José Mendonça da Cruz
A combinação de fanáticos de
causas nas redacções e enviados especiais inteiramente incompetentes no
terreno, vem fazendo da informação sobre os últimos desenvolvimentos nas
relações entre a troika e a Grécia uma coisa lamentável, lacunar ou pura e
simplesmente enganosa.
Eis algumas certezas colhidas
em Sky, BBC, Rai e CNN e em jornalistas e comentadores sérios.
1. Ao contrário do que dizem RTP, Sic e TVi não há proposta nenhuma
nova de Juncker a Tsipras. O que Juncker propôs foi que o governo grego
aceitasse a proposta da passada sexta-feira, se comprometesse a fazer campanha
pelo «sim» no referendo, e que no seguimento disso os credores mostrariam
alguma abertura para flexibilizar os juros e as maturidades da dívida.
2. Ao contrário da «impressão geral» de RTP, Sic e TVi, que só
encontram em Atenas partidários fervorosos do Syriza e da confrontação com a
UE, há uma impressão concreta, traduzida em sondagens, de que 60% dos gregos
querem a permanência na UE e na união monetária.
3. Ao contrário do que dizem RTP, Sic e TVi a Grécia não entra em
default hoje. Hoje, a Grécia está apenas atrasada no pagamento. Mas no dia
seguinte ao referendo, a segunda-feira, e se o resultado for «não», certamente
que o FMI de Cristine Lagarde declarará a Grécia em default.
4. Ao contrário do que escapou e certamente escapará a RTP, Sic e
TVi, se a Grécia entrar em default com o FMI fará companhia a um número escasso
de países, nomeadamente Zimbabué, Sudão e Cuba.
Título e Texto: José Mendonça da Cruz, “Corta-fitas”,
30-6-2015
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