José Manuel
Estávamos no início do mês de
junho de 2013, e já eram passados sete anos sem que uma, atitude honesta fosse
tomada pela UNIÃO, ou pelo STF, para resolver a tragédia gerada pela Secretaria
de Previdência Complementar em 2006, ao irresponsável ato de ter feito uma
intervenção e liquidação dos planos 1 e 2 do AERUS, fundo de pensão da VARIG.
Um verdadeiro holocausto no
seio de vinte mil pessoas que dependiam do AERUS para viver.
Um assassinato oficial de
milhares de beneficiários idosos e doentes ocorreu logo a seguir a este fato
odiento, principalmente irresponsável, pois a VARIG à época já aguardava junto
ao STF uma resposta mais do que evidente pela reparação por diferenças
tarifárias, desde 1993 e já com jurisprudência, pois a Transbrasil foi
beneficiada com essa indenização semelhante no ano de 1992. Portanto, não havia
necessidade de se ter feito aquela estupidez!
Só para se ter uma ideia dos
descalabros em nosso país, a VARIG só teve seu julgamento final no Supremo, com
resultado a favor em 2014, ou seja, 22 anos depois da Transbrasil e mesmo assim
ainda não concluído pois até ao momento não pagaram a quem devem por força de
um julgamento favorável no STF.
O que em 2014 foi decidido por 3 bilhões, hoje, sete anos depois, já está em aproximadamente 15 bilhões, a VARIG exterminada e os puxa-sacos acham que não vão pagar. Eles também achavam que não iam pagar a tutela e, no entanto, nós sabemos o resultado. Se acham inteligentes e jogam a conta sempre no colo do povo que aceita tudo passivamente, enquanto eles ficam no troca troca de cargos e salários às custas de uma sociedade leniente e ignorante em leis.
Então, 29 anos são passados e
podemos concluir que a UNIÃO, propositalmente matou a VARIG, e aproximadamente
5 mil pessoas foram mortas. Assassinato premeditado é o único nome que pode ser
dado a essa tragédia.
Aliás, para quem ignora, existe
uma moção nossa à Corte Interamericana de Direitos humanos, desde 2013/2014,
que começou a ser desenhada lá no aeroporto.
Então, voltando a 2013, ficou
muito claro que alguém teria que fazer alguma coisa e desafiar o status quo
vigente.
Mas como? Teria que ser algo
grande, que mexesse com o sentimento das pessoas, enfim, que o público em geral
tomasse conhecimento dessa atrocidade contra nós. Foi aí que me veio à cabeça
fazer uma greve de fome no coração da aviação, o aeroporto Santos Dumont.
Mas isso seria algo muito
sério e comecei a estudar todos os aspectos dessa minha decisão. Em primeiro lugar consultei minha família
pois seriam os mais prejudicados caso alguma coisa desse errado. Aprovação
sofrida claro, o ato seguinte foi consultar uma amiga médica cardiologista para
saber quais as possibilidades de insucesso pessoal.
Foi muito clara e direta: "você não vai morrer de fome! Vai se hidratar muito e permanecer em silêncio. O único desafio sério que terá será o de não olhar o semblante das pessoas que olham pra você com pena. Se você ficar olhando, aí você morre, pois a tua parte psíquica será muito afetada”.
As duas primeiras ações
tiveram êxito e resolvi partir para uma terceira, onde a decepção quase me fez
desistir, mas como pressenti que havia algo errado resolvi insistir na ideia.
Por essa época uma amiga
trabalhava conosco na loja que montamos, e seu marido, o Lira, ex-comandante da
Transbrasil, tinha acesso fácil ao SNA pois havia lidado com eles por algum
tempo. Pedi a ele que fossemos lá, pois precisaria de um apoio, talvez um
médico e inclusive apoio logístico. Quem melhor do que um sindicato de
Aeronautas para o fazer?
Fomos recebidos amavelmente
pelo Comissário Bona, colega do Lira na mesma empresa e contei o que pretendia.
O interessante é que não senti firmeza na recepção à ideia, além de perceber
que o Zoroastro que estava presente no meu campo visual, o tempo todo em que lá
estivemos, mas sem se aproximar de nós em tempo algum, nem que fosse apenas
para um cumprimento
Afinal, berimbelas à parte
éramos todos Aeronautas!
Aquela entrevista me soou
estranha e fomos embora sem nada definido, porém, a resposta à minha
desconfiança logo viria, dias depois.
Então, munido apenas da minha
força interior e minha esperança no futuro, resolvi que o início da greve seria
numa segunda-feira, dia 17 de junho.
Nos dias 5, 6, e 7 tinha
havido manifestações nas ruas do Rio e São Paulo. Estava prevista para o dia 17
uma grande manifestação e tive de suspender o meu projeto, pois iria ficar
completamente deslocado diante de tão grandes atos populares. Essa suspensão se
deu até ao final de junho com grandes manifestações por todo o país.
No dia 27 de junho veio a
resposta ao meu questionamento sobre o SNA. Eles invadiram a sede do AERUS para
forçar o governo a tomar providências. Achei ótimo à época pois era mais uma
forma de pressionar, mas não vou discorrer sobre este assunto, pois esse
movimento apesar de positivo à nossa causa, não pertence às minhas memórias.
Uma vez que já no final de
junho haviam tomado aquela decisão, resolvi estender um pouco mais o início do
meu protesto, para não interferir no deles.
Finalmente agosto chegou, mais
tranquilo, e resolvi então estipular que o dia do meu aniversário, no dia cinco
de agosto, numa segunda-feira e com 67 anos, iria realizar algo jamais pensado
em minha vida.
No sábado, 3 de agosto fomos, eu, a Irene e meu filho ao aeroporto para determinar o melhor posicionamento para a minha estadia, logística de banheiro, repouso à noite e uma foto já para enviar à revista virtual Cão que fuma com a primeira notícia da manhã.
Na segunda-feira, 5 de agosto,
saí cedo de casa para me juntar a um grupo nosso que protestava na porta do
Aerus na rua do Ouvidor. Após algum tempo, resolveram se manifestar nas
escadarias da Câmara dos vereadores, Cinelândia. Então, para não interferir
nesse protesto do SNA, chamei a minha amiga e comissária Edi Oliveira, uma
guerreira valorosa, a um canto e lhe disse que não ia com eles, porque iria
iniciar uma greve de fome no aeroporto, naquela manhã.
Claro, que logo após ter me
instalado no aeroporto, a Edi carregou todo mundo pra lá. Mais tarde chegaram o
César Bugre e o Alberto José ao anoitecer desse dia. Imagem
Logo a seguir chegaram os
primeiros repórteres do Globo, avisados pelo Alberto José e ali mesmo, na
porta, dei a minha primeira entrevista.
O sucesso desse movimento foi
tão grande, que a partir da manhã de terça-feira o saguão do aeroporto começou
a ficar lotado de variguianos e aeronautas em geral, e já anoitecendo a notícia
havia corrido tão veloz, que pelas 18 horas estava cercado de repórteres da
mídia falada e televisiva, me entrevistando. Tudo isso está registrado tanto no
Google como no YouTube.
Os dias que se seguiram, foram
como uma romaria indescritível ao Aeroporto para me desejar força. Claro que o
silêncio pedido pela médica era impossível e tentei me adaptar às circunstâncias
que iam acontecendo. No final daquela semana, o Ministro Joaquim Barbosa,
presidente do STF, foi interpelado publicamente se ele sabia que havia um
funcionário da VARIG em greve de fome no Santos Dumont, e se tinha noção do que
poderia ocorrer caso ele não colocasse o processo em pauta para julgamento,
pois o mesmo estava havia meses esquecido ou arquivado. Claro que diante das
câmeras ele confirmou que tomaria essa decisão na semana seguinte.
Primeira vitória e começava a
ser pavimentado o nosso caminho. Assim mesmo, tive que voltar mais duas vezes
até que a exaustão de pedidos e de reportagens tomasse conta daqueles que nos
tinham nas mãos.
Foi lá no aeroporto que
começou a minha parceria com o Thomaz Raposo, que foi lá me prestar assistência
e lá mesmo passei a ser participante da Aprus.
Há muito, muito mais para
contar sobre a minha estadia no aeroporto, fatos que se sucederam, minhas
noites no chão, meus banhos parciais em pias de banheiro público, o meu medo de
ser expulso pela Infraero, as noites insones, os problemas com alguns, o total
desconhecimento do que é um movimento como uma greve de fome, a belíssima
atenção dos meus colegas, e os dois pedidos insistentes do SNA para que me
juntasse ao movimento deles, etc., mas isso fica para outro texto.
A DECISÃO
O plenário do Supremo Tribunal
Federal decidiu,em 12 de março, que a antiga Varig e mais de 20 mil pessoas que
contribuíram para o fundo de pensão Aerus têm direito a indenizações que podem
chegar a R$ 6 bilhões.
O processo tramita no STF
desde 2007. Com a vitória da Varig, o dinheiro das indenizações deverá ser
usado para o pagamento de dívidas trabalhistas individuais e aposentadorias. A
falência da Varig foi decretada em 2010.
O importante desse movimento
no aeroporto foi chamar muito a atenção para nós que estávamos sendo
penalizados há sete anos sem ter culpa e isso ficou provado depois na ACP.
Finalmente, em 12 de março de
2014, portanto sete meses após o início dos movimentos, o meu e o do SNA,
obtiveram êxito com o STF reconhecendo a procedência da ação da VARIG.
Ressalto que todos foram
importantes naqueles nossos movimentos de junho e agosto de 2013. E acredito
mesmo que sem eles estaríamos até hoje esperando por algo que não viria.
A presença maciça de
variguianos no Santos Dumont, durante as três vezes em que lá estive, foi
preponderante em nossa vitória e nos mostrou o caminho a ser percorrido no
futuro.
Título e Texto: José Manuel – Com este texto, tento mostrar que o único caminho para o recebimento do que nos devem, é a união de todos, como ocorreu naquele aeroporto. Fora isto, não há outra maneira disso acontecer. Acreditem! Dezembro de 2021
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José Manuel, o meu eterno reconhecimento. Coragem, bravura, determinação, persistência, conhecimento dos fatos para reivindicar, entre tantos outros atributos que marcam tua personalidade, foram decisivos naqueles dia históricos. Definitivamente a tua atuação está registrada como importante contribuição para que tenhamos uma velhice digna. Muitos de nós lutaram, e tombaram. A eles as nossas homenagens. Outros, como Jim Pereira, titular deste espaço, criaram Movimentos (MOV ACÔRDO JÁ),lideraram manifestações e merecem, igualmente, nosso respeito e admiração.
ResponderExcluirSigamos estes belos exemplos do passado recente, estando ALERTAS E UNIDOS.
Obrigado, muito obrigado José Manuel
Vilmar Mota