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Devemos
dizer “uma pastor-alemão” ou “uma
pastora-alemã”? Em outras palavras, as raças de cães têm feminino?
Ao ouvirmos pela primeira vez o correto feminino de certos
substantivos que só estamos acostumados a ouvir no masculino, a tendência é o
estranhamento. Assim, há quem hesite, por exemplo, quanto a como chamar uma
mulher que trabalha entregando cartas – a que chegam a chamar de “uma
carteiro”, por acharem que o feminino “carteira” estaria incorreto. Não está;
poderá soar estranho nas primeiras vezes em que se ouve, mas uma mulher que
entrega cartas é, naturalmente, uma carteira.
Do mesmo modo, não existe em gramática alguma previsão de
que as raças de cães ou de outros animais sejam exceções em português,
não tendo flexão no feminino. Sendo substantivos comuns, raças de animais têm
femininos regulares: uma fêmea de gato siamês é uma gata siamesa,
do mesmo modo que é correto referir-se a uma cadela maltesa ou
a uma cachorra pequinesa (e não a uma “cadela maltês”
nem a uma “cachorra pequinês“).
[Vale recordar, já que há quem tenha dúvida: “cadela” é o
feminino de cão, e “cachorra” é o feminino de cachorro; as duas palavras, cadela e cachorra,
existem e são corretas.]
Uma fêmea de buldogue francês será, naturalmente, uma buldogue
francesa. A fêmea de um dogue alemão é uma dogue alemã.
Do mesmo modo, em português se dirá “uma labradora“(e
não “uma labrador“) e “uma pastora-alemã” (e não “uma
pastor-alemão“).
Uma exceção: como outros substantivos femininos derivados de
nomes próprios masculinos (como “a são-bento”, “a são-pedro”), o nome
“são-bernardo” fica invariável: uma fêmea de são-bernardo é “uma
são-bernardo“, do mesmo modo que se fala de “uma são-pedro” e “uma
são-bento” – duas variedades de peras portuguesas.
A flexão dos nomes de raças de animais é comum às demais línguas
neolatinas: a fêmea do pastor-alemão é, em espanhol, uma “pastora alemana“;
em italiano, uma “pastora tedesca“; e em francês, uma bergère
allemande (literalmente “pastora alemã”, bergère sendo
o feminino de berger, pastor, e allemande o
feminino de allemand, alemão).
Há um único vendedor de livros de “dicas de português” que
defende, com base apenas na “opinião” dele próprio, que as raças de cães não
tenham feminino – mas porque esse autor defende que as raças seriam
invariáveis, não tendo sequer plural: na opinião dele, deveria dizer-se “duas
buldogue“, “duas dálmata“, “duas pastor-alemão” – o que
obviamente não é correto em português padrão.
Os grandes dicionários e gramáticas portugueses e
brasileiros concordam que raças de cães são substantivos variáveis; deve
dizer-se, portanto, “dois dálmatas” (e não “dois dálmata“) e “duas
dálmatas”, “dois buldogues”, “duas buldogues”, “dois pastores-alemães”, “duas
pastoras-alemãs”, etc.
Título e Texto: dicionarioegramatica.com
Colunas anteriores:
Se a regra para o feminino das raças de cachorro não se aplica a nomes próprios, não deveria se aplicar a labrador, que é o nome de uma província do Canadá.
ResponderExcluiro nome da província é TERRA NOVA E LABRADOR nome do mar Labrador.
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