas
das nossas próprias REVIVIFICAÇÕES.
Título e Texto: Carina Bratt,
Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. 5-12-2021
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