Bolsonaro mantém suas caneladas econômicas no campo da retórica
Caio Coppolla
Se estivéssemos diante da
árdua tarefa de escolher apenas uma fala demagógica de Lula para persuadir
investidores, gestores, banqueiros e atores do sistema financeiro a rechaçarem
mais ativamente a recondução do ex-condenado à cena do crime, esta
seria forte candidata:
“Quero dizer aqui em alto e
bom som, eu sei que o mercado fica nervoso quando eu falo, mas eu quero que
eles pensem o seguinte: nós vamos abrasileirar o preço da gasolina. O preço vai
ser brasileiro, porque os investimentos são feitos em reais”.
Algumas constatações sobre o
plano petista de aplicar o jeitinho brasileiro aos
combustíveis:
Lula sabe que o Brasil não é
autossuficiente em petróleo leve e derivados. Ainda assim, propõe a venda de
gasolina e congêneres com preço descolado das cotações internacionais em dólar,
o que traria prejuízos irreversíveis à Petrobras — e ao seu maior acionista, o
governo brasileiro —, além de provocar uma crise de desabastecimento que,
literalmente, pararia o país. Um quarto do diesel consumido por aqui é
importado, uma transação comercial complexa que não encontraria razão de ser
caso o preço de aquisição no exterior (flutuante e em dólar) se descolasse do
preço de revenda no Brasil (tabelado e em real).
Mas convenhamos que o
imediatismo, o populismo e o intervencionismo de Lula não causam nenhum
espanto. Seu discurso dorme no formol, não amadureceu nada ao longo
das décadas e sequer exibe rugas de expressão pela longa experiência no poder.
Contudo, surpreendeu ouvir o atual presidente da República insistir em se
alinhar a essa retórica antiliberal:
“Agora, tem uma legislação
errada feita lá atrás que você tem a paridade com o preço internacional, ou
seja, o que é tirado do petróleo, leva-se em conta o preço fora do Brasil, isso
não pode continuar acontecendo”, afirmou Bolsonaro, no começo da
semana. “Leis feitas erradamente lá atrás atrelaram o preço do barril
produzido aqui ao preço lá de fora, esse é o grande problema, nós vamos buscar
uma solução para isso de forma bastante responsável”.
Oportunistas
saudosos de um Estado inchado tentam se aproveitar da crise para subverter as
leis do mercado aos moldes da sua ideologia
Ato contínuo, os papéis da Petrobras despencaram 7% num dia de alta histórica do petróleo no mercado internacional, uma proeza apenas comparável à queda das ações quando do anúncio de um lucro substancial da petroleira (em outubro de 2021), também criticado por Bolsonaro: “Tem que ser uma empresa que dê um lucro não muito alto, como tem dado” — na ocasião, a receita líquida da companhia havia crescido 71%, mas suas ações caíram 6% graças às críticas do presidente. Vale lembrar que uma Petrobras lucrativa beneficia muito o governo: a estimativa é que, entre dividendos e tributos, a companhia tenha contribuído com mais de R$ 230 bilhões aos cofres públicos, o equivalente a mais de R$ 26 milhões por hora ao governo.
Voltando aos comentários de
Lula e Bolsonaro sobre abrasileirar o preço da gasolina, é
forçoso reconhecer que não há grande diferença no tom e no conteúdo das falas
de ambos os presidenciáveis sobre o tema. Contudo, apesar de todas as bravatas,
Bolsonaro permanece como o único presidente que não recorreu aos cofres
públicos para interferir nos preços dos combustíveis, mesmo diante de enormes
pressões inflacionárias, políticas e eleitorais. Ações valem mais do que
palavras e ele merece crédito por manter suas caneladas econômicas no
campo da retórica.
Claro que um cenário de
guerra, como o que estamos atravessando, comporta medidas extraordinárias.
Ainda assim, há soluções melhores que outras. Isenções tributárias e mudanças
na aplicação de impostos (abusivos) são bem-vindas e estão sendo endereçadas
pelo Executivo e pelo Legislativo. Mas à espreita na esquerda, oportunistas
saudosos de um Estado inchado, interventor e tabelador de preços tentam se
aproveitar da crise para subverter as leis do mercado aos moldes da sua
ideologia. Como se isso fosse possível e já não houvesse fracassado por aqui e
lá fora, inúmeras vezes. Basta olhar o caso da Venezuela, onde o preço da
gasolina não é dolarizado: um país quebrado com gasolina barata por
decreto, mas racionada por necessidade, cuja empresa petrolífera foi sucateada
e perdeu toda capacidade de investimento.
Oscar Wilde escreveu que “o
único jeito de se livrar da tentação é ceder a ela…” Seguimos na torcida para
que o Brasil, sob Bolsonaro, continue resistindo à tentação lulista de abrasileirar o
preço dos combustíveis.
Título e Texto: Caio Coppolla,
revista
Oeste, nº 103, 11-3-2022
Caio Coppolla é
comentarista político e apresentador do Boletim Coppolla, na TV
Jovem Pan News e na Rádio Jovem Pan
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