Jose Miguel Roque Martins
Todos sabemos que a democracia,
apesar de todas os seus méritos é um instrumento débil que acomoda muitas
insuficiências: prevenir revoluções sempre foi apontado como uma das suas
maiores virtudes. Os episódios, com vítimas mortais, no assalto ao Capitólio,
um acontecimento inédito na bem estruturada democracia americana e, agora, num
mais moderado vandalismo à sede do menos eficiente poder democrático
brasileiro, vêm destapar um segredo mal guardado: as regras democráticas
clássicas já não são suficientes para garantir uma sociedade funcional.
A premissa de que a democracia
permitia seguir o desígnio da maioria, enquanto conciliava e salvaguardava os
interesses das minorias, parece estar a falhar rotundamente, um pouco por toda
a parte, embora com diferentes circunstâncias, aspirações e desígnios. Pelo contrário,
observa-se uma redução da tradicional vasta maioria moderada, mesmo que com
ideias diferentes, capaz de acomodar minimamente os interesses e valores das
franjas da sociedade.
Nos EUA e no Brasil, o centro
praticamente implodiu, sendo sexy o radicalismo de uns que provoca o
radicalismo dos outros. Questões sociais fraturantes juntam-se a minorias
esquecidas no turbilhão das mudanças da matriz econômica provocadas pela
globalização e a um conjunto de causas, menos dignas, mais capazes de aglutinar
o ódio do que a resolver problemas substantivos, provocando a intolerância, em
que cada lado não parece minimamente capaz de perceber o ponto de vista dos
outros e procurar um compromisso. Todos querem exatamente o que querem, logo. O
resultado, um indisfarçável cheiro a enxofre, faz prometer revolução ao invés
de evolução.
Nos EUA e no Brasil,
desapareceu o centro, e passamos a ter apenas dois lados, mesmo que muitos escolham
apenas o menor dos males. Na Europa ainda é um pouco diferente, mas a prazo,
provavelmente lá chegaremos. No velho continente, os profundamente
insatisfeitos, podem dividir-se em três famílias:
Os comunistas (leninistas,
como o PCP, ou trotskistas, como o BE) que querem mais Estado, menos liberdades
e menos democracia, que usam os costumes como ferramenta de subversão;
Os liberais, menos Estado e
mais liberdades individuais, que nunca foram fortemente populares numa Europa
povoada com as ideias de um Estado forte e protetor;
Os partidos populistas sem ideologia consistente (como o Chega em Portugal) aglutinam conservadores respeitáveis (ofendidos nos costumes), Nacionalistas Estatistas (ofendidos com a falta de ordem, corrupção e globalização).
Sempre houve comunistas,
liberais, conservadores e outros insatisfeitos. O que hoje é diferente é o
desempenho do centro moderado que sempre esteve no poder na Europa Ocidental.
Os centros (esquerda e
direita), perderam a capacidade de garantir a prosperidade, ao namorarem com a
economia de mercado ao mesmo tempo que a atraiçoam ferozmente, aparentemente
uma condição de sucesso eleitoral, ao mesmo tempo que parece terem perdido as
cautelas no tempo das necessárias alterações sociais e os cuidados a ter com a
salvaguarda das liberdades individuais, na sua busca por uma estatização e
normalização, cada vez mais ofensiva para quem, mesmo não sendo liberal,
encontrava conforto na sua relativa liberdade.
A maior responsabilidade não
é, por isso, dos diferentes, daqueles, como eu, que não se reveem no centro
moderado (em Portugal o PS e o PSD é da (ainda) maioria de centro moderada, que
detém o poder, mas que tem que perceber que ao tornar-se despótica (mesmo que
apenas aparentemente), vai enfrentar a revolução, que já esteve mais longe.
À falta de uma evolução
liberal, não posso honestamente dizer que ficaria infeliz com uma revolução liberal,
mas, como é uma impossibilidade nas próximas décadas e não me parece que o país
ficasse feliz, já agora gostava que o Centrão acordasse, começasse a funcionar,
nos desse pão e liberdade, em vez de casos e casinhos e prevenisse uma
revolução que só pode ser muito desagradável para quase todos.
Título e Texto: Jose Miguel Roque Martins, Corta-fitas, 9-1-2023
Relacionados:Lula é que vai defender a democracia? Boa sorte
Revista Oeste recebe nova punição do YouTube
Militantes e funcionários da esquerda e da extrema-esquerda, travestidos de jornalistas e acantonados em bunkers que eles chamam, despudoradamente, de “redações”…
Uouu!... Quão felizes entre iguais!
Brésil : le retour de l’assaut du “Capitole” ? - JT du lundi 9 janvier 2023
O tweet mais ridículo da semana (4)
Escândalo moral sem precedentes
Como as ditaduras nascem
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-