A esquerda totalitária, representada em Portugal pelo PCP e pelo Bloco,
organiza manifestações contra Israel porque é profundamente anti-Ocidental; e
Israel é um alvo fácil para atacar o Ocidente.
Muitos interrogam-se, com
alguma surpresa, por que razão há tantas manifestações contra Israel cada vez
que o seu governo usa a força militar para se defender de ataques dos seus
vizinhos. E a surpresa aumenta quando se fazem comparações. Alguém viu
manifestantes na Embaixada da Síria quando o seu governo matou (e mata)
milhares de cidadãos sírios? Não. E alguém notou alguma manifestação na
Embaixada da Rússia, desde que Moscovo anexou unilateralmente a Crimeia, numa
violação clara do direito internacional, e provocou uma Guerra que já causou
milhares de mortos e centenas de milhares de refugiados? Também não.
Estas comparações mostram que
a principal razão das manifestações contra Israel não é a morte de civis. Na
Síria e na Ucrânia também morrem inocentes, velhos e crianças. Não é apenas em
Gaza. Se se manifestassem a favor das vítimas sírias e russas, poderíamos levar
a sério as suas intenções humanitárias em relação à Palestina. Mas ninguém
acredita nas preocupações humanitárias de manifestantes com dois pesos e duas
medidas.
Alguns sugerem assim que a
causa desta prontidão para atacar Israel seria a ignorância sobre o que se
passa na região, sobre a verdadeira natureza do Hamas e sobre a história do
conflito desde 1947. Obviamente que não é essa a causa. Há muita ignorância,
mas os líderes políticos dos manifestantes conhecem a história e sabem muito
bem como é o Hamas. Aliás, muitos deles – líderes de pequenos partidos
políticos da esquerda totalitária – entendem perfeitamente a natureza do Hamas.
E mesmo que não conheçam devidamente a história do conflito entre Israel e os
seus vizinhos árabes, também não estão interessados. Regressar ao passado ou
tentar educá-los não passa de uma perda de tempo.
O anti-semitismo é outra das
sugestões habituais para explicar as posições anti-Israel. Estou certo que será
um factor relevante, mas estou igualmente convencido de que não é a principal
causa. Há uma disposição para se juntarem, pontualmente, a movimentos
anti-semitas e para beneficiarem eleitoralmente das posições anti-Israel,
procurando captar votos entre sectores islâmicos – evidente sobretudo em França
e no Reino Unido. Mas o anti-semitismo não faz parte da cultura histórica da
esquerda totalitária. Eles sabem muito bem de onde vieram Marx, Trotsky, Rosa
do Luxemburgo e outros dos seus heróis.
A principal razão, julgo eu,
será ainda mais profunda que o anti-semitismo. A esquerda totalitária,
representada em Portugal pelo Partido Comunista e pelo Bloco de Esquerda,
organiza manifestações contra Israel porque é profundamente anti-Ocidental; e
Israel é um alvo fácil para atacar o Ocidente. A estratégia da esquerda
totalitária visa diabolizar os valores e as instituições da ordem política e
económica ocidental. Ataca o capitalismo, os mercados, o sistema financeiro, o
poder norte americano, as ideias liberais, e no meio disto Israel. Quando
alguns apontam aos manifestantes anti-Israel que o país respeita direitos
humanos fundamentais como a igualdade entre géneros, a liberdade de imprensa,
os direitos das minorias sexuais, falham o alvo. Os anti-israelitas sabem isso
muito bem, e é também por isso que atacam Israel. Precisam de convencer que um
país onde se respeita os valores ocidentais leva a cabo operações militares
para matar “civis indefesos.” E conhecem muito bem a táctica do Hamas, que
consiste em colocar os seus combatentes e as suas armas em hospitais e escolas
para forçar Israel a matar civis. A população de Gaza está refém de uma
estratégia terrorista e suicida dos seus líderes. Essa é a verdadeira tragédia
do povo palestiniano. A esquerda totalitária europeia sabe isso muito bem e
comporta-se como cúmplice do Hamas.
As razões que explicam os
ataques a Israel são as mesmas que levam os dirigentes da esquerda totalitária
a atacar os Estados Unidos, a União Europeia, o Euro, a NATO, a economia de
mercado e a democracia pluralista, quando rejeitam a legitimidade eleitoral
substituindo-a pelos protestos de rua. Eles odeiam os valores ocidentais e, tal
como as seus antecessores da primeira metade do século XX, que se aliaram ao
fascismo e ao nazismo quando lhes interessou, aliam-se agora ao radicalismo
Islâmico. Para eles, tudo é preferível ao Ocidente. O que é extraordinário é a
complacência existente nas nossas sociedades em relação a forças políticas que
continuam, no essencial, a ser totalitárias e revolucionárias.
Título e Texto: João Marques de Almeida, Observador,
15-08-2014
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