sábado, 12 de março de 2022

O novo TSE e a serenidade perdida

Gazeta do Povo

O ministro Ricardo Lewandowski tomou posse nesta terça-feira (8) como membro efetivo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além do empossado, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Edson Fachin, também integram a Corte eleitoral, composta por sete ministros - três do STF, dois do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e dois advogados com notório saber jurídico.

Ministros Ricardo Lewandowski e Edson Fachin, em 2015, recebendo homenagem do governo do Paraná. Junto de Alexandre de Moraes, eles são os representantes do STF na nova composição do TSE. Foto: Brunno Covelo/Gazeta do Povo

Em um período normal, o novo time de ministros não despertaria atenção na sociedade. O problema é que o país está longe de viver um tempo de normalidade. As eleições prometem clima de polarização acirrado e a tensão política pode se tornar, ela mesma, ameaça à ordem estabelecida. Num momento assim, espera-se uma atuação do Poder Judiciário pautada pela legalidade, pela imparcialidade e pela celeridade. Ele deve ser o garantidor da ordem e sua fonte de legitimidade mais evidente. No entanto, o histórico recente de atuação do TSE dificulta bastante a confiança da população numa desejável condução serena do processo eleitoral.

Lewandowski ocupará o lugar deixado por Luís Roberto Barroso, que encerrou o mandato de quatro anos no TSE. O ministro que ora se afasta ganhou notoriedade por uma atuação no mínimo imprudente na crise institucional que desaguou nas manifestações do 7 de setembro de 2021. Naquele momento, o debate público estava agitado pelo tema do voto impresso, uma pauta que, independentemente do mérito, estava carregado de evidente caráter político, podendo resultar em judicialização quando as eleições chegassem. A turbulência exigia total cautela por parte da presidência do tribunal, mas Barroso atuou como um lobista em prol de uma das posições.  Além disso, envolveu-se demais na disputa retórica, ao ponto de divulgar informações imprecisas a respeito do modelo que se propunha, como se ele permitisse aos cidadãos levar para casa um comprovante de votação que poderia se tornar instrumento de corrupção eleitoral.

No entanto, o histórico recente de atuação do TSE dificulta bastante a confiança da população numa desejável condução serena do processo eleitoral

Naquele momento, o presidente Jair Bolsonaro contribuiu muito para elevar a tensão institucional a um nível próximo do paroxismo, mas não se pode dizer que o TSE tenha se posicionado de maneira positiva na esfera pública. Especialmente preocupante se tornou a atuação da corte, se consideramos decisões polêmicas, quando não completamente eivadas de erro e parcialidade, tomadas pelo tribunal poucos meses antes, como a ordem para que várias mídias sociais, como YouTube, Facebook, Twitter, Instagram e Twitch.TV, suspendessem a monetização de canais e páginas que estariam promovendo a “desinformação” sobre o processo eleitoral – todos eles com viés de direita ou conservador -, uma decisão absurda que analisamos com profundidade em outra ocasião.

Nos últimos meses, o ministro Barroso vinha demonstrando empenho para forçar a direção-executiva do Telegram a aderir à mesma parceria para “combater a disseminação de fake news” já estabelecida com WhatsApp, Facebook, Instagram e Twitter, sem importar-se com a lógica parcial e juridicamente inaceitável que o STF tem adotado sobre o assunto, confundindo opinião com a difusão proposital de informação objetivamente falsa. Para muitos de seus usuários, a rede social tem ganho a reputação de refúgio da livre circulação de informações. Diante das dificuldades em forçar uma submissão do aplicativo de mensagens, Barroso chegou a falar em público por mais de uma vez sobre o seu banimento do país por ordem judicial.

A posição infelizmente tem sido ecoada por outros integrantes da corte eleitoral, reforçando uma verdadeira doutrina segundo a qual o Poder Judiciário se coloca como “editor” da sociedade, para repetir a expressão infeliz do ex-presidente do STF, Dias Toffoli. Em uma recente demonstração desse espírito, o atual presidente da corte, ministro Alexandre de Moraes, fez declarações descabidas durante o julgamento que inocentou a chapa vencedora das eleições de 2018 por supostos disparos em massa no WhatsApp. Ainda que tenha votado contra a cassação da chapa, Moraes utilizou da tribuna para fazer ameaças aos pleiteantes desse ano. “Se houver repetição do que foi feito em 2018, o registro será cassado. E as pessoas que assim fizerem irão para a cadeia por atentar contra as eleições e a democracia no Brasil”. Com base numa afirmação dessas, só podemos concluir que, se naquela eleição houve algo ilícito e o ministro não fez nada, mesmo tendo ciência, então prevaricou. Mas se nada aconteceu, então a frase simplesmente não faz sentido. É evidente, contudo, que se ocorrerem verdadeiros atentados contra a eleição e a democracia, deve haver condenação.

É importante lembrar que Alexandre de Moraes esteve à frente da repressão policial em inquéritos amplamente reputados como ilegais conduzidos pelo STF, que resultaram na prisão e censura de várias pessoas, sendo a maioria de apoiadores do Presidente da República. Até o presente momento, nenhuma dessas peças jurídicas chegou a qualquer conclusão, permanecendo como um dispositivo de exceção que pode ser acionado a qualquer momento, mas com uma mira apontada somente para um lado do espectro político nacional.

Título e Texto: Editorial, Gazeta do Povo, 10-3-2022, 17h26 

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Um comentário:

  1. Para mim, em particular, TSE se traduz por Tribunal 'SemPudor' Eleitoral. Trocado por um saco de gatos, os gatos tem mais valor que qualquer urna que eles dizem ser acima de qualquer suspeita. Nas próximas eleições as minhas amigas verão que o que digo aqui e agora, nada mais é que o reflexo de pleitos passados. O Brasil se tivesse vergonha, se o seu povo fosse ordeiro e corajoso, mandaria todos os 'candidatos' para os quintos do inferno. Nenhum dos que ai vivem falando em horário nobre, as custas de nosso dinheiro mirrado, não passam de vagabundos e ordinários. TODOS FARINHA DO MESMO SACO.
    Carina Bratt
    Ca
    da Lagoa, Rio de Janeiro.

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