domingo, 12 de junho de 2022

[As danações de Carina] As mãos de meu avô e, anos depois, as minhas...

Carina Bratt

ÀS VEZES recebo, em meu e-mail e na minha página no Facebook, de amigas e admiradoras do meu humilde trabalho, páginas com mensagens primorosas e interessantes, encantadoras e lúdicas, que fazem um bem danado à alma. Em igual passo, também me chegam porcarias, imundícies e sujidades que nem vale a pena dar atenção. Quando isto ocorre, imediatamente deleto a droga enviada e bloqueio a pessoa, para que não me faça perder tempo. A pérola que hoje fiz questão de trazer para vocês, me foi enviada pela leitora, fã e amiga, Lucia Mello, da Serra, no Espírito Santo. De vez em quando, ela me presenteia com pequenas joias de gosto apurado, material que considero íntegro e de valor inestimável.

Por ser de boa leitura, procuro dividir com as pessoas que gosto, e, claro, com as minhas leitoras aqui da ‘Família Cão que Fuma’. Ao lerem, perceberão que se trata de um pequeno mimo, uma mensagem com palavras gratificantes que faz um bem danado à alma e, claro, sobretudo, ao nosso coração. A Lucia me esclarece que lhe foi enviada por uma amiga próxima e esta amiga não sabe dizer, com precisão, quem é o autor. Provavelmente teria sido o tema de uma redação do ITA nos idos de 1961, cujo título, quem escreveu, lhe deu o nome de ‘MINHAS MÃOS’. Por descargo de consciência, joguei o texto nas redes sociais e o encontrei, no meu Facebook, ou mais precisamente numa comunidade denominada ‘Aroma de Poesia’.

O texto não revela o nome do seu subscritor. Apesar desta ausência, a mensagem transmite uma reflexão muito profunda, uma sabedoria ponderada e bem aquilatada, contundente, importante e decisiva. Nos passa uma visão que nos leva a pensar nas pequenas e boas coisas da vida. Segue, pois, apesar do rosto do autor (ou da autora) continuar no anonimato, ipsis litteris procurei conservar o mesmo respeito e a admiração por quem se prestou a colocar tudo no papel, de forma pública. Mais uma vez agradeço a Marlucia Melo (mar_luciamello@hotmail.com) pelo envio. Fica aqui, o espaço das minhas ‘Danações’ deste domingo em aberto, para quem quiser colaborar.

‘Meu avô, com noventa e tantos anos, sentado num dos bancos do jardim aqui de casa, não se movia. Estava cabisbaixo, olhando para as suas mãos. Quando me sentei ao seu lado, nem notou minha presença. E o tempo passava. Sem querer incomodá-lo, porém, querendo saber como ele estava, lhe perguntei como se sentia. Vovô levantou a sua cabeça, me olhou e sorriu, “Estou bem, obrigado por perguntar”, disse com uma forte e clara voz. Expliquei que não queria perturbá-lo, todavia, queria ter certeza de que estava bem, tendo em vista estar sentado, imóvel, simplesmente, olhando para as suas mãos. Então ele me perguntou: alguma vez, minha neta, você já se deteve no que estava fazendo e olhou para as suas mãos?’.

Fez uma pausa e prosseguiu: ‘Quero dizer, realmente olhou para elas? Lentamente soltei minhas mãos das mãos de meu avô, as abri e as contemplei. Virei as palmas para cima e logo para baixo. Creio que realmente nunca as havia observado. Queria saber o que meu avô queria me dizer. Meu avô sorriu e me disse: pare e pense por um momento sobre como as suas mãos têm lhe servido através dos anos. Olhe, por exemplo, para as minhas. Ainda que enrugadas, secas e débeis, têm sido as ferramentas que usei por toda a minha vida para alcançar, pegar e envolver. Elas puseram comida em minha boca e roupas em meu corpo. Quando criança, minha mãe me ensinou a juntá-las em oração. Elas amarraram os cadarços dos meus sapatos e me ajudaram a calçar minhas botas’.

De novo, nova parada. Tomou fôlego e foi em frente. ‘Estiveram sujas, esfoladas, ásperas, entrelaçadas e dobradas. Foram decoradas com uma aliança e mostraram ao mundo que estava casado e que amava alguém muito especial. Foram inábeis quando tentei embalar a minha filha recém-nascida. Elas tremeram quando enterrei meus pais, e quando entrei na igreja com a minha filha, no dia de seu casamento. Elas têm coberto meu rosto, penteado meus cabelos, lavado e limpado todo meu corpo. E, até hoje, quando quase nada de mim funciona bem, estas mãos me ajudam a levantar e a sentar e ainda se juntam para agradecer ao milagre de eu estar vivo e com saúde. Estas mãos, minha querida neta, têm as marcas de onde estive e a dureza de minha vida inteira. Mas, o mais importante, é que são estas mãos que Deus tomará nas Suas, quando me levar à Sua presença!’.

Desde então, nunca mais vi minhas mãos da mesma maneira.  Lembro bem quando Deus esticou as Suas mãos e tomou as de meu avô e o levou à Sua presença. Na verdade, as nossas mãos são uma benção constante. Cada vez que uso minhas mãos, penso em meu avô, e então me pergunto: estou fazendo bom uso delas? E sempre que minha consciência responde que estou usando minhas mãos para praticar o bem, o correto e para trabalhar honestamente... que sobretudo as estou usando para dar carinho e amparo a quem necessita, sinto-me em paz. E agradeço ao Criador por tamanha bênção, esperando que Ele estenda as Suas mãos, para que, também eu, um dia, possa nelas repousar! A vida acontece no presente, sempre. Há somente o hoje, o agora, e este é o seu momento com Deus! Agradeça por tudo o que tens na vida. E também pelas suas mãos que, bondosas, ajudam a tornar o hoje, o seu dia de agora, num dia maravilhosamente melhor!’’.

Título e Texto: Carina Bratt, Vale do Javari, Atalaia do Norte, na Amazônia. 12-6-2022

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