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Após a escolha de Carlos
Moedas para Comissário Europeu, Maria João Rodrigues fez uma das campanhas de
auto-promoção mais descaradas de que há memória em Portugal. Vejamos o que a
senhora disse de si própria. Considera-se uma “voz capaz de avaliar e rever as
regras europeias onde elas estão mal”, possui “reconhecido mérito europeu” e
“experiência político-institucional”, “passou anos a desenvolver novas soluções
para a política económica, social, de emprego, industrial, regional ao nível
europeu”. Onde estão essas soluções? Quem as aplica?
Mas a lista de auto-promoção
não fica por aqui. A “professora catedrática” Maria João Rodrigues é “conhecida
e reconhecida pelos seus pares europeus pelos seus vários contributos para a
estratégia europeia de crescimento e emprego, para a governação europeia ou,
mais recentemente, para as respostas a dar à crise da zona Euro.” Com tantos
contributos, reconhecidos por tanta gente, é caso para perguntar, por que razão
a economia europeia não cresce mais e por que razão não diminui o desemprego na
Europa? Será que ninguém ouve a “catedrática” Rodrigues “após quinze anos de
trabalho diário com as várias instituições europeias, Comissão Europeia,
Conselho de Ministros, Parlamento Europeu, Comité Económico e Social e Comité
das Regiões”? O que se passa com todas estas instituições? Em quinze anos
ninguém entendeu que há uma mente brilhante em Portugal com soluções para os
maiores problemas europeus? Andaram os responsáveis europeus a dormir durante
uma década e meia? Afinal não foi só o primeiro-ministro português que não
percebeu o génio da brilhante Rodrigues.
Não é fácil encontrar palavras
para definir esta “vertigem de autopromoção” (para usar as palavras felizes de
Paulo Rangel). Só consigo fazer uma pergunta: a senhora não tem vergonha de se
oferecer assim em público? Mas verdadeiramente condenável são os ataques a
Carlos Moedas. Segundo a “catedrática” Rodrigues, Moedas não possui nenhum dos
atributos de que ela goza. Limita-se a ser uma “voz de cumprimento submisso” e
da “periferia política”.
Sei que em privado há muitos
que consideram que a Doutora Maria João Rodrigues foi longe de mais (incluindo
alguns da sua família política), mas estas coisas não devem permanecer em
privado. Devem ser expostas publicamente. Há limites à falta de escrutínio e à
impunidade pública. Em primeiro lugar, o Presidente da Comissão Europeia, ao
contrário do que afirma Maria João Rodrigues, nunca esperou que o
primeiro-ministro português sugerisse o seu nome. Nunca lhe passou pela cabeça
tal cenário. Ou seja, estamos perante uma invenção da “catedrática” Rodrigues.
Mas as invenções não param aqui. A senhora apresenta-se por vezes como
“conselheira das instituições europeias”, figura jurídica que simplesmente não
existe. Terá feito trabalhos de consultoria ou de aconselhamento para
presidências do Conselho ou terá participado em grupos de estudos contratados
pelo Parlamento Europeu. Nada mais do que isso. Mas como ela, há milhares de
casos semelhantes na Europa. Noutras ocasiões, auto-intitula-se “conselheira da
Comissão Europeia”, outra função inexistente. Existem conselheiros externos do
Presidente da Comissão Europeia ou de comissários. Maria João Rodrigues já o
foi, mas também aqui houve e há milhares de outros casos.
Esta auto-promoção que trata a
verdade de uma forma elástica irrita, obviamente, muita gente nas instituições
europeias, e sobretudo na Comissão Europeia. O pudor obriga-me a não repetir
muitos dos comentários que ouvi sobre a “professora Maria João Rodrigues”
quando trabalhei na Comissão Europeia, mas posso garantir que a sua escolha
como Comissária portuguesa seria um desastre para Portugal. Nesse caso, seria
certo que o nosso país teria uma pasta irrelevante.
Na Comissão Europeia
aprecia-se o recato e a humildade e não a auto-promoção. Admira-se a capacidade
de execução e não proclamações retóricas sobre supostos desígnios europeus. Em
Bruxelas, quando se olha para os respectivos currículos, Maria João Rodrigues é
vista como alguém do passado (na melhor das hipóteses) ou como alguém cuja
ambição pessoal leva-a a ter uma imagem de si própria que não corresponde à realidade.
Pelo contrário, Carlos Moedas é visto como alguém que foi indispensável para
Portugal ter ultrapassado com sucesso o maior desafio desde que aderiu à
Comunidade Europeia. Moedas tem o perfil que qualquer Presidente da Comissão
Europeia gosta: a capacidade política para executar e cumprir as suas funções
com sucesso. Maria João Rodrigues, pelo contrário, seria um problema
permanente.
Título e Texto: João Marques de Almeida, Observador,
06-08-2014
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