terça-feira, 7 de junho de 2022

[Estórias da Aviação] O Brasil aéreo para principiantes

José Manuel

Algum tempo atrás, finalizei um texto de algo que estava atravessado na minha garganta há cinquenta e poucos anos. É uma viagem real ao universo de três empresas que carregaram nas suas asas o nome Brasil e o sofrimento infringido a seus funcionários, a seus tripulantes.

Nada a ver com sentimentos patrióticos, coisa inerente à cidadania de cada um.

Ao longo do que pesquisava e escrevia, um sentimento de revolta foi se apoderando de mim, pela estupidez e infâmia como foi extinguida a PANAIR, e não me sinto à vontade se não tentar explicar isso às novas gerações, de uma forma leve e bem simples.

Aliás, por falar nisso, o tema é mais ou menos sobre o Brasil político que não gosta do Brasil Estado nem tampouco de aviões. É um fato.

O país que tem num dos seus filhos uma verdadeira lenda, por ter colocado no ar um veículo mais pesado que o próprio ar, por seus próprios meios, em 23 de outubro de 1906, assim inventando o avião, detesta tudo que se refira a isso.

Então, o Brasil Estado não é o pai da aviação? Não! O Brasil político é o padrasto da aviação.

A Panair DO BRASIL ia de vento em popa nas décadas anteriores à de 60, acreditando estar em céus de Brigadeiro quando em 1965 os militares acharam que o BRASIL era só deles e resolveram esquartejar aquela empresa privada, adimplente, e na época uma das melhores do planeta, tomando a si todo o seu patrimônio numa das situações de expurgo comercial mais fraudulento de que se tem notícia.

Algo que só tem paralelo em regimes totalitários antes, durante e depois da segunda grande guerra, algo parecido com o que ocorre na Ucrânia neste momento.

Aí, o Omar Fontana, vinha crescendo desde que resolveu transportar a própria carne do frigorífico do seu pai, a SADIA e, resolvendo transformar o seu negócio em uma empresa de sucesso, chegou a ser a segunda maior Aérea do país, portanto um grande empreendedor no país coisa, que eles também não gostam.

Então, ao invés de ficar na dele e continuar em voos de calmaria, resolveu acreditar em céus de Brigadeiro, e mudar tudo para Brasília, achando que o Brasil político iria lhe render homenagens, por prestigiar a cidade capital.

E ainda pior, mudou e pintou também o novo nome em suas asas. TransBRASIL

Pra piorar mais ainda, montou uma aérea regional com o nome de… InterBRASIL

Só que aquele Brasil político que não gosta do Brasil Estado na primeira oportunidade ceifou as duas de uma vez.

Também, duas carregando o nome Brasil, era demais pra qualquer céu de Brigadeiro, né?

Então chegamos à VARIG, que por 75 anos carregou seu nome pintadinho e sem sobressaltos, até que o Fernando Pinto, aliás um excelente presidente, resolveu dar uma repaginada no visual um pouco retrô da empresa e na melhor das intenções inventou aquela tal de VarigBRASIL.

Pronto, era só isso que o Brasil político estava esperando pra descer o sarrafo com ímpeto invejável alijando a empresa do cenário mundial e jogando funcionários e tripulantes num lodaçal já experimentado pela PANAIR, uma das primeiras a se atrever a usar o nome deles.

Durante todo o projeto de decomposição pútrida, também como não poderia deixar de ser, um Brigadeiro totalitário, cancelou a terceira fonte de custeio do fundo de pensão que o próprio país havia obrigado a empresa a fazer, mas que ele simplesmente odiava.

O país não gosta de aéreas, nem de fundos de pensões, nem de aviões, nem de tripulantes e isso ficou muito claro nos últimos anos.

Pra disfarçar esse ódio latente, o país joga com notícias fake colocando uma empresa contra a outra, para aliviar suas próprias culpas.

Por exemplo, toda a vez que se comenta sobre o estrangulamento criminoso da PANAIR, logo aparece um papo furado de que a culpada foi a VARIG, por que o Ruben Berta já tinha um Boeing 707 parado ao lado do DC-8 naquela noite de 10 de fevereiro, há 57 anos atrás.

Balela, pura balela, pra tirar o corpo fora da tragédia que acabava de impor a uma aérea limpa. 

A VARIG naquele dia foi obrigada pelo governo da hora a cobrir as falhas e os compromissos internacionais que representavam a não decolagem da PANAIR naquele dia, a fim de minimizar a sua própria vergonha perante os mercados internacionais. Tudo jogada sórdida!

Essa história de que o Ruben Berta estava em conluio com o governo militar, é exatamente a mesma do Rolin Amaro com a quadrilha PT.

Cada um gerencialmente puxava a brasa para a sua sardinha, não sendo isso exatamente um crime, pelo menos e com toda a certeza para o gaúcho não era.

O país continua não gostando das aéreas nem de aviões, mas ao mesmo tempo deixa que seus céus sejam tomados por bandeiras laranjas e multicoloridas de cordilheiras conhecidas. Por que será?

Condenado pelo STF duas vezes, não paga nem devolve o patrimônio devido à PANAIR que de tão limpa, não deve nada a ninguém e se quiser pode até voltar a voar, o que acredito não o faça, pois, gato escaldado não comete o mesmo erro duas vezes.

Quanto a VARIG, o ódio é tamanho que também não paga o que deve ao seu fundo de pensão AERUS deixando que seus funcionários se extingam pelo tempo.

LE BRÉSIL N'EST PAS UM PAYS SÉRIEUX

E não fui eu que disse isso, mas um nativo e embaixador, que sabia das coisas!

Atribuída durante anos ao presidente francês Charles de Gaulle, a frase foi, na verdade, dita por um brasileiro: o embaixador Carlos Alves de Souza, que serviu em Paris entre 1956 e 1964.

Por que será?

Título e Texto: José Manuel – esta viagem no tempo ainda não acabou, mas os Variguianos que não permanecem sentados na frente da telinha comodamente vão pagar até ao último centavo!

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