Príncipe Aga Khan terá
residência oficial no nosso país e investirá centenas de milhões de euros em
investigação científica e cooperação para o desenvolvimento
Patrícia Fonseca
Foi uma luta renhida mas, no
final, a diplomacia portuguesa venceu. O Canadá tentou convencer o príncipe Aga
Khan a escolher Ontário como sede mundial da comunidade ismaili mas será Lisboa
a "capital" dos 15 milhões desta minoria xiita que, sem um território
a que possam chamar seu, vivem um pouco por todo o mundo. Até hoje, existia uma
delegação central em Chantilly (Paris), que será transferida para território
nacional. A residência oficial do príncipe passará também a ser em Portugal,
onde vivem sete mil ismailis Khoja, ou seja, de matriz étnica indiana, com
raízes em Moçambique. É uma comunidade com elevado estatuto social e poder
económico, com importantes ligações ao mundo dos negócios - como a família
Sana, proprietária dos hotéis com o mesmo nome, e os irmãos Sacoor, fundadores
da multinacional de vestuário.
O acordo assinado na semana
passada entre o Estado português e o Imamat Ismaili trará para Portugal investimentos
de centenas de milhões de euros. A construção das novas instalações da sede e
da residência oficial do príncipe, bem como a deslocação das centenas de
funcionários que trabalham nas agências da Rede para o Desenvolvimento Aga Khan
(nas áreas da educação, cultura ou combate à pobreza) serão as obras mais
imediatas. Os maiores investimentos chegarão depois, em investigação científica
e Medicina, bem como na cooperação para o desenvolvimento - com países como
Moçambique a colherem também benefícios.
As intensas negociações
envolveram dezenas de pessoas em várias capitais mundiais, sob a liderança do
ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, e Nazim Ahmad, representante
da rede Aga Khan em Portugal. Para a escolha do nosso país contribuiu o facto de
ter sido o primeiro Estado não muçulmano a assinar acordos com o Imamat
Ismaili, primeiro em 2005 e depois em 2009, tendo por base a lei da Liberdade
Religiosa, reconhecendo-lhe um estatuto semelhante ao Vaticano, bem como o
facto de se sentirem aqui bem integrados.
Numa altura em que os
extremismos islâmicos conquistam terreno no mundo, a aproximação a uma
comunidade muçulmana que cultiva a tolerância e a paz foi vista, pelo governo
português, como uma aposta estratégica. Rui Machete considera que esta é
"uma ocasião histórica para Portugal" e destaca o "modelo de
participação cívica e de consciência social a todos os títulos notável"
dos ismailis. A investigadora de assuntos islâmicos Faranaz Keshavjee explica
que estes muçulmanos "vivem procurando a sua própria prosperidade mas
sempre com a premissa de valorizar a sua passagem pelo mundo, deixando algo
mais do que aquilo com que chegaram". A Rede Aga Khan é o polo
institucional a partir do qual atuam.
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