A nova religião contemporânea se dissemina rapidamente e quer nos obrigar a participar de liturgias cruéis, bizarras e intermináveis
Ana Paula Henkel
No século 17, muitas das
colônias britânicas da América do Norte que viriam a formar os Estados Unidos
foram colonizadas por homens e mulheres que se recusaram a aceitar certas
convicções religiosas e decidiram fugir da Europa. A questão da liberdade
religiosa desempenhou um papel significativo na formação dos Estados Unidos e
no restante da América do Norte. Os europeus vieram para a América para escapar
da opressão e de crenças forçadas por igrejas afiliadas ao Estado.
Em 1787, após a Revolução
Americana, 55 delegados se reuniram em Filadélfia para debater o início do
documento fundamental para o país recém-formado, sua Constituição. Entre os
delegados estavam George Washington, John Adams, Benjamin Franklin e James
Madison — homens que a História um dia reconheceria como os Pais Fundadores da
América. Alguns se afastaram do cristianismo ortodoxo para abraçar o unitarismo
ou o deísmo, tendências cristãs liberais que enfatizavam a razão e a livre
investigação sobre as Escrituras. Outros aderiram a formas mais tradicionais da
religião cristã. Mas, apesar das diferenças individuais, esses homens
professavam a crença em Deus como o Criador do universo e acreditavam que a
religião encorajava uma cidadania moral, que consideravam essencial para o
sucesso da nova República.
A agitação civil do período
colonial e da revolução alimentou o desejo de estabelecer a organização de um
país em que fossem asseguradas a separação entre Igreja e Estado e a liberdade
de praticar a própria fé sem medo. Essa garantia foi consagrada na Primeira
Emenda da Constituição: “O Congresso não fará nenhuma lei a respeito do
estabelecimento de religião, nem proibirá seu livre exercício; nem restringirá
a liberdade de expressão, ou de imprensa; nem o direito das pessoas de se
reunirem pacificamente, ou de fazerem pedidos ao governo para obter reparação
de queixas”.
Nos Estados Unidos, a
influência da religião, seja na expansão de suas crenças e experimentos ou na
negação de suas doutrinas, estendeu-se — muito além do lar e dos locais de
culto — para todas as facetas da sociedade, do comércio à defesa, da política à
mídia, da educação ao entretenimento.
Os jovens das décadas de 1960 e 1970 viveram em tempos tumultuados, testemunhando o assassinato de um presidente, a Guerra do Vietnã e o assassinato de Martin Luther King Jr. Na rebelião contra o establishment, os Baby Boomers (a grande geração nascida entre o final da 2ª Guerra Mundial e meados da década de 1960) participaram do Movimento pela Liberdade de Expressão. Eles viveram a livre experimentação de drogas psicodélicas e exploraram grandes religiões mundiais como o hinduísmo, o budismo e o islamismo. As comunidades dirigidas por professores religiosos orientais prometiam “esclarecimento pessoal” e uma fuga da complexidade da sociedade moderna. A meditação transcendental varreu o país enquanto jovens e idosos tentavam lidar com os tempos de profundas mudanças. Em meados de 1965, o Movimento de Jesus tomou conta da nação, oferecendo transformação interior e um sentimento de união não identificado na cultura das drogas, na qual milhares de hippies tentavam encontrá-lo.
Então, em 1968, surgiu o
Movimento da Nova Era, com clarividentes e médiuns dando conselhos e falando
sobre vidas passadas e futuras. Uma vez tendo se identificado com a onda de
mestres espirituais orientais, os adeptos da Nova Era começaram a procurar
respostas na espiritualidade e no ocultismo durante os anos 1970. Na década de
1980, o movimento atingiu o pico; no entanto, as esperanças de mudança iminente
na ordem social desapareceram na década de 1990.
Durante anos, algumas
pesquisas têm apontado que uma parcela cada vez maior de norte-americanos não
se identifica mais com nenhuma religião. Mas no ano passado, e talvez com o
pico ainda a ser atingido, testemunhamos um renascimento religioso notável que
pode estar se secularizando rapidamente. O problema é que a religião em questão
é sombria, sem esperança, e mais parecida com uma seita exótica do que com a fé
verdadeira. A disseminação do culto à covid, a religião de crescimento mais
rápido nos Estados Unidos e no mundo desenvolvido, foi possível graças à
atuação de líderes mundiais com poder de usar medidas de saúde pública de
maneira assustadoramente poderosa em conluio e parceria com grandes corporações
de vários segmentos.
O culto à covid tem sua
própria elite clerical e seus próprios mandamentos e normas. E, como em
qualquer culto, os fanáticos adeptos trabalham para silenciar os hereges por
estes desafiarem a ortodoxia pública e mandatária de seus pastores. O primeiro
mandamento para professar essa fé é permanecer trancado. Pela primeira vez na
história, crianças, jovens, pessoas saudáveis e assintomáticas de todas as
idades foram “colocadas em quarentena” e em prisão domiciliar por longos
períodos. Não há uso de tornozeleiras eletrônicas (ainda), e questionar não é apenas
uma heresia, mas um crime hediondo quase inafiançável, que pode resultar no
veredicto de sentença de morte virtual, com que os jacobinos da internet
degolam cabeças e reputações nas plataformas e redes sociais.
O culto de fanáticos testa diariamente a fé de suas ovelhas
Há um ano diante de um altar
macabro, preparado com a hipnose do falso mantra “vamos salvar vidas”, muitos
já começam a demonstrar dificuldade para recordar em detalhes como era a vida
antes da lavagem cerebral desse culto. Não há convívio pessoal, não há abraços,
nem celebrações como nascimentos de bebê e casamentos, não há alegria. E é isso
que querem. A única maneira de colocarmos as decisões de nossa vida nas mãos de
governantes e burocratas é por meio do pânico. E cultos macabros sabem fazer
isso como ninguém. Lockdowns (shh… os clérigos do culto à
covid disseram que não podemos mais usar essa palavra) são uma imposição sem
precedentes aos nossos direitos fundamentais de ir e vir, de trabalhar, de
estudar, de produzir, de se reunir e adorar a Deus (e não as divindades da
covid!).
A hipnose mundial foi
instaurada de maneira tão eficaz que, não sei se vocês se lembrarão, os
clérigos do novo culto mundial nos disseram que os lockdowns (shhhh…)
durariam apenas algumas semanas, apenas até que “achatássemos a curva”.
Obedecemos. Depois, fizemos isso novamente alguns meses atrás. Há algumas
semanas, de novo. A curva não se achatou, a liturgia dos lockdowns (shhhh,
Ana!) continua e, se questionar que diabos está acontecendo, você é um
genocida!
Mas culto de fanáticos que se
preza, que testa diariamente a fé de suas ovelhas, não apenas orienta seu
rebanho nas palavras a ser ditas, mas coloca veste nas bocas: para sinalizar a
virtude dessa crença, você deve usar uma máscara (se quiser usar duas, melhor
ainda, sua fé é inabalável, irmão!). Essa norma é tão essencial que mesmo
aqueles que estão totalmente vacinados continuam a usar máscaras de pano ou
descartáveis, cuja eficácia é, no mínimo, questionável, de acordo com alguns
infectologistas hereges pelo mundo. Quando a cesta do dízimo das grandes
farmacêuticas passa, há um aviso de que as vacinas são extremamente eficazes —
embora não o suficiente, aparentemente, para interromper a liturgia dos lockdowns (agora
é demais! De joelhos, Ana!) ou para evitar a obrigatoriedade do uso de máscara.
Algumas doses extras de uma vacina experimental podem ser necessárias. Quantas
mais? Não sabemos, ninguém sabe, e não precisamos saber, ora! Chega de
perguntas! Que falta de fé! De joelhos você também!
Mas culto “bom”, que cega por
completo seu rebanho e testa a “fé” pra valer, é aquele que se propõe a fazer
com que inocentes sofram. Como a maioria dos cultos bárbaros, o da covid exige
o sacrifício de crianças, embora menos abertamente sangrento que o da antiga variedade
pagã. Sob o culto ao vírus, o desenvolvimento educacional e a saúde física e
mental de nossos filhos foram sacrificados no altar da “segurança absoluta para
salvarmos vidas”.
A classe sacerdotal de
epidemiologistas atrelados às grandes empresas farmacêuticas, bem como a
categoria de funcionários de escolas de braços dados com líderes sindicais, é
extremamente importante na hierarquia do culto e na tarefa de conduzir a
liturgia sombria. A mídia fúnebre fornece ao grupo previsões de desgraça
iminente se as crianças e seus pais não continuarem a sacrificar a liberdade e
o desenvolvimento social e acadêmico. “Você pode matar o vovô ou a vovó” é a
resposta do bem que eleva o espírito das almas penadas da imprensa.
E o que pregam os ensinamentos
mais centrais do culto? Que somos apenas fábricas de germes, cujo movimento e
interação social devem ser severamente limitados e até impedidos. Os políticos
afirmam “seguir a ciência” quando, na verdade, estão realmente seguindo os
decretos do culto, que são imunes à razão e às evidências científicas — entre
elas, a constatação de que as crianças transmitem o vírus a uma taxa muito
menor que os adultos, ou que a transmissão externa é tão insignificante que
torna questionável o uso de máscara.
Caro amigo, não sei você e sua
família, mas eu não me lembro de ter escolhido entrar para uma seita
irracional. No entanto, temos sido intimados diariamente a participar de
liturgias cruéis, bizarras e intermináveis. Quaisquer que sejam suas crenças
religiosas e de sua família, o novo culto à covid é uma espécie de avivamento
religioso de que o mundo não precisa.
Ao descrever um modelo
totalitário de sociedade em O Caminho da Servidão (1944),
Friedrich Hayek diz: “Todo o arsenal educativo — as escolas e a imprensa, o
rádio e o cinema — será empregado exclusivamente para disseminar as ideias,
verdadeiras ou falsas, que fortaleçam a crença na justeza das decisões tomadas
pela autoridade. E toda informação que possa causar dúvidas ou hesitações
deverá ser suprimida. A crítica e mesmo as expressões de dúvida precisam ser
suprimidas porque tendem a enfraquecer o apoio geral”.
No atual macabro culto a um
vírus, faça como a Revista Oeste e seja um herege. Questione e
defenda suas liberdades com responsabilidade, mas jamais coloque sua vida no
altar de quem só quer poder.
Título e Texto: Ana Paula
Henkel, revista
Oeste, nº 56, 16-4-2021
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