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José António Saraiva |
António
Costa revelou uma insegurança que os portugueses desconheciam
Como os meus leitores sabem,
não tenho o hábito de comentar sondagens.
Primeiro, porque nem todas
merecem crédito.
Segundo, porque não faz
qualquer sentido comentar uma sondagem a dois anos das eleições.
Ou mesmo a um ano.
Ou mesmo a seis meses.
Recordo que, nas últimas
legislativas, o PS ia bem colocado nas sondagens – e o vento só virou depois do
debate televisivo entre Sócrates e Passos Coelho, que este venceu com clareza.
Portanto, comentar sondagens
individualmente é uma inutilidade.
Uma perda de tempo.
Os comentários sobre sondagens
só terão algum interesse se se debruçarem sobre tendências e tiverem em conta
períodos alargados.
E é exactamente neste sentido
que venho falar hoje do assunto.
Quando António Costa tomou
conta do PS, há nove meses, os valores deste partido dispararam.
O líder socialista foi
acolhido com grande expectativa - e as sondagens reflectiram esse sentimento.
Mas cedo começaram a cair.
Porque António Costa começou
logo a desiludir.
A ideia que tínhamos dele era
a de um político sólido, seguro, capaz de definir um rumo e segui-lo de forma
consistente.
Ora, quando António Costa
começou a aparecer mais, revelou inesperadas fragilidades.
Um dia mostrou que tinha um
discurso para os portugueses e outro para os chineses.
Outro dia saudou a vitória do
Syriza - para uns tempos depois falar dele como um grupo de “tontos”.
A dada altura avançou com
propostas de alteração à TSU - mas logo a seguir recuou, perante os protestos
de muitos militantes.
Enfim, Costa revelou-se um
político ziguezagueante e muito pouco seguro.
A imagem de solidez do líder
socialista esboroou-se, pois, em pouco tempo - e a evolução das sondagens
reflectiu essa quebra.
Apesar disso, o PS andou muito
tempo à frente da soma dos votos dos partidos da coligação, pois as pessoas estavam
fartas da austeridade e queriam alguém que lhes desse esperança.
Sucede que, com a passagem do
tempo, o Partido Socialista continuou a descer e a coligação começou a
recuperar.
E assim chegámos ao momento
actual, em que PS e coligação estão praticamente empatados.
Agora, a pergunta que todos
fazem é esta: como vão evoluir as coisas até às eleições?
O PS vai outra vez
distanciar-se e a coligação cair - ou passar-se-á o contrário?
A minha opinião é clara: com o
aproximar das eleições, a coligação vai crescer e o PS vai manter ou perder
votos.
Pensando num gráfico, temos a
linha do PS a descer e a linha da coligação PSD/CDS a subir - pelo que, se a
tendência se mantiver, dentro de pouco tempo a coligação começará a estar
consistentemente à frente do PS.
Até porque há mais dois
factores a ter em conta:
1. A raiva das pessoas ao Governo, que atingiu o ponto máximo em
2013, tende a esbater-se;
2. Os eleitores começam a pensar: “Estes, pelo menos, já
conhecemos; e os outros podem vir a deitar os nossos esforços por água abaixo”.
Perante este quadro, quais são
as armas que o PS tem para jogar?
Que a troika fez mal ao país?
Que a dívida pública cresceu,
o PIB caiu, o desemprego aumentou, etc.?
Mas a troika já saiu de
Portugal, são águas passadas - e depois da queda provocada pelas políticas de
austeridade todos os indicadores começaram a melhorar.
Portugal recuperou a
credibilidade internacional e os juros da dívida baixaram drasticamente.
A confiança no Estado foi
restaurada.
A economia voltou a crescer e
as exportações, após um período de adormecimento, tornaram a arrebitar.
O desemprego está a diminuir,
situando-se ao nível do que estava antes da troika.
Por onde poderá, então, o PS
pegar?
Pela dívida pública, que de
facto aumentou muito?
Mas os socialistas defendem a
flexibilização do défice - e, se isso acontecer, a dívida aumentará ainda mais…
Acresce que, em Maio, a dívida
baixou pelo segundo mês consecutivo.
E há ainda o fantasma grego.
Estão à vista os problemas de eleger um partido que promete mundos e fundos mas
depois não tem como cumprir as promessas.
Claro que o PS não é o Syriza
- mas os comentários de apoio à Grécia de muitos responsáveis socialistas não
deixam os eleitores descansados.
Neste contexto, repito o que
já disse: parece-me que a coligação vai ganhar as eleições.
E pode muito bem sonhar com a
maioria absoluta.
De um lado está um Governo que
já mostrou resultados - doutro lado está um partido cujas promessas, além de
suscitarem reservas, podem assustar muita gente.
Título e Texto: José
António Saraiva, SOL,
30-6-2015
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