sábado, 17 de abril de 2021

Supremo inaugura monumento ao surrealismo

Lula continuaria condenado se as patifarias que cometeu só alvejassem a Petrobras

Augusto Nunes

A Folha de S. Paulo, sempre gentil com o ex-presidente e ex-presidiário, assim resumiu a decisão do Supremo Tribunal Federal que confirmou a anulação das condenações impostas a Lula e a devolução dos seus direitos políticos: "A maioria dos ministros concordou que as ações contra o petista não tratavam apenas da Petrobras e que a competência da 13ª Vara Federal de Curitiba dizia respeito somente a processos com vinculação direta com a petrolífera". A pobreza do texto combina com a indigência do pretexto invocado por oito ministros para, na prática, absolverem um pecador juramentado.

Para esses juízes, portanto, as condenações continuariam valendo caso Lula se limitasse a arrombar cofres da Petrobras. Como as patifarias das quais participou se estenderam a outros alvos, teve o prontuário zerado e pode disputar um terceiro mandato presidencial. O Brasil não é mesmo para principiantes. E o STF está acima da compreensão dos melhores profissionais.

Responsável pelos processos vinculados à Operação Lava Jato encaminhados ao Supremo, o ministro Edson Fachin passou alguns anos produzindo despachos, pareceres e decisões. Só agora descobriu que os casos deveriam ter sido examinados pela Justiça Federal de Brasília, não a de Curitiba. Nesta quinta-feira, o que é também chamado por seus integrantes de Pretório Excelso só completou o serviço.

Os ministros fazem questão de ressaltar que Lula não se tornou inocente. Apenas deixou de ser culpado. Esse monumento ao surrealismo avisa que pode ser consumada na próxima semana, a chicana perfeita. Basta que a maioria do Timão da Toga aprove a decisão da Segunda Turma que colocou sob suspeição o juiz Sergio Moro. Nessa hipótese, os processos contra Lula serão atirados ao lixo. O Petrolão se transformará numa invencionice da direita moralista. E ficará estabelecido que o maior esquema corrupto da História nunca existiu.

Título e Texto: Augusto Nunes, R7, 17-4-2021, 9h15

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