Os pacifistas de butique trocaram de roupa para posar contra a guerra. É comovente
Guilherme Fiuza
Existem duas Ucrânias: uma é alvo de bombardeios que sacrificam inocentes; a outra é o novo aeroporto dos demagogos, que não são nada inocentes. A segunda Ucrânia é uma mistificação que avilta a primeira (e única).
A pandemia mostrou que, nos
dias de hoje, toda tragédia tem potencial de oportunidade para esse contingente
cada vez maior de surfistas da virtude imaginária. O nome do jogo é desenhar
vilões horripilantes, jogar as culpas nas costas deles e correr para o abraço
da claque. Sendo assim, nem vamos nos deter naqueles que usam a guerra na
Ucrânia para botar a culpa “no Bozo”, e pirraças do tipo.
O que se impõe de forma bastante intrigante no cenário do “debate político” (entre muitas aspas) é o uso do ataque russo para uma tentativa patética de reabilitação de Joe Biden, o fenomenal recordista de votos da história dos EUA que mal consegue concluir suas frases. Tudo é muito enevoado em se tratando de Biden e suas circunstâncias.
Mas aí está: aquilo que
antigamente se denominava grande imprensa, e que hoje virou um ajuntamento de
manchetes parecidas entre veículos supostamente concorrentes — o tal
“consórcio” —, resolveu apostar tudo na guerra da Rússia. Como sempre, o peixe
que esse consórcio tenta vender é um excelente indicativo, em qualquer
circunstância, do que cheira mal. E é claro que o panfleto vendido entre um
bombardeio e outro é a volta do mocinho Joe Biden, fiel da resistência
ucraniana. Contando ninguém acredita.
Os progressistas de butique
estavam com saudade de fingir que Biden é o final feliz após as trevas
demoníacas do trumpismo — historinha que eles construíram com tanto esmero e
tão mal. Veio aquela eleição imunda, com um festival de indícios de fraudes em
votos voadores pelos correios que a Justiça americana decidiu não examinar, e
emergiu o magnífico poste de Barack Obama, para êxtase dos demagogos de vida
fácil ao redor do mundo. Aí obviamente sobreveio um governo trapalhão, porque
demagogia não é solução para nada, e a claque do final feliz ficou aí pelos
cantos meio encabulada.
É
incrível que esse mesmo Biden ressurja como o estadista fiador do equilíbrio
geopolítico contra a tirania
Mas não totalmente, porque o forte dessa gente é justamente a desinibição. Biden comandou uma retirada súbita, atabalhoada e vergonhosa das tropas norte-americanas do Afeganistão, cuja consequência imediata foi a ascensão do Talibã, uma das forças políticas mais violentas e obscuras do mundo. É incrível que esse mesmo Biden ressurja agora nas bocas como o estadista fiador do equilíbrio geopolítico contra a tirania. E o Talibã mandou mensagens de paz e amor para a Ucrânia. Está dando para entender?
Biden segue uma linha de
política externa transigente com regimes totalitários como Irã e China (que
trabalhou pela sua eleição) em nome de um suposto pragmatismo pacifista — que
não resulta em um milímetro de paz na conduta bruta desses “parceiros”. Sua
credencial como contraponto ao autoritarismo bélico de Putin é nenhuma. Seu
grupo político passou anos acusando Trump de conluio com Rússia e Ucrânia sem
conseguir provar nada, sendo o filho do próprio Biden quem tem relações e
negócios mal explicados na região. Que mocinho é esse?
É o que aparece hoje nas
manchetes do consórcio e na conversa mole do “debate político” como a esperança
da paz ao lado de líderes decadentes da Europa, como Macron, ou das Américas,
como Trudeau, todos desesperadamente precisados dessa nova demagogia após a
farsa totalitária que protagonizaram na pandemia. Após dois anos de
cumplicidade com a violência fantasiada de proteção sanitária, apoiando a
transformação de cidadãos do mundo inteiro em reféns de ações ditatoriais
mentirosas e experimentos anticientíficos graves, os pacifistas de butique
trocaram de roupa para posar contra a guerra. É comovente.
Deve ser sintomático que tudo
quanto é surfista de pandemia, como João Doria, Sergio Moro e companhia
promotora de lockdowns estúpidos e vacinações experimentais
compulsórias, reapareça depois de toda sua brutalidade pedindo paz no mundo. A
guerra revela coisas terríveis, inclusive que a inocência está em falta na
atual conjuntura.
Título e Texto: Guilherme
Fiuza, revista
Oeste, nº 102, 4-3-2022
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