Peter Wilm Rosenfeld
Pelo que lemos nos jornais,
existem atualmente dois ou três governos federais!
O presidido pela Sra.
Rousseff, que é o assim reconhecido como oficial; em seguida o liderado pelo
Sr. José Dirceu que, como nos mostrou a reportagem da última edição da revista
Veja, recebe e despacha com ministros, presidentes de estatais e membros do
Congresso, em Brasilia; e finalmente o liderado pelo ex-Presidente da Silva,
que é consultado e/ou convocado quando os assuntos se complicam algo.
É um arranjo que não pode dar
certo e não dá para entender como a Sra. Rousseff tolera e aceita essa posição.
Um dos requisitos
absolutamente necessários para governar é o de ter uma personalidade forte, que
deve ouvir seus assessores mas que toma as decisões com firmeza.
Governar com fraqueza,
hesitações e similares não funciona.
A Sra. Roussef trazia consigo
uma fama e uma aura de ser pessoa dura sempre que necessário; daí ter sido
levada para a Casa Civil do governo anterior. Era, também, a “gerentona”,
responsável pela administração do PAC, ou dos PACs, já que acabaram sendo dois
os programas.
É verdade que os PACs. foram
um fiasco; pelo que estou informado, nenhum dos programas foi concluído de
acordo com o inicialmente projetado, quer no tempo, quer na qualidade como no
prazo (aliás, foi isso que levou o governo anterior criar o PAC-2).
Dentro dessa mesma linha,
estamos presenciando as mazelas do atual governo. Enumerarei algumas:
- A Sra. Rousseff não formou
um governo “seu”, em que ela escolheu cada um e todos seus ministros. E se o
fez, foi mal feito. Carregou junto alguns ministros que foram um fracasso no
governo anterior que lhe devem ter sido impostos pelo Sr. da Silva, como é o
caso do Min. da Educação, o da Secretaria-Geral da Presidência, o da Defesa, o
de Minas e Energia e o dos Esportes.
- Aliás, nesse quesito
Ministros, só piorou o que já era ruim: aumentou a quantidade, que era um
despautério, sem melhorar a qualidade.
- Levou excessivo tempo para
demitir (e deveria ter demitido, e não esperado o pedido para isso) o Sr.
Antônio Palocci quando da revelação de seu súbito e inexplicável
enriquecimento.
- Não demitiu imediatamente os
Ministros e outros seus subordinados que foram “despachar” com o Sr. José
Dirceu em seu “gabinete” de Brasilia (uma suite em um hotel de luxo, como deve
ser com uma pessoa “importante”). Se tivesse se tratado de uma visita de
cortesia, vá lá. Mas não o foi. E certamente essas pessoas foram se
“aconselhar” com o Sr. José Dirceu.
- Substituiu o Ministro da
Defesa (coisa que deveria ter feito no início do governo), mas pelo Sr. Celso
Amorim que, a meu ver, é a pessoa menos credenciada para tanto, pois de amor à
pátria não tem nada.
Aliás, aqui cabe um
parêntesis: o Min. da Defesa, de grande importância para o País, até hoje não
teve nenhum ocupante que reunisse as qualidades que o cargo exige.
É realmente lamentável que
nenhum dos problemas sérios que o País está enfrentando, quer por causa de suas
mazelas próprias, como os decorrentes da situação internacional, esteja sendo
tratado com a necessária energia.
Estou muito curioso com o que
a Sra. Rousseff dirá em seu discurso inaugural na ONU, no próximo dia 20,
quando se instalar a Assembléia Geral deste ano.
Faço aqui mais um parêntesis:
é possível que muita gente, especialmente os mais jovens, não saiba por que
cabe ao Brasil fazer o discurso na sessão inaugural da Assembléia todos os
anos. Explico: entre os países signatários da ata de criação da ONU, não havia
nenhum cujo nome começasse pela letra “A”. O Brasil era o primeiro na ordem, e
por isso fez o discurso inaugural. E essa tradição foi mantida até hoje, apesar
de agora serem membros da ONU países cujo nome começa com “A”.
Voltando ao Brasil: pelo que
se diz, a Sra. Rousseff continua se aconselhando com o Sr. da Silva e, em meu entendimento,
isso é um erro crasso.
A história registrará o mal
que o Sr. da Silva causou ao Brasil no prazo mediato. Dirão que não, pois agora
o País tem uma classe média mais de acordo com seu tamanho. A indústria de bens
de consumo cresceu de maneira significativa, permitindo esse crescimento. A
pobreza diminuiu, e blá, blá, blá.
Os quase 90% de aprovação
popular demonstram que os votantes aprovaram essa maneira de agir. Mas será
interessante saber qual será a reação quando esses bens, principalmente os
automóveis, já estiverem velhos, necessitando de troca, e não valerem mais
quase nada, com ainda muitas prestações a pagar.
Penso que o Sr. da Silva teria
feito melhor se tivesse tratado de melhorar saúde e saneamento básico, que
continuam sendo uma vergonha internacional.
E, que eu saiba, a Sra.
Rousseff também não está dando a necessária atenção a esses dois assuntos.
Sem falar naqueles que o povo
não sente diretamente: infraestrutura (estradas, portos e aeroportos), que
continuam sendo escandalosamente ruins, além do ensino.
Em suma, um fracasso.
Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto
Alegre, RS, 31-08-2011
Edição (e grifos): JP
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