Vitor Cunha
Camus intuía existirem três soluções para o absurdo: suicídio, salto de fé ou a aceitação do absurdo. Há uns tempos andamos ocupados em providenciar uma saída institucional para a primeira opção através da eutanásia. Ainda não está completamente aprovada, mas há de estar, pelo que é como se já estivesse. Assim, podemos aceitar já esta resolução secular para a solução um do problema que consiste no estado providenciar significado para a nossa existência e, em simultâneo, significado para a sua alienação. Curiosamente, esta solução, a do suicídio por procuração, integra plenamente a necessidade do salto de fé da segunda opção, a de que outros podem decidir sobre as opções fundamentais de cada um como se uma resolução não implicasse responsabilidade e avaliação individual.
O salto de fé de Kierkegaard
pode ser providenciado com o veneno que escolher: socialismo, liberalismo (ateu
ou moderno), ou a sua síntese simbiótica em covidismo etc. Para algumas pessoas
basta a convicção de que são deusas por terem vagina; para outras basta a
convicção de que os seus sentimentos são avatar da construção moral coletiva;
para outros ainda, basta serem chamados de especialistas por uma televisão
qualquer.
Relutantemente, a par destas crenças pessoais intrametafísicas, ainda subsistem religiões que permitem a algumas comunidades um salto de fé em algo que transcende a “autoridade ética” (cof, cof) dos governos.
O Islão é uma delas e também providencia solução para a primeira hipótese, a da eutanásia involuntária de infiéis, pelo que, logicamente, poderia ser adotada como religião oficial do estado poupando angústia existencial desnecessária aos cidadãos inconformados.
A terceira via é aceitar o
absurdo. Aceitar o Facebook, o estado de emergência, a busca do R perdido, as
obrigações sociais da ciência na vertente pós-moderna de hipóteses tornadas
dogmas e dogmas tornados em premissas que invalidam qualquer formulação de uma
preposição lógica a ser testada. É a opção ir para a praia e viver para lá da COVID,
rindo na face dos coletivistas. É opção para já, pelo que não vejo outra
hipótese que não aproveitá-la enquanto se pode. Particularmente por se saber
que é a opção a ser retirada o mais brevemente possível, deve ser vivida em
pleno conhecimento de que a própria vida se tornará num pecado de hedonismo
perante o deus-estado.
Quando Camus concluiu que o
suicídio não era solução ainda não havia a COVID nem a síntese
socialismo-liberalismo. Pelo contrário, concluiu em época em que fervilhavam
ideologias passíveis de saltos de fé. Agora, na pós-verdade, em plena
pós-ideologia, talvez a conclusão fosse diferente.
NOTA ADICIONAL: Comentário
antecipado do Paulo Valente: “e se fosses cagar?”; Comentário antecipado do
Lopes: “tu queres é APARECER”. Assim fica já tratado.
Título e Texto: Vitor Cunha,
Blasfémias,
8-4-2021
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