Elisabete Tavares
Vimos, na passada
quinta-feira, uma classe em greve. Muitos jornalistas pararam. Muitas notícias
não foram publicadas ou emitidas nas TVs e rádios. Muitos eventos não tiveram
cobertura da imprensa.
A greve dos jornalistas surgiu num momento particularmente triste para a imprensa em Portugal. O Diário de Notícias (DN) está num ‘buraco’, tanto financeiro como de credibilidade.
Já escrevi várias vezes sobre
a minha ligação afetiva ao DN, um jornal que entrou no meu coração quando, na
infância, fiz uma visita de estudo à redcção do jornal e vi como era impresso.
Guardo comigo a placa com o meu nome que trouxe de lá.
Quando assinei notícias e
entrevistas no DN, não era eu quem assinava. Era a miúda que se apaixonou pelo
jornal naquela visita de estudo.
Isso não me impede de ver como
o jornal foi destruído ao longo dos anos, sobretudo nos anos mais recentes. As
péssimas decisões de (má) gestão e a explosão da Internet e das redes sociais
não explicam tudo. Também diretores do jornal e jornalistas se sentaram ‘à
mesa’ com o poder político e econômico, com quem tinha poder, esquecendo o que
era o DN e esquecendo o que é ser jornalista.
Isto aconteceu também em
outros meios de comunicação social. Tem sido mais visível, nos últimos anos, a
grande quebra na qualidade da informação difundida pela imprensa. A
precariedade, os baixos salários (para muitos, não para todos) e a praga
do churnalism não
explicam tudo. Também tem sido mais visível o enviesamento, a falta de rigor, a
colagem ao poder político, econômico e financeiro. Mas já existiam antes,
talvez não fossem tão óbvios. Hoje, o enviesamento, está em níveis
estratosféricos, ao ponto de muitos jornalistas nem perceberem que deixaram, há
muito, de se comportar como jornalistas e são apenas meros papagaios.
Em geral, os jornalistas e as direções dos jornais acompanham o ambiente de cultura de cancelamento, censura e condicionamento da liberdade de imprensa e de expressão que é promovida, hoje, pelas grandes tecnológicas como a Meta (dona do Facebook) e a Google (dona do YouTube). Foi evidente na pandemia. Tem sido evidente no tema da guerra na Ucrânia. Tem sido evidente no conflito em Gaza.
Jornalistas e diretores podem
ter ganho amigos poderosos com isso. Podem achar que assim são bem-vistos e
aceites pela generalidade dos pares. Mas os leitores vão percebendo que isso
não é compatível com o Jornalismo. Daí ter também surgido o termo ‘jornalixo’ –
que abomino.
(…)
Agora, é comum ver-se na
imprensa notícias e artigos e entrevistas que difundem ideias sobre os perigos
do populismo na Europa e da ascensão da extrema-direita (mas, para os media,
quase tudo hoje que não é de esquerda é ‘extrema-direita’). Mas são a imprensa
e os partidos no poder que têm sido decisivos para o crescimento dos votos em
partidos de direita, populistas e de extrema-direita.
É difícil encontrar notícias,
entrevistas e artigos de opinião sobre um outro facto muito concreto e
perigoso: a grande ameaça para a Europa, a democracia e a liberdade têm sido protagonizadas
pelos políticos que têm liderado a região nos últimos anos.
Os relatórios que mostram um
enorme recuo no nível de democracia nos países do Ocidente são claros. Os
alertas de jornalistas, de ativistas, de políticos e de reputados académicos e cientistas acerca da crescente censura e do
condicionamento da liberdade de imprensa e de expressão são claros.
Não têm sido ‘partidos populistas’ ou a ‘extrema-direita’ que têm aprovado leis e regulação que constituem uma ameaça à liberdade de imprensa, à liberdade de expressão, aos direitos humanos e aos direitos civis. Tem sido a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu e governos que têm tido o apoio de partidos que se dizem de ‘esquerda’, como é o caso de Portugal.
O mesmo se passa em países como o Canadá, Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália e Brasil. Nestes países, a liberdade de expressão, os direitos humanos e civis estão sob séria ameaça.
Por
isso, na Europa como em outras regiões, a população ‘abandona’ partidos que, se
afirmando de ‘esquerda’, estão cada vez mais com tiques totalitários e de
tirania (e de perseguição dos jornalistas isentos e não comprometidos com o
poder).
Não são partidos ‘populistas’
ou de ‘extrema-direita’ que estão a promover e que pretendem subscrever na
íntegra – sem negociar – as alterações perigosas e desumanas ao Regulamento
Sanitário Internacional. São partidos como o PS e o PSD. É a Comissão Europeia.
Não são partidos ‘populistas’
e de ‘extrema-direita’ que apoiam e aprovam gigantescos desvios – de milhares
de milhões de euros – de dinheiros públicos para entregar às poderosas
indústrias de venda de armas para a compra de armamento e equipamento militar,
para criar uma “economia de guerra”. (Aliás, pergunto-me onde andam os
pacifistas da ‘esquerda’ em Portugal e outros países na
Europa).
Mas os jornalistas portugueses
ignoram tudo isto. Se assistirmos aos noticiários, se lermos revistas, jornais
e sites dos media, a ameaça é o Chega, os partidos populistas e a
extrema-direita.
(…)
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