Em apenas 14 meses, a esquerda norte-americana conseguiu o que queria. Como tudo em que mete a mão, o caos
Ana Paula Henkel
Em 20 de janeiro de 2021, Joe
Biden tomou posse na Casa Branca como 46º presidente dos Estados Unidos. Mas
não foi apenas o ex-vice de Barack Obama que passou a segurar as rédeas da
nação mais poderosa no mundo (até quando, não sabemos…) naquele dia. A esquerda
radical norte-americana, representada pelo atual Partido Democrata, também
conseguiu o controle da maioria nas duas Casas legislativas do Congresso
norte-americano. Joe Biden foi empacotado com o verniz da normalidade democrata
moderada dos anos 1990 para, na verdade, forçar uma agenda da extrema esquerda.
Para isso, foi preciso um esforço conjunto para empurrar para fora do caminho a
reeleição do 45º presidente, Donald Trump, o malvadão do século que mexeu com uma
geração hedonista e incapaz de enxergar ações e políticas, apenas sentimentos.
Durante quatro anos, de 2016 a
2020, vimos ações tirânicas, como perseguições e censura, que jamais poderíamos
imaginar na América de hoje. Instituições financeiras e econômicas, culturais e
de entretenimento e quase toda a mídia desempenharam vários papéis para ver o
ex-presidente Donald Trump não apenas derrotado, mas também empurrado para dois
processos de impeachment, para depois ser banido das redes sociais
e descartado como persona non grata após o fatídico 6 de
janeiro. Depois de meses de investigações sobre a invasão do Capitólio, nenhuma
prova contra Donald Trump foi encontrada e qualquer participação do republicano
no incidente foi descartada. Mesmo assim, até hoje há uma resiliência quase
olímpica por parte dos democratas em associar a confusão na capital
norte-americana ao ex-presidente.
Mas, em 20 de janeiro de 2021,
não houve apenas uma troca de políticos de partidos distintos numa democracia
saudável. Houve uma histeria quase bizarra por parte de acadêmicos renomados,
grandes corporações, toda a casta de Hollywood, a mídia norte-americana,
equipes esportivas profissionais, Wall Street, o Vale do Silício e um número
inacreditável de jovens desmiolados que pedem a implementação do socialismo na
América. Em comum? Todos se gabavam da derrota da “supremacia branca”, juraram
que fizeram o que fizeram “para salvar a democracia”, e orgulhosos estavam em
fazer parte de legiões de czares da “diversidade, equidade, inclusão e justiça
social”. Ahh… a partir daquele momento, a teoria racial crítica seria
incorporada para extirpar o racismo e a discriminação endêmicos. Como?
Abraçando o racismo e a discriminação.
Os novos guerreiros da
justiça social
Com a nova administração voltada apenas para o “bem comum” (não de todos), alguns tipos de crimes deveriam ser vistos principalmente como uma construção criada pela elite para proteger seus próprios privilégios patriarcais, suas prerrogativas opressoras e suas propriedades. Furtos em lojas, saques, baderna e bandidos nas ruas passaram a ser apenas parte da vida normal em uma cidade normal. Os novos guerreiros da justiça social também poderiam substituir a polícia, que passaria a não ter recursos nem investimentos (defund de police), porque são racistas. A maioria das políticas para abordagem policial, encarceramento ou prisão obrigatória deixaria de existir porque criminosos são “vítimas da sociedade”.
A partir de janeiro de 2021,
as agendas verdes irreais dos ecochatos transformariam fundamentalmente
os Estados Unidos, ao colocar um fim imediato nas “mudanças climáticas”
provocadas pelo homem com o início do banimento definitivo dos combustíveis
fósseis. Os amantes cegos da teoria monetária moderna nos asseguraram que
imprimir dinheiro “espalharia a riqueza” e desvalorizaria as moedas de
capitalistas indignos que tinham muito dinheiro. Afinal, para eles, imprimir
mais dinheiro jogaria o dinheiro do rico nas mãos dos injustiçados. Inflação?
Calma. Ela seria uma boa coisa à medida que aparecesse, um sinal de uma classe
de consumidores robusta e recém-empoderada, a que há muito tempo é negada
“equidade” pelos capitalistas egoístas.
A partir de janeiro de 2021, a
fronteira seria aberta e permaneceria aberta para imigrantes ilegais. Chega de xenofobia.
Chega de muros. Como cidadãos do mundo, a esquerda norte-americana acolheu 2
milhões de imigrantes que chegaram ilegalmente aos EUA sem nenhum documento ou
comprovante de vacinas durante uma pandemia, enquanto membros das Forças
Armadas norte-americanas foram ameaçados de expulsão se não tomassem a picada.
À medida que os radicais da
extrema esquerda apavoravam toda uma nação e obrigavam os raros democratas
moderados a se esconderem, toda a velha sabedoria sobre a natureza humana
desapareceu. Esqueça a obviedade de que criminosos soltos prejudicam mais os
pobres, e que a falta de polícia nas ruas é um pesadelo para as comunidades
menos favorecidas. Descarte a ideia boba de Martin Luther King Jr. de que nosso
caráter, não nossa cor, determina quem somos. E, por favor, ignore a ideia
ultrapassada de que inflação corrói os salários da classe trabalhadora. Isso
tudo é coisa de gente atrasada.
O retrato de um governo
inepto
Mas o que está ruim sempre
pode piorar. As cenas no Afeganistão, retrato de um inepto governo, visto
poucas vezes dessa maneira na história norte-americana, trouxe à vida monstros
maiores. Não podemos afirmar com absoluta certeza que esse pesadelo
Ucrânia/Rússia não aconteceria se tivéssemos um presidente forte na Casa
Branca, mas fato é que a fraqueza muitas vezes é um convite à agressão, como
diria o próprio Ronald Reagan. E Biden não pôde escapar do fiasco no
Afeganistão. Os militares afegãos treinados pelos norte-americanos nos últimos
20 anos, que sofreram milhares de baixas anteriores, evaporaram em poucas horas
no cerco a Cabul, em agosto de 2021. O que o Afeganistão indica, no entanto, é
que forças mais poderosas do que o Talibã, em lugares muito mais estratégicos,
têm sinal verde para avançar, visto que a Casa Branca hoje é apenas uma
administração ideológica, mas previsivelmente incompetente, com um Pentágono e
comunidades de Inteligência politicamente armadas preocupados com a diversidade
e políticas de gênero.
Não vou ser repetitiva aqui
sobre as catastróficas políticas de Joe Biden, domésticas e internacionais, em
apenas 14 meses. Há mais de um ano venho escrevendo aqui em Oeste sobre
não apenas o que leio, pesquiso e estudo, mas o que testemunho in
loco: os resultados das irresponsáveis políticas da esquerda radical
norte-americana que são capazes de arruinar um Estado lindo e rico como a
Califórnia, onde resido.
E o que os eleitores
democratas descobriram após 14 meses de Biden e Harris, além da incompetência
na área da segurança doméstica e internacional? Que eles desprezam a inflação
tanto quanto a recessão, e temem que agora possam obter ambas. As pessoas
querem gasolina mais barata, não mais cara. Elas preferem a autossuficiência
energética norte-americana, e não ter de implorar a países como Venezuela e Irã
para bombear mais petróleo quando a independência foi atingida nos anos
anteriores.
Os democratas podem sofrer
perdas históricas nas eleições de midterms em novembro. Esse
desastre para o partido acontecerá não apenas por causa do desastre no
Afeganistão, da invasão da Ucrânia pelo presidente russo, Vladimir Putin, da
destruição da fronteira sul, da confusão da cadeia de suprimentos ou de seu
apoio à demagoga agenda racial e de gênero. A bala de prata que pode ceifar a
maioria democrata em ambas as Casas legislativas e causar o aniquilamento
político em novembro tem um nome odiado pelos norte-americanos, e com razão: a
inflação descontrolada.
Os “novos direitos de
redistribuição”
Joe Biden insiste em dizer que
os preços ao consumidor estão subindo “apenas” a uma taxa anual de 7,9%, como
se o maior aumento em 40 anos não fosse tão ruim assim. No entanto, a classe
média sabe que a inflação é muito pior quando se trata das coisas da vida:
comprar uma casa, carro, gasolina, carne, grãos, madeira ou materiais de
construção. A inflação é um destruidor de oportunidades iguais de sonhos. Ela
mina ricos e pobres, democratas e republicanos, conservadores e liberais (EUA).
Ela une todas as tribos e ideologias contra aqueles que são nomeados como os
que teriam dado à luz o polvo monstruoso cheio de tentáculos e que espreme tudo
e todos. A inflação é onipresente, onipotente e humilhante. Destrói a dignidade
pessoal. Ao contrário da estúpida teoria racial crítica ou das abjetas
políticas de gênero, ela não pode ser evitada por um dia sequer. Você não pode
ignorá-la como se faz com a irresponsável bagunça no Afeganistão ou na agora
inexistente fronteira sul. A inflação ataca a todos, 24 horas por dia, sete
dias por semana, em 360 graus. Sem piedade ou lente racial ou ideológica.
Biden
reduziu os Estados Unidos a um mendigo de energia implorando aos sauditas e
russos que bombeassem mais petróleo
Acima de pontos econômicos
negativos que uma inflação sem controle pode trazer, há a esfera filosófica de
uma nação que tem em sua genética a cooperação humana. A inflação como a atual
nos EUA é vista como uma mina perigosa para uma sociedade civil e ordenada,
desencadeando um egoísmo “cada um por si”. Os norte-americanos sabem que essa
inflação é autoinduzida, não um produto de uma guerra no exterior, um terremoto
ou o esgotamento dos depósitos de gás e petróleo. Biden ignorou a onda natural
de compras inflacionárias de consumidores que foram desacorrentados dos lockdowns por
quase dois anos sem poder gastar. Em vez disso, ele incentivou a saciar essa
enorme demanda imprimindo trilhões de dólares em dinheiro falso para todos os
tipos de “novos direitos de redistribuição”, projetos “verdes” irreais e
programas de congressistas de estimação preocupados com uma agenda desconectada
da realidade.
O governo Biden corroeu a ética do trabalho norte-americano. Isso é grave e os norte-americanos sabem disso. Manteve altas as taxas de trabalhadores fora dos postos de trabalho com cheques federais para que ficassem em casa. Cortou sem o menor debate a produção de gás e petróleo cancelando arrendamentos federais, campos petrolíferos e oleodutos, enquanto pressionava os bancos a não liberar capital para o fracking. Em apenas um ano, Biden reduziu os Estados Unidos de maior produtor de gás e petróleo da história da civilização a um mendigo de energia implorando aos sauditas e russos que bombeassem mais petróleo porque os Estados Unidos precisam, embora não extraiam para si mesmos de suas fontes.
Os norte-americanos sabem que
o polvo da inflação não nasceu voluntariamente. A única dúvida é se essa
administração desencadeou esse cenário por incompetência; se tudo é uma ideia
neossocialista: corroer o valor da moeda para aqueles que têm dinheiro,
enquanto distribuem capital para quem não tem; ou se Biden foi iludido pela
“teoria monetária moderna” maluca, o ouro dos tolos que afirmam que imprimir
dinheiro garante prosperidade.
Bem, então, o que as pessoas
estão concluindo 14 meses depois que a esquerda radical norte-americana
promoveu uma “agenda de bondades” para realizar seus desejos? As pesquisas
revelam que os eleitores não gostam de fronteiras abertas, principalmente os
latinos que estão legalmente no país. Está claro como a luz do dia que eles
desaprovam a imigração ilegal tanto quanto apoiam os imigrantes legais; que os
norte-americanos estão preocupados com o aumento dos índices criminais e com o
aumento da circulação de drogas; e que eles não querem mais saber da palhaçada
segregacionista de agendas raciais e de gênero.
No final, não importa se Biden
foi iludido, é apenas mais uma criatura do establishment norte-americano
ou se é diabólico como a espinha dorsal do atual Partido Democrata. Em apenas
14 meses, a esquerda conseguiu o que queria. Como tudo em que mete a mão, o
caos. E as pessoas não estão apenas cansadas do que estão vendo, mas enojadas.
Os norte-americanos estão apavorados que a esquerda não esteja apenas falhando,
mas também destruindo o país com eles junto.
A história nos deixa adágios
para a crescente raiva do povo norte-americano contra a esquerda arrogante,
vil, tirânica e perigosa. O ditado norte-americano diz: “What comes around,
goes around”, ou, no bom português, “Você colhe o que planta”.
Como diria um republicano a um
brasileiro perto de eleições: “Hey, Brazil, are you watching this?”
Título e Texto: Ana Paula
Henkel, revista Oeste, nº 103, 11-3-2022
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