Valdemar Habitzreuter
A rigor, o niilismo pretende
com seu ‘ismo’ abolir ou desconstruir todos os outros ‘ismos’ vigentes por aí,
que se proclamam impregnados de valores para a vida. Por exemplo, o
cristianismo, humanismo, nacionalismo, comunismo, nazismo fascismo, etc. são
‘ismos’ com mensagens valorativas para a vida, cada qual segundo suas idiossincrasias.
Para o niilismo estes ismos são pura enganação, sem valores, não representam
nada de positivo para a vida. Assim, o niilismo é a absolutizacão do nada e se
propõe a aniquilar os outros ‘ismos’. Nihil em latim significa nada, daí a
palavra niilismo, aniquilar... Nada de valores estabelecidos, portanto.
Mas, valerá a pena deixar-se
levar pelo niilismo em que o nada é valor de nada?...
Hoje em dia a palavra niilismo
é uma palavra bastante recorrente e muitos se dizem niilistas para dizer que são
ateus, descrentes ou agnósticos. Mas, genericamente, o niilismo denota: não
aceitar valores apregoados por doutrinas que se pretendem donas da verdade, e
mesmo, proceder à destruição dos valores estabelecidos. Embora o termo remonte
já de tempos remotos (Santo Agostinho chamava de nihilisti os que não acreditavam em nada), tem um destaque e uso
mais acentuado no sec. XIX na Europa com as constantes crises econômicas e
políticas e a consequente desorientação do homem nesta época.
Mas é na filosofia que a
proposta niilista foi bastante explorada. Por exemplo, o filósofo Nietzsche foi
um ferrenho niilista. Talvez o mais contundente e ofensivo pelos seus
argumentos contra os valores da cultura vigente na Europa. Seu objetivo
filosófico foi demonstrar a inutilidade e a falsidade dos valores morais
estabelecidos pela cultura ocidental, principalmente fundamentada no
cristianismo. Sua filosofia volta-se contra esta cultura que ele dizia ser de
estagnação, escravidão e falta de perspectivas superiores para o ser humano; e,
assim, propôs-se a combatê-la com sua filosofia.
Por exemplo, elaborou o
estratagema da metamorfose do camelo, leão e criança. O camelo é um animal
dócil, obediente e carrega o fardo em seu lombo através do deserto com muita
passividade e mansidão. O leão já se porta diferente, demonstra agressividade e
não é nada manso, não tolera intrusos em seu reinado, é voraz e usa seu ímpeto
de poder para destruir o que lhe incomoda. A criança, em sua inocência, vê as
coisas em sua simplicidade sem ainda estar às voltas com regras e deveres, mas
sempre disposta e afoita para novas conquistas, voltada para a criatividade, e,
com o passar do tempo, afirma-se em adulto autossuficiente sem se deixar
influenciar por opiniões alheias.
Para Nietzsche, o camelo
representa o homem manso e obediente que se sujeita a todo tipo do ‘tu deves’
por vontades impostas de fora (Deus, doutrinas metafísicas misteriosas, etc.),
sem se questionar - próprio do homem cristão, por exemplo, diz ele. É preciso
que este homem se transmute em leão e ruja de inconformismo e destrua todos
estes valores que o prendem e o deixa ser demasiado humano, através de uma vida
passiva alienada, subjugado por valores que o fixam à pobreza da condição
humana que deve ser ultrapassada, elevar-se acima dela. Mas, o homem-leão, por
sua vez, depois da desconstrução, deve metamorfosear-se em criança para começar
do zero, não considerando os valores pré-estabelecidos por vontades alheias,
mas concentrando-se em sua própria vontade de poder para construir o
super-homem adulto, superando a condição humana ao abolir a moral vigente
(cristã) que faz do homem escravo. É preciso deixar-se guiar por uma ‘moral de
senhor’, isto é: ser senhor de sua própria moral e transpor a moral que se fixa
nos preconceitos morais do bem e do mal.
Mas, não é a proposta de
Nietzsche apenas uma substituição de valores? Substituir os valores da moral
cristã pelo valor da auto-realização pela vontade de poder? Consiste o niilismo
de Nietzsche apenas em desqualificar valores estabelecidos e repor outros? Se
Nietzsche vislumbrou valores outros mais consistentes ao propor o ideal do
super-homem para deixar para trás a condição humana escrava, há nisso também
uma aceitação de valores. O Deus cristão declarado morto por ele foi substituído
pelo deus nietzscheano, o super-homem.
Talvez deva-se entender o
niilismo de Nietzsche pelo conceito do ‘eterno retorno’ que ele formulou. Isto
é, nada de um finalismo ou de uma chegada – o céu cristão, por exemplo. O céu
nietzschiano é o céu terrestre com todas as mazelas e dificuldades a enfrentar,
onde o tempo não tem um começo e um fim, mas é circular, e onde tudo retorna
eternamente à existência, inclusive o homem que tem, assim, a oportunidade de
realizar aqui sua super-humanidade pela sua vontade de poder e auto
proclamar-se senhor de si e, assim, superar-se como meramente humano.
Esta existência em seu eterno
ciclo de repetição é sem meta, isto é: sempre volta ao mesmo; portanto, ao
nada, onde o homem nietzscheano não valoriza nada a não ser sustentando-se em
sua vontade de poder, fortalecendo-se cada vez mais em seu eterno retorno e,
assim, poder entregar-se à luta nos embates da vida; o homem quer com muita
alegria esta existência repetitiva para exercer sua vontade de poder donde pode
surgir o super-homem que ultrapassa sua condição de demasiado humano e, assim,
exaltar o rodopiar da existência com todas suas agruras e sofrimentos...
Este super-homem nietzschiano
é o homem dionisíaco que exalta a vida assim como ela se apresenta, ora com
tragédias ora com o belo fluir da vida que desemboca sempre no nada
repetitivo... O amor fati (cada qual amar seu destino) é a fórmula de Nietzsche
para o ser humano superar-se…
Presumo que o niilismo é mais
uma opção de vida que propriamente uma demonstração racional…
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 13-7-2015
Felizes os egocêntricos pois que deles é o caminho do céu
ResponderExcluirIvan
Como, Ivan? se já conquistaram o céu como super-homens e declaram a morte de Deus? Se Deus está morto o céu pertence a eles, não acha?
ExcluirFoi o que eles disseram, Valdemar, projeções mentais - quando a mente e o ego -, se tornam poderosos.
ExcluirContudo, Existe um outro Você. E é este quem agora dita ou cria, seu céu, ou seu inferno, sua felicidade ou sua infelicidade, e assim por diante.
Nem preciso imaginar, o que Você ditaria ou escolheria bem agora!
Ivan
Valdemar fez uma explanação filosófica de cunho próprio sobre o niilismo.
ResponderExcluirOutro dia, um certo jornalista fez comentários contra políticos que ele pensa ser de direita.
Fiz minha observação e a deletaram.
Diz o certo jornalista que aqueles deputados eram o supra sumo do retrógrado e dos anos de chumbo, que eram NIILISTAS SOCIAIS.
Bem o que é um NIILISTA social?
Presume-se que seja uma pessoa que não está nem aí para o social.
NA REALIDADE todos somos NIILISTAS, ora passivos, ora ativos quer queiramos ou não.
Enquanto os problemas não atingem nossos calos dificilmente nos preocupamos com os problemas dos outros.
Nietzsche esquece que o verdadeiro niilismo surgiu na Rússia quando alguns que se achavam sábios e queriam mais educação e saúde para o povo, mas suas opiniões não geravam atitudes, eles eram passivos aos problemas.
Este lembrete é de grande valia falta nos ensinamentos de Nietzsche:
- Opiniões não geram atitudes.
INEXISTE um NIILISTA social, ele somente é passivo as agruras dos outros, e deixará de ser quando o problema atingir as suas prioridades.
Bem, isso sugere que que agora ele passa a ser um NIILISTA ativo, pois não é assim.
Há três fases no NIILISTA:
A primeira fase é quando o NIILISTA diz que a vida somente é perfeita num mundo espiritual, etéreo e superior.
A segunda fase é quando ele percebe que a caravana passa e não há perspectivas de bonança, que não há prêmios e não importa-se em buscar justiça, e ampliar riquezas.
A terceira fase é o NIILISTA ATIVO, que descobre que ambas as assertivas das fases acima são verdadeiras e o que importa é viver intensamente o seu futuro.
Por isso DEUS ESTÁ morto para NIETZSCHE, afinal nenhum ser no mundo é mais NIILISTA que o próprio DEUS.
Àquele que pede dinheiro em nome de DEUS, é niilista.
Àquele que se droga, é niilista.
Àquele que vende a droga é niilista.
Àqueles que fazem as leis em benefício próprio, são niilistas.
Este que escreve é NIILISTA.
Enquanto tivermos niilistas no poder, ou enquanto elegermos os mesmos de sempre, somente pedindo ajuda a DEUS, para resolver nossos problemas.
Afinal pensando bem quem caga e anda para o mundo?
O NIILISTA.
Aos niilistas de plantão...
TODOS SOMOS, mas que se foda o mundo meu nome não é Raimundo, quanto ao problema do AERUS o mundo quer que nós nos fodamos.
E assim existe o o niilista virtuoso.
Alguém sabe qual é a obra de santo agostinho onde apareceu o termo?
ResponderExcluirobrigada
O termo nihil ou niilista deriva do latim e significa NADA.
Excluirsomente lembrando que a filosofia grega – Platão e Aristóteles – foi retomada na Idade Média pelos filósofos sacerdotes cristãos Santo Agostinho e São Tomás de Aquino para explicar a existência de Deus, a divisão entre dois mundos, que por sua vez sistematizou a ideia de verdade/mentira, luzes/sombras da ciência.
Nietzsche é chamado equivocadamente de niilista, ele apenas fez uma crítica a nossa sociedade.
O aparecimento do niilismo coincide com a decadência do politeísmo grego e com a ascensão do monoteísmo A rigidez moral que se quer monitorar a existência humana, o conflitos, as hostilidades e ofensas, que são o instintos inerentes à vida humana para Nietzsche, os religiosos consideram males. Toda afirmativa de qualquer criador da existência humana é anulada, e enaltecer os fracos é uma apologia da impotência, à força laboral, independente e criativa dos seres humanos.
O chamado niilismo incompleto é a negação da vida.
Vida como criação incessante de si mesmo.
O filósofo critica cristianismo, chama-lhe a "moral dos escravos", a religião que faz apologia aos fracassados, curtindo a pobreza, não só material, mas espiritual. A qual promete aos fracassados uma outra vida abastada e feliz ao preço da NEGAÇÃO da vida terrena.
Por isso o cristianismo é considerado uma ideologia niilista.
A compaixão, a piedade substitui o sentido de existência querendo torná-la transcendente, viver fora do próprio estado de ser.
NIILISTA é Santo Agostinho.
P.S. varias obras uma delas é Confissões.