domingo, 5 de dezembro de 2021

[As danações de Carina] Pelo simples motivo de existir

Carina Bratt

DE VEZ EM QUANDO é bom a gente Pedir um Tempo para a nossa vida corrida e baqueada, desarmonizada e empobrecida e nos trancarmos dentro de casa sem ninguém ao lado para dar palpites. E para que tal atitude? Para que o Momento (o Nosso Momento) alcance o objetivo almejado, ou seja, aquele Instante em que pretendemos atingir o Ápice do Final Desejado.

Para que esse Momento Desejado e Propício seja ainda mais Sutil e Perfeito, Tênue e Impalpável, não devemos esquecer de coisinhas básicas, como desligar o aparelho celular, o telefone fixo, a televisão, o rádio, bem ainda desplugar o computador do ‘home office’. Necessário deixar de lado também a campainha da porta da rua e, claro, o interfone.

Sem esses atropelos confusos, sem essas afobações se entrechocando entre si, conseguiremos uma espécie de Retiro, de Asilo, de Isolamento Externo, onde nada que venha do mundinho conhecido possa nos alvoroçar ou nos perturbar. A partir daí, é, e será, com a nossa vontade plena em evidência e, a todo vapor à frente, dando as cartas, que realizaremos os nossos Intentos mais Queridos e Cobiçados.

Somente o Silêncio absoluto e o Mutismo pétreo, agindo de mãos dadas, em cada cantinho, em cada desvão, permitirão que a Ociosidade e a Quietação reinem no ambiente. Nessa onda benfazeja e fruitiva de eufonia acordeosa, de aprazimento melodioso, nosso ‘Escondidinho’ se achegará e se sentirá à vontade.

Com ele, abriremos o corpo, por dentro, escancararemos cada Refúgio para revermos problemas que não foram resolvidos, questiúnculas que ficaram a ver navios, sem a devida solução, obstruídas pelas correrias das mesmices mais desbaratinadas.

O cotidiano, bem sabemos, nos mata aos poucos, nos aniquila e nos traz a pecha da infelicidade.

A infelicidade, conhecida com outros nomes horrendos, como contratempo, fatalidade e infortúnio, atrelada a diversos outros personagens de rostos carrancudos, servem apenas para nos deixarem para baixo, ou na contramão de Tudo de Bom que sonhamos e ambicionamos. Grosso modo, se faz mister fugirmos, por algum tempo, das garras da desdita ou das tiranias dos escalabros.

Essas barreiras de coisas funestas nos transformam as horas boas do dia em óbices martirizantes. Com isso, os esmeros e os requintes sonhados não se criam, não se alinham, logo não frutificam, não vingam. Se as minhas amigas leitoras pararem alguns minutos para porém em ordem as coisas do dia a dia, do minuto a minuto, perceberão que pequenos entraves nos arrebatam o deleitoso do sublime, manchando, de cores negras, as maviosidades do sossego.

De igual forma, nos roubam a tranquilidade, nos afanam, sem piedade, e se apropriam da Esperança, nos furtam e nos usurpam a Paz de Espírito. Esses infortúnios todos são, na verdade, pequenos e quase imperceptíveis flagelos, inimigos e adversários que procuram nos levar, aos arrastos, aos tapas e safanões, para às raias comuns do desespero.

Daí, a Mantença do Tempo só para nós, sem as interferenciações do universo frívolo e perfunctório, do diário esquizofrênico, logo ali, do lado, de fora, aguardando, no corredor com o elevador à espera. A Nossa Vontade, atarracada a Nossa Apetência, a nossa Determinação entrarão em cena.

E nos obsequiarão, com as coisas boas da vida, nos presentearão com a Mansidão do Altíssimo; com a Dádiva de Porvindouros ainda não fecundados. Nos transformaremos, a bem disso, em Ventres Livres e Esplendidos para acolhermos a Alma em festa e o melhor de tudo, o Amor.

O Amor... ah, o Amor!... esse pobrezinho indefeso que estava desequilibrado e quase destruído pelos aguilhões da falência múltiplas dos órgãos, estirado numa cama de UTI, sem o fôlego consolador de uma nova respiração criará Vida Nova. Vida Plena.

Se levarmos, amigas, acreditem, se levarmos esses Momentos de Plenitude à sério, os amargos, os avinagrados, os cruciantes e ásperos que nos tiram o sono, a vontade de viver e de seguir adiante, creiam, fugirão, e, via normal, voltaremos ao Habitual, ao Anfêmero. Retornaremos, pois, Renovadas, o corpo inteiro lavado, com as Graças e as Bençãos do Pai Maior.

Igualmente, nos sentiremos Restauradas, Aquilatadas, Refeitas e com aquela Vontade de Seguirmos Adiante, com Força Total. Daí, amigas, a atitude ardente e robusta de nos trancarmos dentro do nosso Cantinho de Descanso e Sossego... repetindo, para vocês não se olvidem: sem as ingerências, sem as intermediações, e, logicamente, o mais importante: sem as chamadas irritantes do celular, sem as ligações chatas do telefone fixo, enfim, de qualquer enxudreiro que não nos permita pular fora, dar um tapa no visual, e beneficiarmos literalmente a Alma.

O Silêncio absoluto, o Mutismo agindo de mãos dadas, em cada cantinho, em cada desvão, permitirão que a Ociosidade e a Quietação reinem no ambiente. Voltaremos para o nosso chão de agora, para o burburinho, para os afazeres do catemerino com o ‘Escondidinho’, o Amago, o ‘Eu’, o Coração, o Peito e a Vida, sobretudo a Vida, aptas para cursarmos em frente, sem que nada, nem ninguém, nos impeça o deslanchar para sermos donas das nossas próprias REVIVIFICAÇÕES.

Título e Texto: Carina Bratt, Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. 5-12-2021 

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