sábado, 4 de maio de 2013

Os profissionais e os amadores. Ou: Desse mato, sai tucano? Ou: Um pouco de memória de quanto o PT era oposição

Reinaldo Azevedo
Eles são profissionais, isso é inegável. E seus adversários, sem um Plano Real como eleitor, são bisonhamente amadores. A quem estou me referindo? Respectivamente, ao PT e ao PSDB. Por que isso? Vou lhes contar como eram as coisas.
Entre 1992 e 1996, fui editor-adjunto de Política da Folha de S. Paulo e coordenador de Política da Sucursal de Brasília — fim do governo Collor, governo Itamar e os dois primeiros anos do primeiro mandato de FHC. Vou lhes contar como eram as coisas no tempo em que o PT ainda era um partido pequeno — bem menor do que o PSDB é hoje.
Bastava o pronunciamento oficial de qualquer um desses presidentes (Collor já não contava porque não mais se pronunciava, apenas estalava os olhos), e o telefone não demorava muito a tocar. Era alguém da direção do PT avisando que o partido tinha em mãos dados que demonstravam que o que o presidente acabara de falar era “menas” verdade. Em breve, diziam, o partido emitiria uma nota etc. e tal. E, sim, lá vinha uma nota com contestações políticas e técnicas.
Vira notícia quem se faz notícia. Se um presidente da República faz um pronunciamento oficial e se o principal partido de oposição contesta o que foi dito, a obrigação do jornalismo é noticiar.
Muito bem! Dilma ocupou alguns bons minutos na TV, em rede nacional, no 1º de Maio. Para não variar, não se tratou de um “pronunciamento à nação”, mas do mais descarado palanquismo, a exemplo do que já fizera com o anúncio da energia mais barata.
Não! Eu não esperava encontrar alguma contestação já no dia seguinte porque tucanos não são aves notórias pela agilidade no voo. Ao contrário até, né? É pássaro garboso, mas meio pesadão. Quem sabe, então, nesta sexta… Mas quê… Nada! Nadica! Parece que ninguém teve a ideia de pegar a íntegra, submeter aos “universitários” do partido com uma ordem: “Desmontem isso aí…”. Ainda que Dilma só tivesse falado verdades factuais, na disputa pelo poder, há as verdades políticas. “Uma verdade política é uma verdade factualmente mentirosa, Reinaldo?” Claro que não! Uma verdade política é aquela que ficou escondida sob o dado eventualmente virtuoso que foi adrede selecionado. Nada! Zero! Silêncio sepulcral!
Em vez disso, o que entra no ar no dia seguinte, nesta quinta? O horário político do PT, com Dilma e Lula repetindo, agora em linguagem escancaradamente publicitária, os mesmos dados que a presidente desfilou em horário nobre no dia anterior, num feriado que caiu numa quarta-feira gorda — com um bom ibope, portanto.
Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, ao menos encontrou o seu “é possível fazer mais”. Dispensa-se de ter de evidenciar essa ou aquela mistificações e ainda pode apontar: “E isso ainda é muito pouco!”. O PSDB, até agora, é uma gaveta à espera de um conteúdo!
Para não dizer que a coisa passou em brancas nuvens, o senador Aécio Neves (MG), futuro presidente do partido e provável candidato da legenda à Presidência, acabou caindo numa espécie de armadilha e se disse contra a indexação dos salários. Tinha de ser contra, claro! Mas, no Dia do Trabalho, ser levado a fazer esse discurso não chega a ser um exercício nem de sorte nem de esperteza.
Então é isto: Dilma vai ao ar na quarta, diz o que bem entende, e não se lê uma vírgula questionando seus supostos sucessos. Na quinta, aí como propagandista explícita, repete o discurso.
É difícil sair um coelho desse mato. E tucano, será que sai? Com essa agilidade, acabará havendo uma fuga em massa de tartarugas.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 04-05-2013

Em Portugal é exatamente o contrário: antes mesmo do discurso ir ao ar, as televisões e jornais já andam a entrevistar os "contras"; ou, não interessa se a medida é boa para Portugal, interessa só desancar o primeiro-ministro.
Às vezes, sinto uma tremenda tristeza em testemunhar a pouquíssima clarividência em perceber que aquilo ali não é (legítima) oposição, é torcida contra, porque este governo, de direita, não pode ter êxito. O sucesso do governo, de Portugal por conseguinte, arrasa com as aspirações políticas, de uns, e com o modus operandi de outros...

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