Alexandre Garcia
A CPI da Covid foi instalada
nesta terça-feira (27) e já está feita a pauta. A gente já sabe o que eles
desejam provar e qual é o objetivo. É o medo do resultado da eleição do ano que
vem. Então, é preciso enfraquecer o presidente Jair Bolsonaro. O primeiro a
depor vai ser o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e todos sabemos o
que ele pensa do governo também.
O presidente da comissão é o
senador Omar Aziz (PSD), do Amazonas, que teve a mulher presa duas vezes e os
três irmãos presos por desvios na saúde. O senador Renan Calheiros (MDB-AL),
que todo mundo conhece, vai ser o relator da CPI.
Renan, aliás, disse uma coisa
muito importante. Disse que a CPI é para punir os responsáveis pelas mortes. Eu
acho isso maravilhoso. Agora tem que separar, não é? Tirar política e tirar a
eleição do ano que vem, e analisar por que as pessoas morreram e quem provocou
isso. Porque não foi um só, foi um conjunto. E por quê?
Se a CPI conseguisse revelar
esse óbvio, seria uma maravilha. E, claro, encaminhar para a Justiça para
apurar as responsabilidades no Código Penal.
STF apressa o que não pode ser apressado
O ministro Ricardo Lewandowski {foto], do STF, havia dado 30 dias para a Anvisa se pronunciar sobre a vacina russa Sputnik V e liberar a importação aos estados que se prontificaram a comprar. A ação havia sido interposta pelo governo do Maranhão.
Se a agência não desse um
parecer dentro desse prazo, Lewandowski liberava os estados para importar a
vacina. A Anvisa mandou técnicos para a Rússia e Bolsonaro tentou ajudar
ligando para o presidente russo Vladimir Putin para apressar as coisas. Mas não
resolveu muito.
O Instituto Gamaleya, que fabrica a Sputnik V, não deu acesso a nada, segundo a Anvisa. Faltou transparência. Está lá no relatório da agência dizendo que o adenovírus, que é o vetor que leva o coronavírus enfraquecido, pode se replicar no corpo da pessoa vacinada, podendo causar uma virose, o que é grave. E que na produção havia a presença de impurezas e contaminações, ou seja, são coisas graves.
Mas a Anvisa queria mais tempo
para ir mais a fundo, poder ouvir e estudar mais a questão. Mas como o prazo de
30 dias acabava na noite de segunda-feira (26), eles tiveram que dizer “não
aprovamos” a Sputnik V por unanimidade — foi cinco a zero. Bom lembrar que a
Anvisa é um órgão independente do governo, tanto que Bolsonaro apoiou a compra
da Sputnik V, mas a agência teve que dizer não.
Só que agora Lewandowski lava
as mãos como Pilatos quando entregou Jesus para subir o calvário. Disse para o
governo do Maranhão o seguinte: olha, pode comprar, mas sobre sua “exclusiva
responsabilidade”. E mais: desde que “observadas cautelas e recomendações do
fabricante, e das autoridades médicas”.
Mas quem são as autoridades
médicas? Oras, a Anvisa. E como faz agora? Agora “Pilatos” vai ter que resolver
com o governador do Maranhão essa história. Ficou muito estranho isso.
Acreditando nos fatos e não nos factoides
Conversei com um grupo grande
de especialistas de grandes entidades estatais e privadas, financeiras e de
produção, que andam atrás da reforma tributária e administrativa que a Câmara
dos Deputados está tocando.
Eles me disseram o seguinte:
primeiro lugar, a gente não confia mais no noticiário tradicional. Já
perceberam que as notícias são deturpadas e que não dá para confiar mais nas
grandes organizações de mídia.
Em segundo lugar, hoje o grande herói deles é o presidente Arthur Lira (PP-AL), que está tocando as reformas na Câmara. E o sujeito que está transformando o país, dando uma aceleração ao país, segundo eles, é o ministro Tarcísio Freitas, da Infraestrutura.
A propósito, a Confederação
Nacional da Indústria (CNI) mostrou que a indústria brasileira está reagindo. A
capacidade ociosa já está menos da metade. Houve uma demanda de 50% de
crescimento do consumo de aço no mês de março. A indústria da construção
também.
Então está aí o milagre
brasileiro. Nós somos resilientes. E quando querem nos enrolar, a gente deixa
que eles se enrolem, porque nós acreditamos nos fatos e não nos factoides.
Título e Texto: Alexandre
Garcia, Gazeta do Povo, 27-4-2021, 21h53
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