quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Carta de Natal

Maria Lucia Victor Barbosa

Então, às vésperas deste Natal de 2018, em vez de escrever a Papai Noel, como fazia quando era criança, resolvi redigir algo para Jesus. Nesta carta apresento-lhe minhas perplexidades existenciais:


Senhor, imersa no castigo do calor deste Natal aceito que sou um mistério. Nunca consigo me decifrar inteiramente. Os imprecisos limites de minha liberdade e a escravidão de minhas circunstâncias, jamais irradiam claridade suficiente para serem enxergados com precisão e contornados com pleno êxito. Sinta, pois, Jesus, como sou humana.

Em matéria de sentimentos tenho certezas fulgurantes, mas esbarro em sentimentos alheios e presencio mistérios mais densos que os meus. Na impossibilidade de transpor o abismo dos outros corro sempre o risco de me tornar uma colecionadora de perdas, de me perder nas veredas do inatingível, nas teias da ilusão. Sempre esbarro na liberdade dos que me cercam e que parece mais ampla do que a minha.

Prosseguindo, descubro o quanto caminho sobre terrenos escorregadios, sobre áreas pantanosas. Deste modo, inúmeras vezes padeço da superficialidade do viver onde habitam os pré-julgamentos, os erros sem volta, os sofrimentos inúteis. E nesse aspecto, Mestre, recordo as palavras do seu amigo Paulo: “Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero”.

No árduo, franco e humilde exercício de pensar, reflito sobre o sentido de minha existência. Indago até que ponto posso alcançar o objetivo máximo de todo ser humano: a felicidade, compreendida como sensação de bem-estar e plenitude conquistada em determinado momento, mas não consigo respostas convincentes. Mesmo porquê, meus desejos sempre esbarram em vontades alheias e sempre uns levarão vantagens sobre outros, o que faz surgir os derrotados e os vitoriosos. Já perdi várias vezes, Jesus, várias vezes.

Diante dessa realidade, como fica o controle sobre meus propósitos e necessidades? Como poderei me autodeterminar para encontrar os verdadeiros limites de minha liberdade? Talvez, o único jeito de trilhar as superfícies inescrutáveis do destino ou enfrentar as ciladas do acaso, seja tentar construir pontes entre mim e os outros. Talvez, falte ao Natal esse ato de construção, de engenharia humana que ficou perdido em alguma curva do tempo e que precisaria ser resgatado. Não acha, Jesus, que pelo menos nesse ponto eu tenho razão? Feliz aniversário, Senhor.
Título e Texto: Maria Lucia Victor Barbosa, 19-12-2018

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4 comentários:

  1. Acredito que nos dias de hoje JESUS faria tudo diferente.

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  2. Para Maria Lucia Victor Barbosa,
    Como poderei me autodeterminar para encontrar os verdadeiros limites de minha liberdade?

    Caríssima, essa pergunte é fácil responder e não precisas de JESUS.
    Basta respeitar a LIBERDADE do outro, esse é o verdadeiro limite.
    fui...

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  3. jESUS RESOLVEU PRESENTEAR A iNDONÉSIA com um TsunamI ,às vsperas do Natal.

    ohOH! JESUS ...ASSIM FICA DIFÍCIL

    PAIZOTE

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    Respostas
    1. Pois é...
      O CRACATOA quando explodiu em 1883 desapareceu junto com parte da ilha, matando cerca de 36000 pessoas, chegou a jogar caravelas e navios 800 km África a dentro, com um tsunami de 40 metros de altura.
      Em seu lugar cresce o filho de CRACATOA que hoje já tem 800 metros e produziu essa pequena erupção. Ele cresce 5 metros por ano, e segundo cientistas quando atingir a altura do pai, ou antes produzirá outra erupção de igual ou maior amplitude, que era de 2000 metros. Nós estaremos livre dela pois faltam 240 anos.
      http://obviousmag.org/archives/2009/08/vulcao_krakatoa.html

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