Pedro Ortigão Correia
No processo mediático em torno
da crise, já ouvimos de tudo e de quase todos: sindicatos, patrões,
desempregados, reformados, políticos, funcionários públicos... No entanto, nada
ou quase nada foi dito sobre uma geração mais nova e silenciosa que optou por
não emigrar e por cá ficou a trabalhar.
No processo mediático em torno
da crise, já ouvimos de tudo e de quase todos: sindicatos, patrões,
desempregados, reformados, políticos, funcionários públicos... No entanto, nada
ou quase nada foi dito sobre uma geração mais nova e silenciosa que optou por
não emigrar e por cá ficou a trabalhar.
Sobre ela recai o enorme peso
de criar riqueza para as próximas décadas (agora que se viu o resultado de uma
política de gastos públicos não produtivos). Infelizmente, a essa geração
também está reservada a enorme tarefa de suportar a elevadíssima fatura dos
erros do passado!
A discussão sobre direitos
adquiridos e constitucionalidades quando manipuladora vira tóxica. No fundo, o
que hoje se discute verdadeiramente é a manutenção de um sistema para alguns e
não a sustentabilidade do mesmo para todos!
Como é largamente sabido, o
sistema atual de pensões não é de capitalização mas sim de distribuição, o que
os ingleses simpaticamente apelidam de "pay as you go". Isto
significa que tudo quanto descontamos hoje de nada nos servirá no futuro. Com
um envelhecimento claro da população a problemática está instalada.
Já não bastando estes ventos
de proa, temos um sistema historicamente injusto entre privado e público, no
que toca a repartição de um bolo cada vez mais pequeno. O regime da caixa geral
de aposentações é um luxo comparado com o regime geral. A ADSE é melhor do que
o melhor seguro privado e a lei laboral dos funcionários públicos
incomparavelmente melhor que a dos privados.
É a esta nova geração que se
pede que suporte tudo isto. Mas essa não tem voz, nem aparece. O que não é
seguramente de estranhar, num país em que os presidentes da República e do
Parlamento são ambos reformados da causa pública e dela depende a larga maioria
votante.
Mas, independentemente destas
crispações geracionais que se avizinham, terá de imperar uma visão em que
disciplina e rigor são condições necessárias para a sobrevivência do sistema. A
alternância entre o enfio-a-cabeça-na-areia-e-estou-me-nas-tintas-para-tudo-porque-isto-me-corre-bem
e o grito-desalmadamente-porque-me-estão-a-pisar não é seguramente um modelo
nem responsável, nem sustentável!
A marcha destes novos
indignados arrisca-se a ser uma mais silenciosa.... Uma marcha definitiva para
outras paragens!
Título e Texto: Pedro Ortigão Correia, Economista e
Managing Partner da ASK - Advisory Services Capital, Jornal de Negócios, 17-05-2013
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