quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Brasil: três governos “federais”


Peter Wilm Rosenfeld
Pelo que lemos nos jornais, existem atualmente dois ou três governos federais!
O presidido pela Sra. Rousseff, que é o assim reconhecido como oficial; em seguida o liderado pelo Sr. José Dirceu que, como nos mostrou a reportagem da última edição da revista Veja, recebe e despacha com ministros, presidentes de estatais e membros do Congresso, em Brasilia; e finalmente o liderado pelo ex-Presidente da Silva, que é consultado e/ou convocado quando os assuntos se complicam algo.
É um arranjo que não pode dar certo e não dá para entender como a Sra. Rousseff tolera e aceita essa posição.
Um dos requisitos absolutamente necessários para governar é o de ter uma personalidade forte, que deve ouvir seus assessores mas que toma as decisões com firmeza.
Governar com fraqueza, hesitações e similares não funciona.
A Sra. Roussef trazia consigo uma fama e uma aura de ser pessoa dura sempre que necessário; daí ter sido levada para a Casa Civil do governo anterior. Era, também, a “gerentona”, responsável pela administração do PAC, ou dos PACs, já que acabaram sendo dois os programas.
É verdade que os PACs. foram um fiasco; pelo que estou informado, nenhum dos programas foi concluído de acordo com o inicialmente projetado, quer no tempo, quer na qualidade como no prazo (aliás, foi isso que levou o governo anterior criar o PAC-2).
Dentro dessa mesma linha, estamos presenciando as mazelas do atual governo. Enumerarei algumas:

- A Sra. Rousseff não formou um governo “seu”, em que ela escolheu cada um e todos seus ministros. E se o fez, foi mal feito. Carregou junto alguns ministros que foram um fracasso no governo anterior que lhe devem ter sido impostos pelo Sr. da Silva, como é o caso do Min. da Educação, o da Secretaria-Geral da Presidência, o da Defesa, o de Minas e Energia e o dos Esportes.
- Aliás, nesse quesito Ministros, só piorou o que já era ruim: aumentou a quantidade, que era um despautério, sem melhorar a qualidade.
- Levou excessivo tempo para demitir (e deveria ter demitido, e não esperado o pedido para isso) o Sr. Antônio Palocci quando da revelação de seu súbito e inexplicável enriquecimento.
- Não demitiu imediatamente os Ministros e outros seus subordinados que foram “despachar” com o Sr. José Dirceu em seu “gabinete” de Brasilia (uma suite em um hotel de luxo, como deve ser com uma pessoa “importante”). Se tivesse se tratado de uma visita de cortesia, vá lá. Mas não o foi. E certamente essas pessoas foram se “aconselhar” com o Sr. José Dirceu.
- Substituiu o Ministro da Defesa (coisa que deveria ter feito no início do governo), mas pelo Sr. Celso Amorim que, a meu ver, é a pessoa menos credenciada para tanto, pois de amor à pátria não tem nada.
Aliás, aqui cabe um parêntesis: o Min. da Defesa, de grande importância para o País, até hoje não teve nenhum ocupante que reunisse as qualidades que o cargo exige.
É realmente lamentável que nenhum dos problemas sérios que o País está enfrentando, quer por causa de suas mazelas próprias, como os decorrentes da situação internacional, esteja sendo tratado com a necessária energia.
Estou muito curioso com o que a Sra. Rousseff dirá em seu discurso inaugural na ONU, no próximo dia 20, quando se instalar a Assembléia Geral deste ano.
Faço aqui mais um parêntesis: é possível que muita gente, especialmente os mais jovens, não saiba por que cabe ao Brasil fazer o discurso na sessão inaugural da Assembléia todos os anos. Explico: entre os países signatários da ata de criação da ONU, não havia nenhum cujo nome começasse pela letra “A”. O Brasil era o primeiro na ordem, e por isso fez o discurso inaugural. E essa tradição foi mantida até hoje, apesar de agora serem membros da ONU países cujo nome começa com “A”.
Voltando ao Brasil: pelo que se diz, a Sra. Rousseff continua se aconselhando com o Sr. da Silva e, em meu entendimento, isso é um erro crasso.
A história registrará o mal que o Sr. da Silva causou ao Brasil no prazo mediato. Dirão que não, pois agora o País tem uma classe média mais de acordo com seu tamanho. A indústria de bens de consumo cresceu de maneira significativa, permitindo esse crescimento. A pobreza diminuiu, e blá, blá, blá.
Os quase 90% de aprovação popular demonstram que os votantes aprovaram essa maneira de agir. Mas será interessante saber qual será a reação quando esses bens, principalmente os automóveis, já estiverem velhos, necessitando de troca, e não valerem mais quase nada, com ainda muitas prestações a pagar.
Penso que o Sr. da Silva teria feito melhor se tivesse tratado de melhorar saúde e saneamento básico, que continuam sendo uma vergonha internacional.
E, que eu saiba, a Sra. Rousseff também não está dando a necessária atenção a esses dois assuntos.
Sem falar naqueles que o povo não sente diretamente: infraestrutura (estradas, portos e aeroportos), que continuam sendo escandalosamente ruins, além do ensino.
Em suma, um fracasso.
Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto Alegre, RS, 31-08-2011
Edição (e grifos): JP

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