Aparecido Raimundo de Souza
O PROFESSOR DE NATAÇÃO se chamava Timóteo. O de Matemática, Sebastião. De Educação física, Elisabeth, e o de Francês, Eurídice. De Ciências, Zilda, de História, Pompeu e, de Português, Loiola. Com esse, em particular, a garotada caia em cima, de pau, sem dó nem piedade. A miudada sacaneava com ele até dizer chega.
Por essa razão, a escola, em peso, o apelidou de boiola -, pouco depois passou para Boilola. O insigne jamais foi partidário da arte de empurrar quibe ao contrário usando a máquina de expelir bolos alimentares para fins escusos -, mas em decorrência unicamente do seu patronímico de nascença ser propício a esse tipo de brincadeira, por sinal, de muito mau gosto, a alcunha tomou vida e forma. E se materializou.
Para o velho Loiola não existia meio termo. A maldita desdita do apelido podia aflorar de um simples bate-papo ou em curso de uma reunião, ou em sala de aula, fomentada (1) sempre por um grupinho de alunos desocupados que não tivesse outra coisa mais séria a fazer. Fosse da turma da manhã, da tarde, ou da noite, não havia viva alma que não tirasse um sarro ou espalhasse propagando uma piada sem graça.
Bastava ver o infeliz passando, ou entrando em algum lugar, lá vinha um filho da mãe com uma pedra escondida na manga:
— Viu o Boilolão passando ali?
— Deve estar indo para o banheiro...
— Das meninas ou dos meninos?
— O que me diz?
— Só a gente indo conferir de perto, observou o Luiz, líder de uma facção nojenta que vivia aprontando mil arruaças:
— Estou dentro.
— “Demorô”. Vamos nessa?
Na sala dos professores, à hora do intervalo, a mesma história nojenta se repetia:
Aqueles educadores que não alimentavam a brincadeira, acabavam por deixar o interlocutor folgazão completamente sem graça e de calças nas mãos:
— Quem o colega está procurando? O professor Loiola? Acabei de vê-lo, não tem dois minutos fazendo um lanche, na cantina.
Todavia, os desprovidos do bom senso do ridículo, os palhaços de plantão que se igualavam aos promotores de todo tipo de desordem e chacotas, sempre encontravam algum imbecil disposto a enlamear o distinto (que, acima de tudo, era demasiadamente querido e amado, tanto pelos colegas, como pela diretoria, aí incluindo o corpo docente e discente - 2).
Afora sua inteligência e sabedoria acima de qualquer suspeita, Loiola tinha um currículo exemplar, com anos e anos dedicados ao magistério, observando que igualmente ministrava aulas em uma outra faculdade de renome, onde também todos o admiravam e respeitavam:
— Acaso viram o Boilolão dando sopa?
— Acabou de entrar na sala de tevê e vídeo. Foi soltar o caneco para o professor de informática.
Quando os desordeiros encabeçados pelo tal Luiz abriram a porta da informática e acenderam as luzes, pegaram a criatura no flagra. Ele, o professor Loiola estava completamente pelado mandado vê na lindíssima e escultural Elisabeth, a professora de Educação Física.
Notas de rodapé:
1) Fomentada – Sustentada ou estremecida.
2) Docente e discente – Docente é o professor, ou aquele que ensina. Discente – Todo aluno matriculado regularmente em regime de dependência dentro de uma instituição escolar.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. 4-4-2023
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