Não vai haver golpe militar nenhum. Vai
haver um regime totalitário se Lula voltar ao governo. O resto é fumaça para
esconder a verdade
J. R. Guzzo
Está sendo executada neste momento no Brasil a manobra mais velha e possivelmente mais sórdida que existe na história da bandidagem política mundial — acusar o inimigo de estar fazendo exatamente aquilo que você vai fazer de pior, assim que tiver a oportunidade de mandar no governo. O truque de hoje é a operação que anuncia todos os dias na mídia, na discussão política e na máquina pública, para não falar nos representantes da “sociedade civil”, ameaças terminais à democracia por parte “do governo”, “dos militares”, “do Bolsonaro” e por aí afora. É mentira em estado puro. A ameaça real e objetiva, que existe no mundo dos fatos e não na gritaria, é o ex-presidente Lula, agora candidato de novo à Presidência da República. É a vigarice de sempre: enquanto se fala do perigo falso, vai se montando peça por peça o perigo de verdade. Não vai haver golpe militar nenhum. Vai haver um regime totalitário se Lula voltar ao governo. O resto é fumaça para esconder a verdade.
Foto: Antonio Scorza/Shutterstock |
Não se trata, aí, de um ponto
de vista. É a simples exposição de fatos que estão ocorrendo aos olhos de
todos: Lula é a única ameaça que existe no momento contra a democracia brasileira
porque ele mesmo, Lula, e o seu entorno mais ativo anunciam abertamente
projetos de destruir essa democracia se ele for eleito em 2022. O maior desses
projetos, pelo que estão dizendo agora Lula e o PT, é liquidar a liberdade de
imprensa no Brasil. Não falam assim, é óbvio; ninguém fala assim, nem na Coreia
do Norte. Embrulham o seu propósito numa trapaça: a de que querem “melhorar” a
qualidade da imprensa, ou torná-la mais “verdadeira”, mais “justa”, mais isso,
mais aquilo, com novas regras para o seu funcionamento. Sai a liberdade de
pensamento assegurada no Artigo 5 da Constituição do Brasil. Entra em seu lugar
o “controle social da mídia”, como diz Lula. É um pacote de regras que tem um
objetivo claro e um efeito inevitável: colocar a imprensa brasileira, na vida
real, debaixo do comando do governo e dos “movimentos sociais” controlados por
ele.
Controle social é isso: censura. Não é outra coisa, e nem pode ser, porque não existe na história humana, desde que Gutemberg inventou a máquina de imprimir 500 e tantos anos atrás, nenhum episódio — nenhum mesmo — em que um governo tenha feito leis sobre a imprensa sem reduzir, prejudicar ou acabar com a liberdade da imprensa. Não há como ser de outro jeito. Se o Estado dá a si próprio o direito de decidir o que o público pode ou não pode ler, ver e ouvir, vai acabar havendo censura. Como seria possível não haver? A partir do minuto em que uma comissão qualquer, criada pelo governo, ganha o poder de vetar esta ou aquela palavra em nome do “bem comum” — palavra, frase, assunto —, esse governo passa, queira ou não queira, a praticar censura. Os mecanismos de “controle social da mídia” propostos por Lula irão, em algum momento da sua existência, ampliar o que a imprensa pode dizer sobre isso ou aquilo? É claro que não. Só vão reduzir, é óbvio — cortar, diminuir, proibir. Com Lula, a publicação de conteúdo editorial no Brasil vai depender de licença. Quem dá a licença manda. Quem pede a licença obedece. Fim de conversa. A vida é isso, sempre.
Tudo o que o comissariado da comunicação social não aprovar será
considerado “notícia falsa”.
A volta de Lula à Presidência
não é apenas a volta das empreiteiras de obras públicas ao governo. Não é só o
reinício dos assaltos aos fundos de pensão, nem o retorno triunfal dos ladrões
da Petrobras, da Eletrobras, da Nuclebras e de todas as “bras” que são a paixão
do ex-presidente. Não é só o regresso dos banqueiros — tão estressados com a
abstinência de poder que foram capazes, imaginem só uma coisa dessas, de pensar
em aderir a um manifesto com críticas à política econômica do governo. (Depois
recuaram, é claro.) Não é só a volta de Sérgio Cabral, condenado a 390 anos de
cadeia por corrupção (Lula disse que votar em Cabral era um “dever político e
moral”), dos que roubaram tanto que se ofereceram para devolver parte do que
roubaram e dos vendedores de sondas para a extração de petróleo. Não é apenas a
retomada das atividades dos “Ronaldinhos do mundo de negócios”, como Lula chama
a um dos seus filhos. É tudo isso, sim — mas é principalmente a pior ameaça às
liberdades públicas e privadas que o Brasil já conheceu depois de 1964.
A primeira delas é a liberdade
de expressão. Lula, em suas declarações mais recentes, tem dito que o erro mais
grave dos governos do PT, o seu e o de Dilma, foi não ter conseguido criar o
“controle social dos meios de comunicação” no Brasil. Afirmou, a propósito, que
se tivesse de fazer uma “autocrítica”, seria esse o seu arrependimento: deixou
a imprensa livre. (É ele mesmo, Lula, quem está dizendo isso. Não é nenhum
adversário político.) Liberdade de expressão, para o ex-presidente, é uma coisa
errada. Seu mundo mental predileto é o da censura. E o que pode ser, na
prática, a censura de Lula? É o tal “controle social” dos meios de comunicação
— um sistema no qual, simplesmente, é proibido publicar o que o governo não
quer que seja publicado. Ou o governo, diretamente, através dos seus
Ministérios das Comunicações, secretarias de imprensa, comissariados e outros
bichos, ou um “conselho” qualquer com “representantes da sociedade” — uma
aglomeração de OAB, CNBB, MST, CUT, UNE, procuradores, professores, mulheres”,
“negros”, “índios” e o que mais você possa imaginar.
Lula já diz que regulará a imprensa e a Internet se for eleito. Segundo o criminoso petista, isto não seria censura, seria apenas para "conduzir a Internet pro bem" e "democratizar" as televisões repartindo elas.
— Caneta Desesquerdizadora (@Desesquerdizada) August 26, 2021
Este é o "democrata" segundo a mídia brasileira. pic.twitter.com/4Dz7cZ7x2U
“Controle social da mídia” é
isso — os membros de um organismo que está fora dos meios de comunicação passam
a aprovar ou vetar qualquer coisa que a imprensa queira divulgar para o
público. É simples. O que eles aprovam sai publicado. O que eles vetam não sai.
Mais: esses órgãos de “controle” podem punir, com cassação de licenças, multas
para veículos, penas para jornalistas e outras aberrações, quem não se
enquadrar nas regras impostas pelo governo. Sua ferramenta de repressão
preferida, pelo que tem sido dito até agora, será o “discurso do ódio”, uma
criação multiuso da esquerda mundial. No caso, quando o governo estiver sendo
criticado e não goste da crítica, os órgãos de controle dirão que ele está
sendo vítima de “discurso do ódio”. Pronto: fica proibido publicar o que o
governo não gosta. Outro pé de cabra da censura serão as utilíssimas fake
news, ou “notícias falsas”. Tudo o que o comissariado da comunicação social
não aprovar será considerado “notícia falsa”. Pronto: a notícia não sai. Se é
falsa não pode sair, não é mesmo?
Numa e na outra circunstância,
o governo dirá que está servindo ao bem comum, que precisa ficar acima da
liberdade individual — com isso, vai salvar o povo brasileiro de ouvir palavras
de ódio ou notícias falsas. Hoje as “agências de verificação” decidem o que é e
o que não é fake news. No novo sistema, o órgão de “controle social”
tomará a decisão — ou, então, as tais “agências” poderão ser terceirizadas para
executar esse serviço (desde que declarem “notícia falsa” o que o governo quer
que seja notícia falsa.) Está na cara o mundo de possibilidades de censura que
esses truques irão permitir a quem manda na máquina do Estado. Imagine-se, por
meio minuto, o que o atual governo poderia fazer se estivesse em vigor o
sistema que Lula quer impor ao Brasil se for eleito. Nenhum governo brasileiro
desde 1500 levou tanta pancada da imprensa quanto o de Jair Bolsonaro. Foi
chamado de desordeiro, de psicopata e de genocida; não foi chamado de ladrão,
mas no resto foi excomungado em tudo. Chegaram, inclusive, a desejar que o
presidente morresse quando ficou doente, em letra de fôrma e impressa no papel.
Se isso não é manifestação de ódio, o que seria? Os órgãos de imprensa ou
jornalistas não sofreram absolutamente nenhuma punição por isso, nem foram
incomodados de qualquer modo que fosse. Pelo sistema que Lula quer criar, nem
um centésimo de nada disso poderia ser publicado.
O que Lula quer é isso: uma imprensa venezuelana no Brasil.
Lula, nas suas últimas aulas
sobre como deve ser o Brasil daqui para a frente, achou que deveria falar da
imprensa em Cuba ou na China para explicar o que pretende fazer com a imprensa
do seu próprio país. Avisou, a respeito, que não vai fazer no Brasil a
“regulamentação” que existe na China e em Cuba — ele chama assim, de
“regulamentação”, duas das mais ferozes máquinas de censura hoje em operação no
mundo. Que sorte a nossa, não é mesmo? Lula diz que não quer submeter o Brasil
a uma situação de liberdade zero, como na China e em Cuba. O que quer, então?
Ele veio, no começo, com uma história de fazer aqui como se faz na imprensa
“inglesa” ou na imprensa “alemã”. Que diabo quer dizer uma coisa ou
outra? Desde quando Lula entende disso? Ele nunca leu um jornal alemão na
vida, nem inglês; não sabe, simplesmente, o que está falando. Sua intenção real
ficou clara, logo em seguida, quando dissertou sobre a situação da mídia na
Venezuela — aí si, coisa que ele conhece e da qual gosta. O que
Lula quer é isso: uma imprensa venezuelana no Brasil. Pode não ser a China ou
Cuba, mas dá quase na mesma.
Na Venezuela, não há liberdade
de imprensa praticamente nenhuma — os veículos de comunicação livres foram
liquidados pelo governo durante as ditaduras dos presidentes Hugo Chávez,
primeiro, e Nicolás Maduro, agora. (Sobra um jornal, El Nacional,
no momento sob investigação por “questionar as autoridades”.) Foi uma
necessidade, segundo Lula, pois a mídia queria acabar com o governo. “Eu vi
como a mídia destruía o Chávez”, disse Lula.
É o exato contrário da
verdade, como é comum acontecer em tantas coisas que o ex-presidente diz em
público. Por força, uma depois da outra, da Ley Organica, da Ley
de Responsabilidad e da Ley del Odio y por la Tolerancia impostas
aos meios de comunicação, e depois estendidas às redes sociais, quem foi
destruída na Venezuela foi a imprensa livre. Ao longo dos anos, esses
mecanismos de “controle social” dos meios de comunicação obrigaram os veículos
a publicar notícias enviadas pelo governo, fecharam empresas de mídia por
“questionar a autoridade legitimamente constituída” e cassaram licenças de
funcionamento de emissoras de rádio e televisão.
O resultado concreto disso
tudo é que ao longo desses anos de ditadura, de 2004 para cá, o governo mandou
encerrar as atividades dos seis maiores canais de televisão da Venezuela, três
quartos dos jornais foram fechados e 40 emissoras de rádio tiveram suas licenças
cassadas por “irregularidades”. A Ley del Odio, particularmente,
prevê punições de até 20 anos de cadeia — cabendo ao governo, é claro, o poder
e definir quem pratica o “ódio”. Em geral, “odiar” é falar mal dos governantes,
sobretudo nas redes sociais.
Os planos de Lula para a
imprensa são apoiados com entusiasmo pela maioria dos jornalistas brasileiros e
tratados com timidez, reverência ou silêncio pelos proprietários dos veículos
de comunicação. Faz sentido. Os jornalistas são a favor do “controle social” da
mídia, até porque quase nada do que dizem hoje desagradaria aos futuros
censores; além do mais, acham que o “bem comum”, ou a “sociedade”, precisa de
uma imprensa submetida ao controle do governo. Na sua opinião, é melhor que
seja assim. Acreditam que a liberdade de expressão não pode ser “absoluta” — o
Artigo 5 da Constituição deve ficar abaixo do “interesse maior” que é, no seu
entender, “a democracia”. A liberdade de expressão está longe de ser absoluta
no Brasil; todo cidadão ou veículo de comunicação são 100% responsáveis pelo
que afirmam, e estão devidamente sujeitos a processos penais ou ações cíveis
por tudo o que escrevem, dizem ou mostram. Mas realidades como essa foram
suprimidas do debate. Num país em que um deputado federal em pleno exercício de
seu mandato está preso por delito de opinião, contra o que estabelece de
maneira indiscutível a Constituição, a liberdade de imprensa passou a ser
artigo barato.
Não poderia haver estímulo
melhor para Lula e para as suas ideias do que deve ser a comunicação social
neste país.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
revista OESTE, nº 76, 3-9-2021
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