O enfrentamento é a única saída digna, já que o outro lado escolheu a guerra suja
Rodrigo Constantino
Muita gente, inclusive
consultores de empresas, acha fundamental termos um Plano B quando definimos
nossas metas e objetivos, uma rota alternativa para o caso de falhas no plano
original. Intuitivamente faz todo sentido, já que nunca podemos ter garantias
de sucesso em nossos alvos prioritários. Mas Dan Crenshaw discorda. O congressista, que é ex-Navy SEAL, dedica um dos
capítulos de seu livro Fortitude para defender a tese de que
não devemos ter nenhum Plano B, pois ele serve apenas para desviar o foco e
fornecer na largada uma contemporização com a mediocridade.
Crenshaw tem “lugar de fala”
sobre o assunto. Afinal, quem conhece um pouco do que é necessário para se tornar
um SEAL sabe que qualquer Plano B seria fatal, uma tentação irresistível em
meio a tanto sofrimento e privação, especialmente durante a fase “infernal” do
treinamento. Fome, sono, muito frio, desgaste físico intenso, riscos
constantes, e tudo isso com o instrutor provocando e tornando mais fácil a
desistência, colocando o sino que precisa ser tocado ao alcance do militar
esgotado. Quem quer que tenha um Plano B vai sucumbir nesse momento, e é para
filtrar aqueles mais apaixonados, convictos e resistentes que existe tal
processo mesmo.
“Resistir à tentação de
aceitar o Plano B é mais do que simplesmente não desistir. É também se recusar
a se envolver em comportamentos ruins, improdutivos e imorais, mesmo quando
pareçam sem importância”, escreve. É um compromisso quase “fanático” com seus
valores e princípios, com seus objetivos elevados na vida, de se tornar um
vencedor em todos os sentidos, uma pessoa melhor.
Não ter uma rota de fuga, portanto, é “a recusa em cortar atalhos naquele relatório para seu chefe, entregar uma redação que atenda apenas ao mínimo dos padrões ou mentir para um amigo ou cônjuge”. Seria, enfim, a intransigência com o caminho mais fácil, e medíocre. Para o republicano, é esse compromisso com a excelência que marca a trajetória dos Estados Unidos, e que anda tão ameaçado. Ele desenvolve seu ponto:
A América teve sucesso
porque o plano de backup nunca foi uma opção. Somos uma nação
única na história mundial, construída com um propósito e não com a geografia ou
a etnia. Os Estados Unidos existem por causa de uma proposição sobre a natureza
da humanidade — que nossa natureza não deve ser moldada à força pelo governo,
mas que o governo existe para proteger nossos direitos inalienáveis. Em troca,
esperamos que nossos cidadãos vivam com obediência, moral e responsabilidade.
Para Crenshaw, esse propósito
foi crucial em momentos-chave da existência da nação. Ele cita um exemplo que
poderia ter mudado tudo lá atrás, quando uma comissão britânica fez uma oferta
generosa ao Congresso Continental em junho de 1778: “Paz. Comércio.
Consentimento americano para quaisquer forças britânicas na América. Ajuda britânica
para dívidas públicas americanas. Autogoverno americano completo sob a Coroa.
Representação americana no Parlamento”.
Como, então, recusar? “Os
britânicos, em suma, ofereceram aos norte-americanos uma lista de desejos de
concessões além dos sonhos mais loucos de qualquer radical revolucionário antes
de 4 de julho de 1776. Mas isso foi depois de 4 de julho de 1776. A América não
estava lutando por um bom negócio dentro do Império Britânico agora. A América
estava lutando para ser livre. A América tinha seu propósito. A América não
tinha plano B.”
Para a América, a partir
daquele momento, seria independência total ou nada. Contra o império mais
poderoso do mundo, que por acaso também estava ocupando a capital
norte-americana naquele momento, eles disseram não. “Nosso objetivo era
independência e liberdade, e isso não era negociável”, conclui o autor.
Não podemos pagar resgate aos sequestradores
Penso nisso quando vejo tanta
gente enaltecendo o “pragmatismo”, sempre significando ceder ao errado em prol
da simples sobrevivência. A ditadura comunista chinesa abusa do nosso país,
intrometendo-se até em assuntos parlamentares? Não vamos criticar, pois se
trata do nosso maior parceiro comercial. O Supremo Tribunal Federal rasga a
Constituição, persegue críticos e prende até deputado com imunidade
parlamentar? Não vamos falar nada, pois é preciso ser pragmático. No Brasil, o
mais comum é pular direto para o Plano C, num tom derrotista de quem cai no
fatalismo de acreditar que nunca poderemos de fato mudar.
Não derrotamos o PT, com
o impeachment de Dilma interrompendo o destino venezuelano em
nosso país, para contemporizar com tucanos esquerdistas que se mostram
pusilânimes com o PT. Não fomos às ruas contra a roubalheira e o Foro de SP
para permitir a volta daqueles que passam pano para Lula. Não desafiamos a
grande imprensa manipuladora para aceitar um presidente conivente que paga a
essa mídia corrompida para não receber críticas duras. A direita, com a vitória
de Bolsonaro em 2018, descobriu que é possível enfrentar a esquerda, o
“sistema”. Sabe que Bolsonaro está bem longe da perfeição, e muitos se
decepcionaram no caminho, em parte com razão. Mas o ponto aqui é outro: é não
ter um Plano B, não buscar a “paz” com esse mecanismo por meio de concessões
indevidas que tragam de volta ao poder a esquerda derrotada.
Nesses pouco mais de dois anos
de governo, muitas máscaras caíram. O grau de oportunismo de certos “liberais”
na pandemia foi digno de um Psol ou PT da vida. Políticos “novos” se mostraram
bem velhos nas táticas demagógicas, indicando que o laranja talvez seja só um
vermelho desbotado. Contra a polarização entre Lula e Bolsonaro, tucanos —
assumidos ou enrustidos — tentam se vender como o centro moderado ou mesmo a
direita, e isso seria um Plano B inaceitável para quem realmente acredita nos
valores liberais clássicos ou conservadores.
O ambiente no Brasil está
carregado, o clima é tenso, o próprio presidente falou que o país “está na
iminência de virar um barril de pólvora”. Estamos todos esgotados mesmo. Com essa
mídia abutre, esse STF arbitrário, essa oposição irresponsável, esse “sistema”
apodrecido, podemos até concluir que a corda só não arrebentou ainda porque o
brasileiro deve mesmo ser o pacato cidadão daquela música. Queremos alguma paz,
sem dúvida. Mas a que preço? Não pode ser ao custo de pagar um resgate aos
sequestradores, pois isso seria a pá de cal em toda esperança de mudar para
valer o país.
A direita não tem Plano B. O enfrentamento é a única saída digna, já que o outro lado escolheu a guerra suja. “Entre a desonra e a guerra, escolheram a desonra e terão a guerra”, disse de forma profética Winston Churchill sobre o acordo com os nazistas.
A esquerda não soube perder, não aceita a escolha de quase 58 milhões de brasileiros nas urnas. A postura é golpista, os rótulos depreciativos demonizam qualquer um que enxerga virtudes no atual governo, e isso não pode ser tolerado.
Negacionistas, fascistas, genocidas:
essas não são qualificações de quem busca diálogo civilizado sobre
discordâncias numa democracia, mas sim ataques diretos à integridade do outro.
Diante desses adversários, que preferem agir como verdadeiros inimigos mortais,
qualquer tentativa de concessão significaria a derrota final.
Consigo até compreender quem,
cansado de tudo isso, flerta com a hipótese de um tucano no poder para
teoricamente acalmar os ânimos. Mas prefiro a recomendação de Crenshaw: sem
Plano B. Esses tucanos já mostraram sua real essência esquerdista e
autoritária, e o Brasil merece ser livre!
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, revista Oeste,
nº 56, 16-4-2021
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