José Mendonça da Cruz
Luís Montenegro recebeu dos
portugueses um bom capital: uma vitória por escassa margem, e a ordem para
negociar e mudar. Negociar para mudar, não, obviamente, com quem a maioria
absoluta dos portugueses quis rejeitar, o Partido Socialista. Negociar para a
mudança.
Luís Montenegro e a AD
poderiam ter aprendido alguma coisa com António Costa, que em estritas questões
de sobrevivência é genuinamente hábil. Costa não hesitou em aliar-se com
partidos esses sim antidemocráticos, para governar e, de passagem, engolir os aliados.
Mas não aprenderam nada. E, hoje, Luís Montenegro e a AD decidiram negociar com o PS, e deitar o capital todo pela janela, para não mais o recuperar.
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Pedro Nuno Santos (PS) e Luís Montenegro (PSD/AD) |
Fio-me muito em certas
imagens, e o rosto acinzentado, luzidio, a atitude corporal nervosa de André
Ventura ao saber da partição da presidência da Assembleia da República,
dizem-me que não esperava aquilo. Esperava negociar e obter alguma coisa que
pudesse empunhar. Negociar in extremis, é claro; negociar a
falar grosso, é claro; negociar ao fim de umas quantas contradições, é claro;
e, depois, ceder. No fim, relevaria até os disparates extemporâneos com que
Melo e Rangel se entretiveram a cavar fossos em bicos dos pés. [Quem creia que
Ventura estava irredutível, terá que pensar que sacrificou intencionalmente a
vice-presidência da AR, um completo absurdo].
Mas a AD preferiu negociar com
o PS. E, assim, numa demonstração de embaraço verdadeiramente lamentável, assim
e de uma penada só atirou a fiabilidade pela janela fora. E, com este gesto
canhestro, a AD cometeu várias coisas, todas elas lamentáveis.
A primeira coisa que cometeu foi subscrever a ideia antidemocrática do Livre e do Bloco de que as novas bancadas da Assembleia são compostas de uma maioria de esquerda e uma minoria de direita constituída pela AD. Há depois, segundo esta tese, uma inexistência, um fumo, um vazio: 50 deploráveis eleitos por mais de um milhão deles. Perante a opção de Montenegro e da AD a extrema-esquerda sorri e esfrega as mãos.
A segunda coisa que a AD
cometeu foi hipotecar de vez toda a capacidade de governar. Desde hoje, a AD só
poderá tomar as medidas que o PS a deixar tomar. O PS sorri e esfrega as mãos.
Segue-se, portanto, que a AD
cometeu uma terceira coisa, um outro erro: o de condenar-se a eleições
antecipadas.
A AD cometeu, por fim, a
quarta e mais grave de todas as coisas: no momento em que deitava fora o
capital que lhe fora confiado, riu-se de quem lho confiou. O que a faz correr o
risco de, nas eleições antecipadas a que se condenou, devolver o centro ao PS,
a maioria à esquerda toda, e o primeiro lugar da oposição ao Chega (quanto ao
CDS, lá terá provavelmente que desatarraxar a placa outra vez). E o PS ri a bom
rir, e esfrega as mãos.
E o eleitorado, que pensa? Não
faço ideia, mas imagino. Imagino a esquerda a dizer: «São burros, nunca se
entendem, estão de saída não tarda». Imagino a maioria absoluta do eleitorado a
dizer: «Foi para isto?!»
Título e Texto: José
Mendonça da Cruz, Corta-fitas, 30-3-2024
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