Fundo de Abu Dhabi terá 51,5% de holding que passa a ser dona da concessão; operação teve troca de dívida de R$ 1,8 bilhão da Invepar
Diário do Rio
Fundo soberano de Abu Dhabi, Mubadala assumiu nesta semana a operação do Metrô do Rio de Janeiro que até então era gerido pela Invepar, a holding de infraestrutura e transportes controlada pelos fundos de pensão Previ, Funcef e Petros. Na operação, avaliada em R$ 1,8 bilhão, houve troca de parte da dívida da Invepar com o Mubadala e com os fundos de pensão por ações do Metrô Rio e do Metrô Barra, concessionárias que operam o sistema metroviário carioca. O controle das duas empresas passa agora para a Hmobi, holding de investimentos em mobilidade urbana, na qual Mubadala detém 51,5% e os três fundos de pensão, 48,5%. A informação foi publicada inicialmente pelo Valor Econômico.
A operação foi celebrada por
Mubadala e pelos fundos, uma vez que permite resolver problema de estrutura de
capital da Invepar. A empresa tinha dívida cara referente à emissão de
debêntures que foram subscritas pelos fundos e por Mubadala. O total dessa
dívida alcança R$ 2,6 bilhões, dos quais R$ 1,8 bilhão foi envolvido na operação
com o Metrô. Depois da transação, a dívida da Invepar com os acionistas da
empresa e com Mubadala será de R$ 800 milhões. Invepar tem em carteira outros
ativos, como as concessões do Aeroporto de Guarulhos e da BR-040.
O plano, segundo informou o Valor
Econômico, é fazer da Hmobi uma plataforma para investimentos em mobilidade
urbana e abre-se a possibilidade de a empresa vir a abrir o capital em Bolsa. A
holding vai focar em ativos que tenham complementariedade e a próxima concessão
a ser incorporada à carteira pode ser a Linha Amarela S.A. (Lamsa), rodovia
urbana, no Rio, também pertencente à Invepar. Caso Invepar e Prefeitura do Rio
cheguem a acordo sobre a concessão em disputa judicial que se arrasta há dois
anos, o controle da Lamsa poderá migrar para a Hmobi em outra operação de troca
de ações por dívida como a negociada no Metrô Rio.
A mudança no controle do Metrô recebeu a anuência do governo do Estado. Metrô Rio e Metrô Barra eram subsidiárias da Invepar e passam a ser subsidiárias da Hmobi. O sistema metroviário carioca se estende por 54 quilômetros e conta com três linhas e 41 estações. São duas concessões: uma para as linhas 1 e 2, válida até 2038, e outra para a linha 4, que vai até 2036. A linha 4 liga a zona Sul do Rio à Barra da Tijuca, na zona Oeste.
Antes da pandemia, o sistema
transportava 900 mil pessoas por dia, número que chegou a cair 80% no começo da
crise da covid-19. Agora a redução de passageiros situa-se na faixa de 45%-50%
em relação ao pré-pandemia. Em 2019, o Metrô Rio faturou cerca de R$ 1 bilhão,
número que caiu para R$ 600 milhões em 2020. O lucro antes de juros, impostos,
depreciação e amortização (Ebitda) foi de cerca de R$ 500 milhões em 2019 e
ficou perto de zero no ano passado.
As negociações de Mubadala com
Invepar começaram em 2016, quando a primeira proposta de aquisição de
participação na companhia foi apresentada pela Mubadala Capital, subsidiária de
gestão de ativos da Mubadala Investment Company, investidor soberano com sede
em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos. Em 2017, o fundo liderou
empréstimo-ponte para a Invepar resolver necessidades imediatas de capital.
O objetivo inicial de Mubadala
era entrar no capital social da Invepar comprando a participação acionária da
empreiteira OAS, que terminou em poder de credores da holding. Hoje Invepar tem
como sócios os três fundos de pensão estatais – Previ, com 25,56%; Petros, com
25%; Funcef, com outros 25% e o FIP Yosemite, que assumiu a parte dos credores
de OAS, com 24,44%, segundo dados da própria companhia. O FIP Yosemite não
participou da operação com o Metrô Rio uma vez que o negócio envolveu somente
os subscritores das debêntures emitidas pela Invepar. Na transação, houve
diluição na participação dos fundos, em especial para Funcef e Petros.
Segundo fontes, não foi
simples chegar à definição do preço para a relação de troca de parte da dívida
da Invepar por ações do Metrô uma vez que hoje o ativo performa aquém do
pré-pandemia. A precificação levou em conta um cenário de recuperação do
sistema metroviário do Rio. A Alvarez e Marsal deu consultoria aos vendedores.
“A incorporação do Metrô
Rio e Metrô Barra ao portfólio se encaixa perfeitamente à nossa estratégia de
transformar empresas que se encontram em um contexto complexo. Estes
investimentos têm uma boa perspectiva de recuperação operacional e
rentabilidade no longo prazo, mesmo diante do atual cenário econômico. Além
disso, estas aquisições consolidam cada vez mais nossa experiência com ativos
dessa natureza”, disse, em nota, Oscar Fahlgren, presidente do
Mubadala Capital no Brasil.
Os investimentos do fundo
Mubadala no Brasil alcançam US$ 4 bilhões desde 2012. O fundo fez aporte de US$
2 bilhões na antiga holding de Eike Batista, o que levou os árabes a assumirem
o Porto Sudeste (RJ) e ativos de mineração em Minas Gerais. Em 2019, Mubadala
adquiriu participação na concessionária Rota das Bandeiras (SP) e este ano
comprou a refinaria Landulpho Alves (Rlam), da Petrobras, por US$ 1,65 bilhão.
Título e Texto: Redação, Diário do Rio,
10-11-2021
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