Já não se trata mais de fazer propaganda contra a homofobia, ou as atitudes de discriminação — trata-se de intimidar quem não participa do “movimento gay” e seus similares
J. R. Guzzo
linchamento moral e profissional do atleta Maurício Luiz de Souza, medalhista de ouro da seleção olímpica brasileira de vôlei, é um novo marco na história, cada vez mais violenta, da repressão às liberdades no Brasil por parte do condomínio que se diz “identitário” — a mistura de grupos que monopoliza os “movimentos” homossexuais, negros, feministas e indígenas neste país. É o DOI-Codi, ou a polícia política da ditadura, no Brasil de hoje. A partir de agora, pela decisão dos controladores desse mecanismo, os brasileiros que entrarem em sua lista negra, por qualquer razão que seja, serão punidos com a perda de emprego — uma agressão inédita a um dos direitos mais elementares do cidadão. Não basta mais, para as milícias “identitárias”, envenenar em público a reputação das vítimas. É preciso, também, tirar o seu sustento.
Não tinha acontecido nada de
semelhante até agora — não com uma personalidade conhecida pelo público como é
Maurício de Souza. A mensagem que os proprietários dos “movimentos” citados
acima estão mandando é a seguinte: “Ninguém mais está seguro no seu emprego.
Somos nós que damos as ordens nos departamentos de R.H. e de marketing de um
número cada vez maior de empresas privadas. Se você fizer alguma coisa,
qualquer coisa, de que a gente não goste, estará no olho da rua. Aliás: não
precisa fazer nada — basta dar uma opinião que a nossa polícia considere
homofóbica, racista, machista etc. que a punição virá na hora. Você não tem
direito à defesa, nem antes nem depois da demissão”. O próximo passo, que na
verdade já vem sendo ensaiado, será jogar os inimigos na cadeia, por conta das
crescentes exigências de “criminalização” da homofobia ou do racismo. Repressão
sempre exige mais repressão — nunca é o contrário. É inevitável, simplesmente,
que ocorra em todos os sistemas que funcionam aplicando os métodos das
tiranias. “Demissão”, “proibição”, “cassação”, “criminalização”, “prisão” — é
essa a linguagem de que eles gostam, e que estão usando cada vez mais no
Brasil.
Fiat e Gerdau fizeram uma chantagem explícita para que o atleta fosse
demitido
Exagero? O que aconteceu com Maurício, na vida real, é a melhor prova de que pouca coisa que se diz sobre a repressão “identitária”, hoje em dia, é algum exagero. Quem poderia acreditar, antes do episódio, que uma história dessas seria possível? Mas foi. Os fatos não deixam nenhum tipo de dúvida. Como milhões de pessoas ficaram sabendo, a Fiat e a Gerdau, patrocinadoras do Minas Tênis Clube, fizeram uma chantagem explícita para que o atleta fosse demitido; ou isso, ou então elas cortariam as verbas que mantêm a equipe. O Minas aceitou — e Maurício foi desligado. (O técnico da seleção brasileira de vôlei apareceu para executar os feridos depois de acabada a batalha; aproveitou o clima e cortou o atleta do time. É mais um herói das lutas “identitárias”.) Locutores de rádio e de televisão, na segurança habitual dos departamentos de esporte — onde se pode fazer discurso político sem correr risco nenhum —, se juntaram ao linchamento.
A acusação contra o atleta foi
“homofobia”. Muito bem: qual foi então, concretamente, a ação homofóbica
praticada por ele? Sem um ato objetivo não pode haver culpa nem
responsabilidade, não é mesmo? Pois aí é que está: Maurício não fez nada que
possa ser descrito, mesmo pelo militante mais radical do Ministério Público,
como ato, gesto ou simples pensamento homofóbico. Tudo o que ele fez foi dizer
que não gostou do novo Superman gay; também disse que homens biológicos não
deveriam jogar em times femininos de basquete, e que desaprova a ideia da Rede
Globo de fazer uma novela com “linguagem neutra”. (Aquela coisa de falar “ile”,
“alune” e outras bobagens.) Onde está, em qualquer dessas três coisas, o delito
de homofobia? Não há nenhuma lei sobre homofobia, nem decisões do Supremo a
respeito, dizendo que é obrigatório gostar de algum personagem de gibi, de
qualquer “gênero” — ou, contrariamente, que é proibido desgostar do Superman
gay. Da mesma forma: onde está escrito que é crime, ou contravenção, ou falha
de ordem moral, não gostar de “linguagem neutra”? É absolutamente lícito, enfim,
manifestar-se sobre a presença, em equipes esportivas femininas, de homens que
passaram por cirurgias e se apresentam como “transgêneros”. Há gente que é
contra. Há gente que é a favor. Maurício é contra — trata-se de sua opinião
pessoal, unicamente isso, como qualquer outra. Onde está o crime?
É raro armar-se uma acusação
tão desprovida de qualquer fundamento, ou tão sem pé nem cabeça, como a
denúncia de que Maurício de Souza cometeu atos de homofobia em alguma das suas
manifestações públicas. Mas é essa, justamente, a nova marca do “movimento gay”
— pouco importa se a acusação é justificada ou não, e menos ainda importam os
fatos; o que interessa, hoje e cada vez mais, é criar uma atmosfera de terror
em torno da questão “identitária”. Já não se trata mais de fazer propaganda
contra a homofobia, ou as atitudes de discriminação — trata-se de intimidar
ativamente quem não participa do “movimento gay” e seus similares. Não basta
respeitar o homossexual como ser humano e cidadão; é indispensável, também,
concordar com a visão de mundo do “movimento”, com as suas iniciativas e com as
suas prioridades a cada momento. Os homossexuais, obviamente, não têm nada a
ver com isso — como não têm os negros, as mulheres ou os índios. Em sua imensa
maioria, estão cuidando de suas próprias vidas, trabalhando, indo atrás dos
seus projetos pessoais e pagando imposto. Quem fala por eles, exige coisas que
não estão pedindo e comete violências em seu nome — como a que está sendo
praticada contra Maurício — são indivíduos que sequestram em seu próprio
benefício a causa do “gênero”. Eles controlam a direção (e as verbas) dos
movimentos “identitários”. Estabelecem o que pode e o que não pode. Têm
presença decisiva nas empresas, na mídia e na máquina do Estado.
Fiat e Gerdau, na verdade, nem
são militantes ativas da nova ordem. Como tantas outras empresas, terceirizam
todas as suas questões de “sociedade” — homofobia, racismo, direitos das
“mulheres”, “sustentabilidade”, defesa da democracia, alimentação orgânica e
salvação do planeta — a escritórios de marketing e a agências de correção
política, que suspostamente sabem o que é certo e errado sobre os assuntos
relacionados acima e todos os outros. A partir dessa fuga, seus diretores
passam a obedecer a ordens. É um ambiente perfeito para a covardia de rebanho,
como no caso de Fiat e Gerdau. É, também, muito mais seguro para os seus
executivos.
O fato é que com a degeneração
dos movimentos contra a discriminação, os preconceitos e a desigualdade, está
sendo criada uma situação que poderia ser descrita como a “nova injustiça”.
Como aceitar, perante a lei brasileira e todo o seu aparato gigante de proteção
ao trabalhador, que um cidadão seja demitido do seu emprego por ter dado uma
opinião? Não acontecia isso desde o AI-5 — e, assim mesmo, naquela época a
pessoa com a opinião política errada perdia o seu ganha-pão de maneira mais
discreta; os perseguidores, então, tinham mais vergonha daquilo que faziam.
Quem terá coragem, agora, de dar um lugar para Maurício num time de vôlei? Também
é incompreensível que se exija a punição da vítima. O atleta foi alvo, pelo
menos, do crime de calúnia, segundo está escrito no artigo 138 do Código Penal
Brasileiro. Ele foi acusado publicamente de um crime que não cometeu, o de
homofobia — e a lei diz que imputar falsamente a alguém um fato definido como
crime é calúnia. O atleta não é réu, como querem o “movimento” gay e os seus
servidores; ao contrário, é vítima. Como é que fica, então?
(Há 24 dias, desde 12 de
outubro, quando expressou nas redes sociais sua opinião sobre a bissexualidade
do filho do Superman, o Ministério Público ainda não acusou Maurício de crime
nenhum.)
O mundo “identitário” está
agindo com os mesmos métodos operacionais das tiranias. É esta a sociedade que
os seus comandantes querem no Brasil.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
revista OESTE, nº 85, 5-11-2021
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