segunda-feira, 11 de março de 2024

A lesma e o presidente da República encontram-se num bar

Paulo Hasse Paixão

O ato eleitoral de domingo constituiu sobretudo um manifesto de resiliência da lesma, o molusco hermafrodita, mascote desta Terceira República, que no imaginário proverbial é alérgico à mudança. O regime não vai permitir que o Chega – que num mundo normal, com 48 deputados, seria a força que levaria a direita ao governo – ascenda aos gabinetes sagrados do Terreiro do Paço e Marcelo Rebelo de Sousa está em Belém para garantir isso mesmo. 

Apesar das declarações eufóricas de vitória de Montenegro e da sua recauchutada AD, os resultados são de empate técnico entre os dois partidos do regime e considerando o desgaste do PS, são sintomáticos da total desqualificação do líder social democrata – que tem o carisma de um criado de quarto e a visão política de um guarda-livros – e a prova provada que o CDS já não existe. 

Apesar do resultado atípico do Livre, fruto de uma outra morte anunciada, a do BE, e dos socialistas terem ainda assim conquistado significativas vitórias nos distritos de Lisboa, Santarém, Leiria, Castelo Branco e em todo o Alentejo, não deixa de ser risonho o facto de a esquerda, somada por inteiro e contando com a Iniciativa Liberal, fique a milhas de uma maioria absoluta. 

O resultado da CDU – um teimoso, mas erodido vestígio arqueológico do século passado – empurra os comunistas para a segunda divisão da política portuguesa, que já de si vegeta numa liga distrital da política europeia. Esta despromoção resulta inteiramente de um tiro no pé, já que ninguém na verdade consegue perceber que razões insondáveis estão por trás da cooptação de Paulo Raimundo para líder do partido. 

O Chega é de facto o único partido que tem razões para declarar triunfos, com destaque para a vitória no Distrito de Faro e o segundo lugar nos distritos de Beja, Portalegre e Setúbal. Mais a mais e pela primeira vez, Ventura parece ter de facto resgatado uma percentagem significativa de eleitores à abstenção, processo que será sempre um fator crítico no potencial de crescimento do seu partido. Ainda assim, e dado o contexto regimental, também esta vitória é de Pirro. Tudo o que Ventura pode fazer até ao próximo ato eleitoral é espernear na Assembleia da República e despejar memes nas redes sociais. 

Os resultados eleitorais dificilmente permitirão a formação de um governo estável. Sem o Chega, o PSD não tem apoios que lhe permitam escapar ao mau perder da esquerda, que também se vê impotente para uma solução de poder. Mais tarde ou mais cedo, já neste ciclo, ou no próximo, o PS e o PSD vão ver-se obrigados a um bloco central, que será a força mais sinistra já experimentada em cinco décadas de Terceira República, mas que se apresentará com certeza como uma iniciativa “para salvar a democracia”. 

A alternativa é forçar o Chega a uma reconversão ideológica, como aconteceu com Meloni, em Itália e está a acontecer com Marine Le Pen, em França. Ou procurar interditar o partido de Ventura, como está a acontecer com o Afd na Alemanha. 

E é neste contexto que a resiliente lesma entra num bar e lá encontra Marcelo Rebelo de Sousa:
– Então Lesma, tudo bem? – Pergunta o Presidente, enquanto saboreia um batido de algas.
A lesma, que está visivelmente martirizada, escorrega lentamente para a cadeira que Marcelo lhe oferece e lá consegue dizer, em tom apreensivo:
– Vai-se andando, Presidente.
– Está desanimada? Percebo. A ameaça do populismo e isso tudo, não é? Mas olhe que enquanto eu for Presidente, não há cá alterações à ideologia do regime!
A lesma demora-se uma eternidade na resposta. Pede um sumo de alface, acomoda-se no assento e, num súbito e raro rasgo de astúcia, proclama:
– Considere, porém, Presidente, o conselho perito desta lesma: Às vezes, é preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma.

Título e Texto: Paulo Hasse Paixão, ContraCultura, 11-3-2024 

3 comentários:

  1. ME PERDOA, CARO amigo Paulo Hasse Paixão, por aproveitar as “lesmas” citadas em seu texto publicado na “Cão que Fuma.” Sei, de antemão, que nada tem a ver com seu magnífico e impecável texto. As lesmas –, veja só que loucura –, as lesmas que trago à baila, estão por toda parte. Abundam no “cenado,” na “câma dos deputas,” na “sulplema corte” (imagina que por lá, já que a mencionamos, temos um amontoado de lesmas que desfrutam de auxilio paletó, auxílio gravata, auxílio funerário, auxílio segurança, auxílio caneta de ouro importada, entre outros benefícios.) Temos lesmas na “pulicia fedemal;” lesmas nos presídios federais ou fedemais tidos como de insegurança máxima. Caso recente, a fuga espetaculosa (fuga???!!!) – vamos rir, kikikikikikikikiki dos espertalhões Deibson (sem som) Nascimento e seu amigo o inoxidável Rogério Cara de Onça –, perdão, Mendonça. Perceba quantas lesmas estão em seu encalço numa calçada (digo, numa caçada) à imitação dos filmes hollywoodianos. Sem falar, mas já o fazendo, nos gatos –, digo, nos gastos com o dinheiro público para manter as lesmas com olhos de babacas conhecidos como integrantes das Forças-Tarefas, entre essas forças –, cães e gatos –, tartarugas –, elefantes com trombas encurtadas pela metade –, girafas (aquelas gracinhas de pescoços compridos) todos, veja bem, todos disfarçados de mendigos. Continua na parte dois.
    Aparecido Raimundo de Souza, de Andirá, no Paraná

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  2. Continuação. Vem da Parte UM
    Temos também helicópteros e drones fantasiados de Batman e Robin, integrantes da PF (Prato feito) brincando de lesmas disfarçadas para simularem como foi a fuga (de novo, fuga???!!!) do “Plausídio de Meussoró.” Uma vez escrevi que a Força-Sem-Tarefa deveria apertar o santo dos buracos por onde os “meninos” fugiram. Botar contra a parede, os alicates, o portão sem cadeado, as câmeras adormecidas... para se saber dessa galera toda, o que viram, o que não viram e quanto tostões levaram por debaixo dos tapa olhos postos em suas lindas carinhas de santos do pau oco. Deveriam chamar o Argola –, desculpe –, o Marcola, bem ainda os chefes do Comando Vermelho; do Comando Azul; do Comando Rosa; do Comando Amarelo para ajudarem nas biscas –, digo –, nas buscas. São cáfilas de lesmas tontas. Se assemelham a uma colmeia de lesmas pinguças. Um bando de lesmas com artrite. Uma alcateia de lesmas famintas. Não importa. Se eu pudesse agir, chamaria para ajudar os integrantes das cracolândia; os moradores das ruas; os desabrigados; a turminha do SUS (Sistema Único de Susto) para encabeçarem o cerco em torno dos ”ugitivos.” A gangue do SUS certamente daria um susto tremendo nos dois fugitivos. (Segue na parte final)
    Aparecido Raimundo de Souza, de Andirá, no Paraná.

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  3. Final.
    Voltando as lesmas, andei pesquisando. As lesmas são seres humanos de baixa renda. São vistos por alguns como gastrópodes, pertencentes as famílias dos hermafroditas (ou Denorex –, aquele antigo xampu ou champú, que parecia ser, mas não era). As lesmas com “L” maiúsculo, fazem parte da Grande Família Stylommatophora – palavra difícil como pronunciar Trippréis, Triprés triplesi –, não importa. Faço referência aquelas coberturas sem donos em prédios de tirarem os fôlegos dos Bem-apessoados, estruturas erguidas à beira de praias afrodisíacas. Apenas como exemplo, a linda e aconchegante piscina de ramos, etc, etc. Pois bem! Percebo, estarrecido, que as lesmas estão se proliferando como canjas de galinhas em pratos de pobres. Se alastrando como picanhas em mesas de aposentados e pensionistas do INSS. Criando novas formas e rostos, como o titio Salário Mínimo; a falida educação; o ENEM –, ou o “Exchame” ou “Inxame Nacional do Ensino de Merda;” a Merenda escolar, etecetera, etecetera e tal. Mais uma vez, prezado Paulo Hasse Paixão, me perdoa. “Hasse” se eu pudesse ser uma lesma... e agora encerrando, sairia correndo como um camundongo disfarçado de barata e traria para me ajudar a acabar com as lesmas tapadas e inoperantes o detetive Columbo, cujo nome de guerra atende pelo simpático cavalheiro batizado como Peter Falk. Traria também o Sherlock Holmes, o Auguste Dupin, a Miss Marple, o Hercule Poirot... certamente, eu “retrancaria” os almofadinhas Deibson Nascimento e sua querida e amada esposa, o-a Rogério. Casal lindo, diga-se de passagem. Deibson se mandou mas não deixou seu amor de tantos anos a ver navios... o amor é lindo. E lá se vão trinta dias... kikikikikikikikikikikikikikiki...

    Aparecido Raimundo de Souza, de Andirá, no Paraná

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